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``Foram significativos os avanços obtidos nas áreas de educação, saúde, saneamento e comunicações enquanto o Iguaçu existiu´´, Sérgio Lopes, professor do Centro de Ciências Sociais Aplicadas da Unioeste | Divulgação
``Foram significativos os avanços obtidos nas áreas de educação, saúde, saneamento e comunicações enquanto o Iguaçu existiu´´, Sérgio Lopes, professor do Centro de Ciências Sociais Aplicadas da Unioeste| Foto: Divulgação

Gazeta lutou pela integridade

A atuação do doutor Francisco Cunha Pereira Filho foi decisiva na manutenção da integridade territorial do Paraná no início da década de 90, quando a volta do Território do Iguaçu entrou na pauta do Congresso Nacional. De um lado estavam os deputados David Cherlegatte, Jacy Scanagatta e Edi Silliprandi, defensores da proposta. Contra ela, Luiz Carlos Hauly, Max Rosenmann, Basílio Villani e Reinhold Stephanes. Cunha Pereira chegou a tomar um avião para Brasília para falar com a bancada paranaense. Em 31 de março de 1993, a recriação do Iguaçu foi derrotada por 178 votos a 91, com 13 abstenções.

Da Redação

Movimento "separatista" já não tem sentido hoje

Com a reincorporação ao Pa­­raná e a Santa Catarina, a região do antigo território voltou a se queixar de abandono. O fato de nunca ter sido realizado um plebiscito para decidir o destino da área foi o mote para o surgimento de um mo­­vimento autonomista, que hoje, na opinião do pro­­fessor Sérgio Lo­­­pes, da Unioeste, não faz mais sentido.

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Primeiro território foi o Acre

O Iguaçu não foi o primeiro território federal brasileiro. Essa primazia coube ao Acre, estabelecido em 1904, em decorrência do Tratado de Petrópolis, assinado no ano anterior. Pelo acordo, a Bolívia cedeu o Acre em troca de parte da área do estado de Mato Grosso, da construção da estrada de ferro Madeira-Mamoré e do pagamento de 2 milhões de libras esterlinas.

Os demais territórios foram criados durante a Segunda Guerra Mundial. Embora o regime do Estado Novo tivesse nítida inspiração nas ditaduras dos países do Eixo, o Brasil entrou na guerra ao lado dos Aliados. Naquele momento, o governo Vargas julgou estratégico administrar diretamente algumas regiões de fronteira. Foram então criados os territórios do Amapá, Rio Branco, Guaporé, Iguaçu, Ponta-Porã (desmembrado de Mato Grosso) e Fernando de Noronha. Os três últimos acabaram extintos; Guaporé virou Rondônia e Rio Branco virou Roraima – ambos, com o Amapá, se tornaram estados na década de 80. (AS)

  • Nomeado pelo general Eurico Gaspar Dutra, primeiro presidente após a redemocratização, o major Frederico Trotta toma posse do governo do território em março de 1946
  • Primeira turma de professores formada no Curso Normal Regional do território federal do Iguaçu, em 1946. Fechada no ano seguinte, a escola foi reaberta em 1948 e hoje é o Colégio Estadual Floriano Peixoto, em Laranjeiras do Sul
  • Ao lado da primeira-dama e diretora da Divisão de Educação, Laudímia Trotta, o governador Trotta chega com sua equipe de governo para assumir a administração do Iguaçu
  • Confira os territórios formados por Vargas no PR e SC

Há 66 anos, o Paraná e Santa Catarina perderam parte de seus territórios, mas por pouco tempo. Durante três anos e cinco dias, de 13 de setembro de 1943 a 18 de setembro de 1943, a área que corresponde aproximadamente às regiões Oeste e Sudoeste do Paraná e o Oeste de Santa Catarina passou a ser administrada diretamente pela União, constituindo o território federal do Iguaçu – um dos seis criados pelo governo Vargas du­­ran­­te a Segunda Guerra Mundial.

