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 | Alexandre Mazzo/ Gazeta do Povo
| Foto: Alexandre Mazzo/ Gazeta do Povo
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Soldado polonês em fuga

O exército da Polônia resistiu o quanto pode aos ataques alemães de 1939. Conseguiu lutar sozinho por duas semanas, até que os militares ingleses chegaram para dar apoio. Foi nesse intervalo de tempo que Eduardo Kondera, 97 anos, então soldado polonês, teve de fugir de Cracóvia para escapar da morte. "Soltaram uma bomba contra nós e eu corri muito. Peguei o primeiro caminhão que estava de saída", diz. Foi para a Hungria e chegou à França. "Lá atacamos os alemães isoladamente. Meu papel era confiscar todos os armamentos e alimentos dos nazistas", diz. Foi à Itália e chegou à Inglaterra. Além dos soldados, o governo polonês também migrou para a Inglaterra, durante a guerra, e lá se instalou provisoriamente. "Eu nunca tive que atirar contra um alemão, porque não estava no front. Mas vi muita gente ser morta."

Para se aprofundar

Certamente o tenente-coronel da SS, Adolf Eichmann, seria um dos homens que causaria mais medo à população que viveu durante a Segunda Guerra Mundial. Ele era responsável pela logística de extermínio das pessoas vítimas do nazismo. Foi preso, levado para Jerusalém e julgado pelo Tribunal de Nuremberg. Todos esperavam ver um monstro, mas ele se mostrou um funcionário medíocre que cumpria ordens. É sobre isso que Hannah Arendt se debruça no livro "Eichmann em Jerusalém". Ela mostra como é possível o Estado transformar o exercício da violência em mero cumprimento de metas.

O livro: "Eichmann em Jerusalém"

Páginas: 342

Preço sugerido: R$ 58,50

  • Nicolau tem hoje 94 anos e não gosta de falar da guerra. Tem medo dos alemães
  • Nicolau é ucraniano e também foi obrigado a fazer trabalhos forçados em uma mina de carvão
  • Nicolau sempre mostra as mãos durante a entrevista para comprovar que esteve numa mina de carvão. Tem até hoje marcas do carvão embaixo da pele
  • Nicolau veio ao Brasil e sua família se dispersou no final da guerra. Os contatos são poucos
  • Hoje Eduardo tem 97 anos e muita dificuldade de falar sobre a Segunda Guerra Mundial
  • Eduardo era soldado do exército polonês e teve de fugir quando o exército fora aniquilado
  • Eduardo lembra que foi com o apoio do exército inglês que eles conseguiram derrotar os alemães
  • Veja como era a chegada dos prisioneiros vindos de outros países

Uma pequena marca acinzentada no dedo indicador da mão direita remete Nicolau Kapko à lembrança do que foi o Holocausto. "É pó de carvão que entrou debaixo da pele e ficou. Lavei, lavei, lavei tanto em toda a minha vida, mas não sai", diz ele. É que Nicolau, em 1940, depois de ter servido ao exército ucraniano e esse ter sido derrotado, foi pego à força pelos nazistas para trabalhar em uma mina de carvão a três quilômetros abaixo da terra. Entre uma marretada e outra, machucou o dedo e o pó entrou debaixo da pele. Virou cicatriz para a vida toda.

Ele foi levado para uma mina de carvão e tinha de dormir em um barracão repleto de pessoas: a cama era forrada com uma camada fina de palha. Na mina, os cerca de 3 mil homens desciam de 90 em 90 em um elevador. "Não desejo aquilo para ninguém. Você fica ofegante e sem ar por trabalhar o dia todo lá embaixo."

Nicolau foi um dos milhares de jovens obrigados a trabalhar para os nazistas. Alguns foram para fábricas produzir armamento e borracha sintética para a guerra, outros foram para minas de carvão ou para a lavoura plantar a comida do exército alemão. Quando os guetos foram formados, segundo o Museu do Holocausto dos Estados Unidos, eles também viraram um espaço atrativo para as fábricas: elas se instalaram nas regiões dos guetos por causa da mão de obra farta e gratuita.

Apesar de os nazistas terem feito campos de extermínio apenas fora da Alemanha, os campos de trabalho forçado existiram em solo alemão e em vários outros países da Europa dominados pelos nazistas (recentemente, alguns desses campos foram descobertos por historiadores). Nesses locais, os presos trabalhavam até a morte, seja pelo cansaço, falta de alimento, de roupa para o frio ou doentes em decorrência das más condições de vida. No campo de concentração de Mauthausen, por exemplo, "os prisioneiros muito magros eram forçados a subir rapidamente os 186 degraus da pedreira carregando pedras muito pesadas", segundo o Museu do Holocausto dos Estados Unidos.

Comida extra

Além da sopa rala com um ou dois fiapos de repolho feita em um barril de petróleo, quem trabalhava em mina de carvão como Nicolau tinha direito a uma vitamina "química", segundo ele, tomada duas vezes ao dia para limpar os pulmões do pó de carvão aspirado a todo momento. Ele trabalhou assim por quase quatro anos, seis horas por dia. A vida era de mudo: não podia abrir a boca para nada. "Não me bateram porque trabalhava pesado. Sabia que assim eu sobreviveria."

Os relatos do trabalho na mina saem junto com uma respiração pesada e com lágrimas que escorrem pelo rosto fino de Nicolau. As outras recordações do Holocausto, entretanto, foram quase todas apagadas com o passar do tempo. Hoje, aos 94 anos, ele balança a cabeça de um lado para outro, demonstrando que já não sabe relatar com precisão como chegou ao Brasil e como foi seu casamento. Ele para, respira fundo e lembra que seu documento de identidade traz a data de nascimento e a nacionalidade erradas. "Caiu uma bomba na casa de madeira onde eu morava [na Ucrânia] logo que a guerra começou. Perdi tudo. Fui lá na Gestapo pedir uma identidade nova e eles me deram outra com dados errados e ainda falaram que não era para eu reclamar porque guerra é guerra."

