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Escombros da igreja matriz, destruída pelas chuvas, serão palco de missas e da encenação da Paixão de Cristo | José Patrício/AE
Escombros da igreja matriz, destruída pelas chuvas, serão palco de missas e da encenação da Paixão de Cristo| Foto: José Patrício/AE

São Luís do Paraitinga, SP - O caipira Pôncio Pilatos, interpretado pelo contador de histórias Ditão Virgilio, especializado em sacis, anuncia sobre o coreto da Praça da Matriz, em São Luís do Paraitinga, a chegada do império da congada, do moçambique e do maracatu. São 21 horas de quarta-feira. Começam os ensaios para a retomada do calendário cultural da cidade, três meses depois das enchentes que quase tiraram Paraitinga do mapa.

Na frente dos escombros da igreja matriz, que desabou em janeiro durante as chuvas, um grupo de 30 pessoas trabalha para representar a Paixão de Cristo na Sexta-Feira Santa, com 150 figurantes, evento que pretende mostrar que São Luís do Paraitinga já se reergueu e está pronta para receber turistas. "Queremos mergulhar na nossa identidade cultural", diz o diretor de Turismo do município, Eduardo de Oliveira Coelho. "A tragédia nos mostrou que por isso somos tão queridos."

Franzino, o poeta e músico de modas de viola Marcelo Overá, que também toca na banda Tarancón, vai interpretar Jesus. Durante os ensaios, um homem solta na plateia que será preciso fabricar uma cruz de bambu para o Cristo magricelo aguentar o peso. Ditão, o Pôncio Pilatos com chapéu de palha, desce do palco para explicar à reportagem que Saci-Pererê até podia ser levado, mas não era malvado, recitando versos de cordel. "Saci era defensor da natureza. Somos a cidade com a maior quantidade de sacis no mundo", diz.

Na frente das ruínas de um casarão de 1824, que também desabou durante as cheias, vai ocorrer a crucificação. Era um dos prédios mais antigos da cidade, propriedade da família de Antônio Ebran Júnior, diretor da Paixão de Cristo, que já tentava retomar a encenação em Paraitinga havia oito anos. A enchente levou as autoridades a cederem.

Foi de Ebran a ideia de misturar a saga religiosa com hits musicais das missas católicas e ritmos da cultura local, tocados ao vivo. "Nossa tradição mistura o sagrado e o profano", explica. No ensaio, entre outras tarefas, o diretor precisa conter os ímpetos de Dhanija, de 5 anos, filha de "Jesus", que tenta impedir os romanos de chicotearem o pai.

Ressurreição

Ensaios à noite. De manhã, a partir das 7 horas, sons de marreta, furadeira, caminhão, homens pintando fachadas e pedreiros fazendo reboque nas paredes. A festeira São Luís do Paraitinga está ansiosa para o recomeço e a volta dos turistas. Duas das três entradas da cidade estão fechadas, o que pode assustar. Basta pegar a rota alternativa. Cerca de 80% do comércio reabriu. No feriado, mil leitos em pousadas e hotéis e 2 mil refeições diárias nos restaurantes aguardam os visitantes.

Além da Paixão de Cristo, com congada, moçambique e maracatu, haverá a tradicional procissão do Senhor Morto, novenas, a Malhação de Judas, com cortejo do Bloco Pé na Cova, orquestra sinfônica e coro da Universidade de São Paulo. A cidade também recebe uma etapa da Haka Expedition, competição com as melhores equipes nacionais de esporte radical. Mas o ponto alto do feriado serão as missas, rezadas no meio dos escombros da igreja.

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