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Sergio Silveira e sua esposa Gerli: demora dos ônibus que ligam a Fazenda Rio Grande à capital | Ivonaldo Alaxandre/ Gazeta do Povo
Sergio Silveira e sua esposa Gerli: demora dos ônibus que ligam a Fazenda Rio Grande à capital| Foto: Ivonaldo Alaxandre/ Gazeta do Povo

Estrutura

Dependência econômica sobrecarrega sistema de transporte

O tempo de deslocamento entre as cidades que compõem a Região Metropolitana de Curitiba poderia ser menor caso o sistema não estivesse sobrecarregado em horários de pico. De acordo com o Censo Demográfico do IBGE, 40% da população dos nove municípios que fazem fronteira com Curitiba trabalham longe da cidade onde escolheram morar.

"A excessiva dependência desses municípios em relação à capital ajudam a tornar o sistema deficiente. Em boa parte das cidades há poucas vagas de emprego", argumenta Fábio Duarte, professor do doutorado em Gestão Urbana pela PUCPR.

À época do levantamento do IBGE, a população ativa nas nove cidades lindeiras à capital era de 563.870. Desse total, 225.981 tra­­balhavam em outro municí­­pio.­­­­ Almirante Tamandaré, Cam­­­­po Magro e Fazenda Rio Gran­­­­de lideravam esse ranking com­­ mais de 50% da população nessa condição. "Curitiba é­­ um modelo para o país, porém­­ o Vale do Ribeira tem um dos pio­­res índices de desenvol­­vi­­­­men­­to humano do estado. Es­­sa distância tem de diminuir", diz Rui Hara, coordenador da Coordenação da Região Me­­tropolitana de Curitiba (Comec). (RM)

Alternativa

Integração temporal pode ser solução, dizem especialistas

A integração temporal, com cartão inteligente, é uma das soluções para resolver as idas e vindas no sistema integrado do transporte curitibano. "Muita gente precisa pegar linhas só para ir ao terminal fazer a integração, em trechos onde ninguém sobe ou desce. Isso aumenta o tempo de viagem", diz Fábio Duarte, professor do doutorado em Gestão Urbana pela PUCPR.

Opinião semelhante tem Garrone Reck, mestre em Engenharia de Transportes pela UFPR. "A rede de transportes não é totalmente integrada e a grande massa usa até três ônibus, aumentando o tempo de viagem. Poderia existir também a integração temporal", diz ele.

Em São Paulo, pagando apenas R$ 3, o passageiro tem o direito a embarcar em até três linhas de ônibus diferentes em um intervalo de três horas. Além disso, ao fazer a conexão no sistema metroviário, o usuário paga apenas metade do valor do segundo modal.

A Coordenação da Região Metropolitana de Curitiba disse já estudar a integração temporal, mas as análises ainda são embrionárias. "Há dificuldades em conciliar opiniões de prefeitos e concessionárias", disse Rui Hara, coordenador do órgão. (RM)

Carros particulares

Fora do horário de pico, de São José dos Pinhais a Curitiba leva-se 14 minutos de carro, trajeto que na hora do rush sobe para mais de uma hora. Em muitas cidades da Região Metropolitana o acesso à capital se dá por apenas uma via. Rodovia dos Minérios e Avenida das Torres, que ligam Almirante Tamandaré e São José dos Pinhais à capital, recebem 54 mil veículos por dia.

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Vias congestionadas, integração incompleta e ônibus cheios. Essas três situações – muitas das vezes juntas –, estão presentes na vida de um em cada cinco moradores dos nove municípios da Região Metropolitana de Curitiba. O resultado dessa via-crúcis é a perda de tempo e qualidade de vida: 85.023 habitantes dessas cidades – 19% dos entrevistados – disseram ao Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) que levam mais de uma hora no deslocamento de casa para o trabalho.

No total, 453.559 moradores de Almirante Tamandaré, Araucária, Campo Largo, Cam­­po Magro, Colombo, Fazenda Rio Grande, Pinhais, Piraquara e São José dos Pinhais responderam à pergunta: "quanto tempo você gasta no trajeto até o trabalho?". Os dados são do Censo Demográfico de 2010, mas foram divulgados apenas no fim de abril. Segundo especialistas, o tempo excessivo dentro do transporte está diretamente ligado à dependência econômica dessas cidades à Curitiba.

