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A hora do recreio na Escola Estadual Ângelo Trevisan não é para amadores. Basta fazer as contas. São 160 crianças do turno da tarde, mais o cachorro Pretinho, divididos por míseros 200 metros quadrados de pátio. Só não vira um deus-nos-acuda porque de repente alguém solta o gogó: "Quem estiver me ouvindo bate palmas duas vezes". A voz é de Cidmara Gabriel, professora com nada menos do que 29 anos de Ângelo Trevisan. As primeiras palmas pipocam. Cid pergunta de novo. Mais palmas. Vai baixando a voz, baixando. Até que o intervalo da tarde acaba em aplausos no colégio do Cascatinha.

Em resumo, a Ângelo vista de dentro é tão irresistível quanto de fora. A fama de bom grupo escolar, como se dizia, é antiga, mas esteve a perigo depois da implantação do ciclo básico, no final da década de 80. "Os professores se deram conta de que algumas crianças estavam chegando à quarta série sem saber ler", lembra a coordenadora pedagógica Maria Gorete Paula. Foi o princípio da revolução. Dali em diante, os aproximados 1.300 metros quadrados da construção foram tocados por um desejo muito simples – acertar.

Ao chegar à direção, a historiadora Antônia Maria Dezan Lobato teve de sapatear muito até fazer vingar sua dinâmica de trabalho. Hoje, a escola sustenta 14 programas, como microfone no recreio, hora da tabuada, ex-alunos voluntários, estatutos discutidos pelos estudantes. Os 25 funcionários da casa se comprometeram a tornar possível pelo menos uma novidade por dia. Talvez esteja aí o segredo da Ângelo Trevisan. Fosse só lei e ordem, pouca coisa teria mudado e a graça da escola não passaria do "boa tarde!" em coro que os alunos dão quando um estranho entra na sala.

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