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Zilda Arns, fundadora da mais representantiva organização não-g0vernamental de combate à mortalidade infantil, a Pastoral da Criança, é direta ao falar sobre as virtudes do seu trabalho. Segundo ela, as prefeituras que atuam em parceria com a Pastoral só ganham com a dedicação das cerca de 30 mil voluntárias no Paraná. "Batemos de porta em porta atrás das gestantes", explica. Sobre os índices de mortalidade no estado, ela conversou com a reportagem da Gazeta do Povo.

Como a senhora avalia os índices de mortalidade infantil no Paraná?Posso falar dos índices acompanhados pela Pastoral da Criança. O Paraná tem uma mortalidade infantil verificada em 2006 de 11 óbitos por mil nascidos vivos. O Rio Grande do Sul teve 8,1 e Santa Catarina 9,3 por mil. Em nível nacional a média é de 12,8 por mil nascidos vivos. O Paraná está abaixo da média nacional, mas está acima dos vizinhos do Sul.

Tem ocorrido uma diminuição destes índices?Sim. Nos últimos três anos, esse índice ficou na casa dos 15 por mil, mas no ano passado caiu para 11.

A Pastoral marca presença na lista dos cinco municípios com os piores indicadores do estado?Sim. Em Barra do Jacaré, das crianças acompanhadas por nós, nenhuma morreu. Em Campina Grande do Sul (uma das cidades da região metropolitana de Curitiba com maior índice de mortalidade) registramos apenas uma morte. Mas a desnutrição está muito alta. É de 15,7% quando a média nacional é de 3%. Tem bolsões de miséria lá e a prefeitura tem de dar atenção.

Em Alto Piquiri a Pastoral foi desativada?Ela está funcionando. Ficou desativada por um tempo por problemas internos. Em Barra do Jacaré só não ajudamos mais por conta de problemas com a administração municipal. Há municípios em que atendemos 100% das crianças pobres. São municípios que ajudam. Nem tanto em dinheiro, mas em capacitação, por exemplo. Precisamos levar livros, balanças e aí as prefeituras vão lá e garantem o carro. Entram com a merenda no Dia do Peso. Nessas cidades o sistema de saúde é mais ágil e a parceria programática garante bons resultados. Em alguns municípios, infelizmente, isso não ocorre.

Essa concentração de altos índice de mortalidade em municípios pequenos se explica. As cidades maiores estão com a mortalidade controlada?No interior é mais fácil trabalhar do que nas metrópoles. Nas grande cidades, é mais difícil, a mobilidade é maior, as pessoas se mudam mais. Vão de uma favela para outra. O que ocorre nas cidades grandes é que mudam muito os índices de bairro para bairro. A média pode ser boa, mas você pode ter bairros muito ruins.

As prefeituras afirmam que a gravidez na adolescência é um grande problema. Que mães muito novas, com uma família desestruturada negligenciam os exames pré-natais...Quem quer fazer um bom combate à mortalidade não espera a menina vir. Vai atrás. Esse é um fator. Acompanhar desde cedo. O outro é prestar bons serviços. Um bom pré-natal e um bom parto, além é claro da questão educacional. Temos gráficos que mostram que a mortalidade infantil é inversamente proporcional à escolaridade das mães. Por isso é importante investir em educação também. Uma mãe analfabeta corre muito mais riscos do que uma que tenha uma boa educação. Educação faz diferença.

O trabalho da Pastoral também faz. Fazer com que a Pastoral tenha abrangência no município só facilita a vida dos prefeitos. Têm prefeitos que não querem e outros que não percebem que o terceiro setor é uma alavanca enorme para reduzir a mortalidade.

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