Migalhas da guerra

Ao ser questionado sobre a esposa, Nicolau lembra de um episódio marcante que também remete à guerra. "Logo que chegamos a Curitiba, fomos passear e minha esposa me mostrou que em uma rua havia migalhas de pão espalhadas. Ela falou: ‘Se fosse durante a guerra, faríamos de tudo para comer esse pão que está agora no chão. Quanta fome se passava’."

Sobreviventes do Holocausto

Linha do tempo do Holocausto

1924: Hitler escreve seu único livro Mein Kampf (Minha luta), quando esteve preso. A obra se tornou a bíblia do nacional-socialismo e as vendas do livro explodiram em 1933, quando ele sobe ao poder.

(Fonte: livro LTI: a linguagem do Terceiro Reich, de Victor Klemperer, tradução de Miriam Bettina Paulina Oelsner)

1933: Em 30 de janeiro Paul von Hindenburg, presidente da Alemanha, nomeia Hitler para o cargo de chanceler do Reich, incumbindo-o de formar um novo governo. O partido nazista chega ao poder. Na noite do dia 27 de fevereiro, um incêndio criminoso destrói o Reichstag, o parlamento alemão, em Berlim. O jovem comunista holandês Marinus van de Lubbe será condenado à morte pelo crime, na verdade praticado pelos nazistas.

(Fonte: livro LTI: a linguagem do Terceiro Reich, de Victor Klemperer, tradução de Miriam Bettina Paulina Oelsner)

1934: Em 30 de junho ocorre a noite das facas longas (Nacht der langen Messer), quando as tropas da SS, comandadas por Himmler, assassinam o general Ernst Röhm, chefe da SA, e cerca de 1,2 mil correligionários seus, com a aprovação de Hitler. Poucas semanas depois morre o presidente Hinderburg. Hitler se proclama chanceler e presidente plenipotenciário da Alemanha, o Füher.

(Fonte: livro LTI: a linguagem do Terceiro Reich, de Victor Klemperer, tradução de Miriam Bettina Paulina Oelsner)

1935: Começam os afastamentos e proibições de certos trabalhos a judeus. Victor Klemperer, por exemplo, é afastado do serviço público por ser judeu, no contexto de "purificação" nazista do Estado alemão.

(Fonte: livro LTI: a linguagem do Terceiro Reich, de Victor Klemperer, tradução de Miriam Bettina Paulina Oelsner)

1936: Olimpíadas de Berlim. Qualquer vestígio de antissemitismo permanece ocultado.

(Fonte: livro LTI: a linguagem do Terceiro Reich, de Victor Klemperer, tradução de Miriam Bettina Paulina Oelsner)

1938: Em 13 de março Hitler anexa a Áustria à Alemanha. Judeus são proibidos de frequentar bibliotecas públicas na Alemanha. Em 9 de novembro ocorre a Noite dos Cristais (Kristallnacht), com ataques generalizados contra judeus e sinagogas. (Fonte: livro LTI: a linguagem do Terceiro Reich, de Victor Klemperer, tradução de Miriam Bettina Paulina Oelsner)

1939: O exército alemão invade a Polônia. Começa a Segunda Guerra Mundial.

1940: As casas dos judeus passam a ser confiscadas e alguns deles são obrigados a desempenhar trabalho forçado e gratuito aos alemães.

(Fonte: livro LTI: a linguagem do Terceiro Reich, de Victor Klemperer, tradução de Miriam Bettina Paulina Oelsner)

1941: Todos os judeus são obrigados a portar a estrela amarela de Davi na roupa, sob risco de morte se não as portasse. Teria sido neste ano também que o termo "Solução Final" fora usado com o objetivo de exterminar todos os judeus europeus. Câmaras de gás móveis foram utilizadas: o cano de escapamento dos caminhões havia sido reajustado para liberar um gás letal, o monóxido de carbono, dentro dos compartimentos totalmente vedados na carroceria. Três campos de extermínio -- Belzec, Sobibor e Treblinka -- foram criados na Polônia com o objetivo único de facilitar o extermínio em massa.

(Fonte Museu do Holocausto de Washington).

1943: Em 31 de janeiro o exército alemão, sob o comando do marechal Friedrich von Paulus, se rende en Stalingrado. É um momento decisivo para a guerra, porque os alemães começam a perder força.

(Fonte: livro LTI: a linguagem do Terceiro Reich, de Victor Klemperer, tradução de Miriam Bettina Paulina Oelsner)

1944: O general Claus Schenk, em 20 de julho, tenta matar Hitler, levando uma bomba para uma reunião com o Führer. O atentado falha e os cinco envolvidos são enforcados.

(Fonte: livro LTI: a linguagem do Terceiro Reich, de Victor Klemperer, tradução de Miriam Bettina Paulina Oelsner)

1945: Acossado pela chegada do Exército Vermelho a Berlim, Hitler se suicida em 29 de abril, designando Goebbels como seu sucessor. Este se suicida no dia seguinte, junto com a maior parte dos principais assessores. A Alemanha se rende em 8 de maio.

(Fonte: livro LTI: a linguagem do Terceiro Reich, de Victor Klemperer, tradução de Miriam Bettina Paulina Oelsner)

1949: A República Federal Alemã (Alemanha Ocidental) e a República Democrática Alemã (Alemanha Oriental) são proclamadas oficialmente.

1989: Cai o Muro de Berlim.

1990: A Alemanha é reunificada.

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