Sérgio Silveira Pires, 41 anos, está nessa lista. Ele mora em Fazenda Rio Grande e começa seu deslocamento em direção ao trabalho às 5h15, ao embarcar na primeira das quatro linhas que o levará à Curitiba. Entre ida e volta, o pintor gasta quatro horas diárias dentro do transporte público e, por isso, fica 14 horas por dia longe da família. "Não tem como mudar isso, porque os ganhos na capital são maiores", diz o pintor.

Situação semelhante vive a representante comercial Zenilda Lopes, 36, que mora em Fazenda Rio Grande e trabalha em Curitiba desde os 13 anos. Ela diz gastar 2h30 por dia no trajeto, mas neste ano pretende abandonar de vez o transporte público. "Vou tirar minha CNH e, se Deus quiser, comprar um carro", diz ela, que espera pela duplicação de 25,4 km da BR-116, único acesso ao município, cujas obras devem ser concluídas em abril de 2013.

Tarifa dobrada

Porém, não apenas os mo­­radores de Fazenda Rio Grande padecem dessas dificuldades. Morador de Campo Largo, José Moacir Neckel de Almeida, 33, trabalha na Cidade Industrial, em Curitiba, mas prefere passar por dentro de Araucária e pagar dobrado pelo trajeto para tentar encurtar o tempo de deslocamento. "Faço isso pela minha mulher, que trabalha em Colombo. Se eu viesse morar em Curitiba, ela é quem sofreria", argumenta o controlador de logística. Caso Almeida fizesse o trajeto de forma direta, teria de realizar mais integrações e o tempo de deslocamento passaria de uma hora e meia para quase três horas.

E é justamente a falta de um estudo para inte­­gra­­ção mais inteligente na RMC que é criticada por Gar­­rone Reck, mestre em Engenharia de Transportes pela Universidade Federal do Paraná (UFPR). "Não temos um estudo de demanda, que poderia eliminar essas integrações negativas, transversais, que só tomam tempo e conforto do passageiro", argumenta o especialista.

De acordo com a Urba­ni­­zação Curitiba (URBS), órgão da prefeitura da capital, 73% dos moradores da região metropolitana têm acesso à Rede Integrada de Transporte (RIT). No total, 105 linhas de ônibus fazem parte dessa teia e 76 ainda não foram incorporadas. Por dia, diz o órgão, 26% dos passageiros ainda não usam o sistema integrado –ou 160 mil pessoas. A integração completa do transporte público da RMC, porém, ainda depende de estudos financeiros.

Boa parte do investimento ainda é federal

A integração dos municípios ­­da RMC é responsabilidade da Coordenação da Região Metropolitana de Curitiba (Comec). Rui Kiyoshi Hara, coor­­denador do órgão, cita que os grandes gargalos hoje são a quantidade de carros na rua e a carência de vias alternativas.

Mas a pouca participação estadual nas obras também é preocupante: os grandes investimentos atuais para integração da região metropolitana estão sendo realizados por meio do Programa de Aceleramento do Crescimento Mobilidade Urbana, do governo federal. No total, serão investidos R$ 241 milhões em cinco obras viárias e na implantação do Sistema Integrado de Monitoramento Metropolitano (SIMM). A contrapartida do estado é de 5% desse valor, mais os custos com desapropriações. As obras principais são os corredores Aeroporto Rodoferroviária e Av. Marechal Floriano Peixoto e o corredor metropolitano, com 79 quilômetros Colombo a Araucária.

Prefeituras

As nove prefeituras que administram os municípios vizinhos à Curitiba disseram investir em melhorias para diminuir o tempo de deslocamento dos seus habitantes em direção ao trabalho. A administração de Almirante Tamandaré disse investir R$ 37 milhões em pavimentação, mas cobrou a duplicação da Rodovia dos Minérios, a PR-092. Colombo também disse cobrar e acompanhar as obras na Rodovia da Uva, que estão paradas. As prefeituras de Pinhais e Piraquara cobram a revitalização e duplicação da rodovia estadual Leopoldo Jacomel.

A prefeitura de São José dos Pinhais ressaltou a parceria com o governo do Paraná, para a realização de obras viárias na Avenida das Américas. Segundo a prefeitura, serão investidos R$ 26 milhões na obra, que deve começar na segunda quinzena de julho. A administração de Fazenda Rio Grande, por sua vez, comemorou o início das obras de duplicação da BR-116, que deve ser concluída em 2013. Campo Largo, Campo Magro e Araucária citaram investimentos em pavimentação, implantação de novas linhas de ônibus e terminais integrados.

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