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“Psiquiatra era coisa de louco”, brinca o médico Marcelo Kimati, ao lembrar o esforço em mudar mentalidade da população quanto a esse ramo da saúde. Passos largos foram dados nos últimos anos, com a aproximação dos profissionais da atenção básica e os da especializada, de modo a romper essas fronteiras. O acesso à psiquiatria tem ganhos imediatos – desmistifica que a drogadição só é problemas em casos extremos tanto quanto questiona a banalização dos usos de medicamentos – “um boom que experimentamos desde os anos 1990”. Leia trechos da entrevista.

Quem vai pagar a “conta” da descriminalização das drogas?

Sobram indícios de que o uso de entorpecentes causa impactos em todas as camadas do sistema público de saúde

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Faz algum sentido relacionar a descriminalização do porte de pequenas quantias de drogas e o aumento de casos de transtorno mental no sistema público de saúde?

Do ponto de vista epidemiológico, não temos como afirmar que a regulamentação vai aumentar o uso de droga. Mas, digamos que sim, a preocupação faz algum sentido. Se cria um impacto na vida da pessoa, cria um impacto na saúde pública. Os usuários são mais propensos a doenças infecciosas, por exemplo.

A depender do tipo de droga e do uso, o dependente está sujeito ao empobrecimento. Temos de pensar em grupos mais vulneráveis, como moradores de rua, indígenas, migrantes... Existe, por exemplo, prevalência de maconha entre os secundaristas e esse uso está associado com o abandono escolar.

No mais, alguém que faça uso de maconha todos os dias tem, sim, transtorno de atenção, de humor, problema de concentração, de memória recente. Prejudica o cotidiano. Muitas vezes a escolha da droga está ligada ao acesso. Eu diria que a grande porta de entrada é o álcool, por ser a mais fácil de utilizar.

É correto dizer que boa parte da população tem algum sofrimento mental?

Sim. E esse sofrimento pode estar relacionado, inclusive, à diabetes e à hipertensão. Existe um altíssimo grau de sofrimento mental na sociedade, o que causa um impacto enorme, a exemplo do desenvolvimento de doenças autoimunes. Mas existe uma diferença entre “sofrimento psíquico” e “diagnóstico psiquiátrico”. Não dá para afirmar é que boa parte da população tem algum tipo de problema psiquiátrico passível de ser tratado com remédios.

É um erro pensar que insônia, irritabilidade, déficit de atenção e diminuição da libido como problemas relacionados à depressão e, logo, à necessidade de tomar um antidepressivo. Toda doença mental implica um grau de sofrimento, mas nem todo sofrimento é doença. Estamos vivendo uma crise financeira. Uma série de indicadores mostram que a vida está mais difícil. Tem uma pá de gente sofrendo mais, mas isso não quer dizer que vamos sair receitando fluoxetina para a sociedade.

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