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 | Priscila Forone/Gazeta do Povo
| Foto: Priscila Forone/Gazeta do Povo

A psicóloga Lidia Weber, pesquisadora da Universidade Federal do Paraná e autora de dez livros, entre eles, Eduque com Carinho: equilíbrio entre amor e limites, em entrevista à Gazeta do Povo, dá dicas de como educar filhos, sem usar violência, e dosando afeto, regras e limites. "Pais devem ensinar como o mundo funciona, portanto, muitas e muitas vezes vão dizer não, restringir, até que os filhos de fato entendam como é viver", aconselha.

Existe um modelo ideal para educar os filhos?

"Ideal" é sempre algo inatingível, perfeito. As relações humanas são dinâmicas, complexas e os comportamentos são influenciados por múltiplos fatores. Porém, de maneira geral, para fazer bem uma tarefa, o principal fator é estar envolvido, comprometido, imerso na situação. Assim é educar os filhos. O termo da ciência para essa situação é bonito: diz-se que para atingir o desenvolvimento global dos filhos, é preciso investimento parental.

É preciso entender a família como prioridade. Educar um filho exige algumas competências e disponibilidade de tempo. Se for impossível ajudar nas tarefas no dia-a-dia, existe o final de semana para ficar junto, para fazer atividades em conjunto, para conversar, enfim, para participar efetivamente da vida dos filhos. A mensagem que se deve passar é a disponibilidade psicológica e emocional, o afeto e as regras morais, que serão as lembranças que os filhos levam vida afora. Duas medidas são necessárias: primeiramente, raízes (regras consistentes, valores morais, afeto, orgulho) e asas (habilidades e autonomia para viver no mundo).

Por que a punição funcionou em outras épocas? Ela funcionou mesmo?

A punição corporal é milenar e muitas vezes recomendada em nome de falta de conhecimento, informações confusas e modelos inadequados recebidos da geração anterior. Sob o aspecto da infância, bater como modo de educar veio de um tempo em que a criança não era valorizada e era considerada um ser inferior e imperfeito. Ainda hoje as pessoas acham que disciplinar é sinônimo de punir. Não é. Disciplinar vem de discípulo, é educar, mostrar o modelo, ensinar. Em outras épocas a sociedade era autoritária, os direitos humanos nem sempre eram respeitados e usar a coerção para conseguir algo era comum. Antigamente o ideal dos pais era simplesmente que seus filhos fossem obedientes, bater realmente deixa uma criança submissa. Hoje queremos filhos fortes, que saibam viver no mundo e enfrentar as adversidades. A Psicologia já sabe há muito tempo que surras (e nem palmadas, de nenhum tipo) não funcionam para educar uma criança. Os pais batem e a criança pode até parar de fazer algo naquele momento, mas, além de serem moralmente indignas, junto com as palmadas, os pais também ensinam que a violência é boa para resolver problemas, humilham e trazem danos à autoestima e associam amor e dor, ou seja, quem ama tem o direito de machucar.

É certo ou errado dar muito afeto sem impor regras e limites para os filhos? Por quê?

Muito errado. Pais devem ensinar como o mundo funciona, portanto, muitas e muitas vezes vão dizer não, restringir, até que os filhos de fato entendam como é viver. Muitas vezes, os pais, por medo de não serem amados, atendem a todas as vontades de consumo dos filhos e acabam se tornando mais amigos do que pais e mães de fato e, então, cria-se a confusão dos papéis; perdem o papel principal dos pais de ensinar regras, limites, valores éticos, em troca de uma relação de somente 'amizade' em que quase tudo pode e perde-se o limite do respeito à palavra final dos pais. Assim, há um atropelo nos papéis e os pais deixam de criar os filhos estabelecendo regras e limites por medo de perder a admiração dos filhos. Pais podem, devem ter amizade com os filhos, mas antes de tudo devem ser pais. Muitas vezes os filhos ficam zangados com seus pais, isso faz parte, mas eles aprendem que os pais se importam com eles.

Não é verdade que adolescentes como esses que foram entrevistados, desejem uma vida sem limites; os dados mostraram o oposto: 49% dos adolescentes cujos pais apresentam poucos limites concordam com a forma de educação recebida enquanto 84% dos adolescentes cujos pais apresentam alto nível de limites concordam com a educação recebida!

Que conclusões podem ser retiradas da pesquisa feita pela UFPR com os 1.485 adolescentes curitibanos?

É uma amostra bastante grande e que permitiu verificar diversas relações entre o comportamento de educar dos pais e os reflexos no comportamento dos filhos. Aquela máxima de que a maçã não cai longe da árvore é verdadeira. Embora diante de perguntas delicadas como uso de drogas e comportamento violento os adolescentes tendam a responder abaixo do que realmente ocorre, apesar de a pesquisa ter sido anônima, os resultados mostram clareza na relação de comportamentos antissociais e pais omissos. Ao comparar níveis socioeconômicos diferentes a pesquisa revela que é possível um bom modelo de educação em qualquer situação social, pois depende de investimento parental e não material.

Embora os pais possam agir de modos diferentes às vezes, as pesquisas mostram que esse "jeito de ser" mais comandante ou omisso, segue um padrão, e pai e mãe podem ser diferentes. Esse padrão exerce forte influência sobre o adolescente e, mesmo depois. Como os pais agiram durante a infância e continuam agindo têm forte influência. Além de os pais terem certa tolerância para com esta fase da vida cheia de insegurança e mudanças intensas e bruscas, e as palavras-chave são: monitoria e supervisão e afeto: saber onde seu filho está, com quem está e o que está fazendo, e desenvolver um clima de confiança em que os pais participem da vida do filho adolescente, favoreçam interações sociais, convidem os amigos para vir em casa. O adolescente ainda tem muito a aprender e, paradoxalmente, precisa desenvolver sua autonomia, identidade e independência. Os pais não se devem deixar estressar por pequenas bobagens, como se usa o cabelo comprido ou curto, se está com o tênis velho no aniversário da vovó, mas cuidar de valores morais, de confiança, apoio e fortalecimento da autoestima. A pessoa que se valoriza e que tem certeza que é capaz de realizações, dificilmente se envolverá com drogas ou comportamento antissociais.

O que será debatido no I Simpósio de Família e Desenvolvimento Humano da UFPR?

É uma parceria do Núcleo de Análise do Comportamento, da Sociedade Paranaense de Pediatria e da Universidade de Brasília. Vamos discutir diferentes aspectos da família e do desenvolvimento, tais como: adolescência, Terapia Conjugal, Filhos com necessidades especiais, bullying, crianças com altas habilidades, uso de drogas, problemas de desenvolvimento etc. Teremos convidados nacionais e um convidado do Canadá, Johnathan Santo, especialista em violência entre adolescentes.

Serviço

Lídia Weber é uma das organizadoras do 1º Simpósio Brasileiro de Família e Desenvolvimento Humano, que ocorre de 19 a 21 de março, no Câmpus Jardim Botânico da UFPR, em Curitiba. O evento vai reunir pesquisadores e profissionais renomados para discutir a relação entre pais e filhos.

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