A nova divisão administrativa era formada por cinco municípios – Foz do Iguaçu, Clevelândia, Mangueirinha, Chapecó e a capital, Iguaçu (atual Laranjeiras do Sul), ex-distrito que foi desmembrado de Guarapuava. A experiência se tornou embrião de um movimento pela autonomia da região, que nunca prosperou. O território ocupava uma área de 65.854 quilômetros quadrados, dos quais 51.452 km² saíram do estado do Paraná e os outros 14.402 km², de Santa Catarina. Segundo o censo de 1940, a área que viria a compor o Iguaçu tinha 96.854 habitantes, 90,34% deles residentes na zona rural, 6,71% no perímetro urbano e 2,95% em área suburbana.

"A criação dos territórios federais fazia parte do grande projeto de nacionalização que o governo federal queria implantar no país naquele momento", explica o professor Sérgio Lopes, do Centro de Ciências Sociais Aplicadas da Universidade Estadual do Oeste do Paraná (Unioeste) e autor de uma dissertação de mestrado sobre o tema. "Dentro desse espírito, a ‘marcha para oeste’ deveria atender à urgente necessidade de estabelecer e desenvolver, rápida e racionalmente, as condições mínimas de nacionalização, de organização social, econômica e de segurança das regiões de fronteira, de integrá-las sob todos esses aspectos com o restante do país", conta. Co­­mo os estados, mesmo sob intervenção do governo federal, não teriam recursos para ocupar a área de fronteira, a União assumiu a tarefa.

Desenvolvimento

A partir da instalação da autoridade local, o governo federal deu início a uma série de atividades, levando sempre em consideração a meta de resolver "o tríplice problema nacional: educação, saúde e comunicações". Foram construídas casas, estradas, escolas e bibliotecas. Foi criado o Curso Normal Regional, para preparar professores. Com as medidas para facilitar a colonização e a ocupação produtiva da terra, houve incremento significativo no afluxo de migrantes para a região. O governo do território também deu impulso às atividades comerciais.

O Poder Judiciário instalou a Comarca de Iguaçu e o território ganhou o 1.º Batalhão de Fronteira. Os primeiros efeitos foram percebidos em Iguaçu, mas foram sentidos também em Foz e Chapecó. "Muitas atividades estavam em plena execução quando da extinção do território, por exemplo a construção de estradas e escolas", observa Sérgio Lopes. "Dos dados de que se dispõe, constatados no Relatório de Atividades de 1946, pode-se observar que, comparativamente ao que existia antes da criação do território, foram significativos os avanços obtidos nas áreas de educação, saúde, saneamento e comunicações enquanto o Iguaçu existiu", acrescenta.

Retomada

A criação do território, porém, acabou causando descontentamento nos estados que perderam parte de suas áreas. Na As­­sembleia Constituinte que elaborou a Cons­­tituição de 1946, de­­putados paranaenses, catarinenses e mato-grossenses con­­se­­gui­­ram aprovar a extinção dos ter­­ritórios. "Essa proposta de emenda recebeu a assinatura de 119 constituintes, incluindo toda a bancada do Paraná. Ela foi apre­­sentada pelo deputado [Bento] Munhoz da Rocha [Neto], do Partido Republicano", conta o professor.

Para a população local, no entanto, a extinção do Iguaçu teve aspectos negativos. Filha da dona de uma pensão na cidade de Iguaçu, Rita Geni de Paula Sathler, 79 anos, tinha 16 na época da criação do Iguaçu e acompanhou todas as transformações do período. "Não tinha estrada e as mercadorias eram trazidas de Curitiba em lombo de mula", lembra. "O território trouxe muitas facilidades à região. Todos os problemas eram resolvidos aqui. Depois que acabou, tudo passou a ser decidido em Guarapuava e Curitiba", reclama. Dona Geni, como é conhecida, foi personagem do documentário Território Federal do Iguaçu, produzido por alunos do Colégio Estadual Professor Gildo Aluísio Schuck­pela, de Laranjeiras do Sul, sob coordenação da professora Elizete Lírio Biesek.

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