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A menina N. tem três anos e meio e um destino incerto. Está há dois meses em local ignorado pela Justiça, que vai decidir seu futuro. Abandonada pela mãe aos 30 dias de vida, ela é alvo de uma disputa judicial entre a avó, Ilza Mara Jeneski, e o casal que a mantém escondida até sair o resultado do pedido de adoção. A reportagem da Gazeta do Povo encontrou a menina e o casal que briga na Justiça para ter reconhecido o papel que diz desempenhar praticamente desde que N. nasceu.

A técnica contábil Alice Chamulera e o bancário aposentado João Carlos Job receberam a reportagem com a condição de não ter o paradeiro revelado. Eles quiseram se manifestar depois que a Gazeta do Povo publicou a versão da avó, em 31 de outubro, logo depois que ela denunciou o suposto desaparecimento da menina no Movimento Nacional em Defesa da Criança Desaparecida (Cridespar).

João e Alice sabem que no momento em que forem intimados pelo oficial de Justiça, passará a valer a guarda concedida à avó pela 4.ª Vara da Família de Curitiba. Por isso, permanecem em local ignorado até sair o resultado da adoção, pedida na 2.ª Vara da Infância e Juventude, ou do julgamento do recurso para suspender a liminar de Ilza.

Os dois conheceram Fátima, a mãe, ainda grávida, numa visita à casa de Ilza, de quem eram amigos. Só foram conhecer N. com 45 dias de vida. Eles estavam na sede da Associação em Defesa dos Vitimados pelo Trabalho (ADVT-PR), e logo no primeiro contato Ilza teria perguntado se João e Alice não queriam levar a menina. E foi o que fizeram, depois que constataram que a avó falava sério.

A criança ficou com o casal até julho. Em meados daquele mês, fizeram uma viagem a Aripuanã (MT) e, a mando da avó, que estava viajando, a criança ficou aos cuidados da esposa de um dos colegas da ADVT. N. não teria se adaptado, e Ilza teve de encurtar a viagem. Na volta, o casal ficou com a menina.

João lembra que em certa ocasião Ilza teria dito que N. seria deles "no papel" caso acontecesse alguma coisa a ela, já que os pais da criança não se entendiam. Aos 6 meses, N. faria a primeira de 19 viagens com o casal.

João teve o capricho de contar num calendário o tempo em que N. ficou com a avó. "Foram 29 dias, contando aqueles em que ela passava com vizinhas de Ilza", diz. Há três semanas, Ilza disse à Gazeta do Povo que seu erro foi tê-la deixado viajar um fim de semana com o casal. "O erro dela foi não ter ficado um fim de semana sequer com ela", retruca Alice.

Em maio de 2004, João matriculou N. numa escolinha, mas tiveram de tirá-la dois meses depois por imposição da avó, temerosa de que a menina a esquecesse. De acordo com o casal, Ilza também não deixava a menina ter contato com a mãe biológica, que na época fazia programas nas ruas.

Por causa da história de vida dos pais, N. teve de fazer três exames de sangue. Nas três ocasiões foram João e Alice que a levaram ao posto de saúde. Eles também providenciaram consultas em médicos particulares e a inscreveram em um serviço de UTI móvel. O casal diz que foi justamente por causa de situações de risco à saúde da menina que, no dia 24 de maio, entrou com pedido de guarda e adoção.

A gota d’água teria ocorrido no fim de fevereiro. A criança teria tido muita febre na casa da avó em Pontal do Paraná, para onde ela se mudou ao sair do bairro Xaxim, em Curitiba. Mesmo assim, Ilza não teria autorizado João a buscá-la. Só no dia seguinte, quando a menina estava ainda mais febril, com ataque convulsivo e perdendo os sentidos, é que o casal foi chamado às pressas.

Depois de uma longa procura, em março deste ano João e Alice encontraram os pais dela, André e Fátima, e dizem ter conseguido deles a assinatura num documento em que abrem mão do pátrio poder.

A juíza da 4.ª Vara da Família, Joeci Machado Camargo, porém, voltou a dizer nesta semana que o casal está em situação irregular com a menina. O prazo para devolvê-la à avó acabou no dia 27 de agosto. Procurada pela reportagem, Ilza não quis comentar a versão de João e Alice. Limitou-se a dizer que existe um mandado de busca e apreensão contra eles.

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