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Vista geral da Vila das Torres: violência de 2008 inibiu mobilização comunitária modelar | Marcelo Elias/Gazeta do Povo
Vista geral da Vila das Torres: violência de 2008 inibiu mobilização comunitária modelar| Foto: Marcelo Elias/Gazeta do Povo

Comunidade arruinada

Crescemos sabendo que a vida é dura e, para vencê-la, devemos trabalhar, ter amigos, respeitar os mais velhos, cumprir nosso papel de cidadãos e, sobretudo, procurar a luz maior que é a Luz Divina. São essas, essencialmente, as regras da vida.

Confira o depoimento completo de uma moradora da Vila Torres

O ano de 2008 não tem sido dos melhores para a Vila das Torres – zona favelizada mais antiga da cidade, plantada entre o Prado Velho e o Jardim Botânico. Conhecida por sua organização modelar, a região de 8,5 mil habitantes assistiu em poucos meses à dissolução de ONGs e de alguns grupos de trabalho social. Até o campo de futebol – palco de confraternizações nos fins de semana entre nada menos do que seis times locais – deixou de ser usado. Sobre o que está acontecendo, resta o silêncio.

Em paralelo, a Torres voltou com força ao noticiário policial. Apenas no último mês, cinco jovens foram mortos no bairro, acendendo um conflito em praça pública entre as forças policiais e traficantes instalados na área. O "pega-pra-capar" que tem transformado a vila numa terra arrasada, contudo, não conseguiu inibir o projeto pioneiro Observatório da Habitação, lançado no início do ano pelo procurador de Justiça Saint-Clair Honorato dos Santos, do Centro de Apoio Operacional às Promotorias de Proteção ao Meio Ambiente do Ministério Público do Estado do Paraná. É uma boa notícia.

O formato é simples: a cada três meses, lideranças das Torres, representantes de secretarias de estado e municipais, membros da Federação das Indústrias do Paraná (Fiep) e da Universidade Católica – essas duas vizinhas da vila – se reúnem para discutir a situação da comunidade e estabelecer parcerias, como cursos de capacitação juvenil e de geração de renda. O Ministério Público faz a mediação e cobra os compromissos feitos nos plenários.

Em tempo: o objetivo dos encontros não é erradicar violência, mas gerar políticas públicas para uma divisa com a qual a cidade tem uma dívida histórica. Até agora foram quatro reuniões – a última ontem à noite, no Centro Cívico –, com 50 "observadores", em média, em cada uma. Desses, cerca de 15 são da vila. Eles podem não ser a maioria, mas são a voz mais importante.

Não fosse o observatório, dificilmente o líder comunitário Cláudio dos Santos, o Claudinho, teria acesso ao presidente da Fiep ou ao primeiro escalão das secretarias de estado. A iniciativa reduziu distâncias. E seus efeitos já são percebidos. "Somos ouvidos. Isso faz diferença", diz o líder. "Estamos no Centro de Curitiba. Qualquer projeto bem-sucedido na vila não é um benefício só para a gente, mas para toda a cidade. O pessoal do observatório achava que tudo estava resolvido para nós. Mostramos que não – eles agora nos enxergam."

A assistente social Izabel Benvenutti, da equipe de Sain-Clair, festeja os avanços de 2008 – mesmo em condições desfavoráveis, já que a criminalidade inibiu as lideranças. "O Observatório melhorou a auto-estima dos moradores. Faz diferença poder entrar no Ministério Público para conversar com a sociedade, de igual. Além do mais, a experiência gerou trocas com os empresários da região. É um projeto-piloto do que pode acontecer em outras áreas degradadas."

As parcerias garantiram que o restaurante para carrinheiros da Torres não fosse fechado. E deu impulso a uma oficina de aquecedores com garrafas pet. A ver navios, permanecem propostas como mais espaços para jovens da comunidade na Fiep e na PUC, assim como o aumento do número de vagas noturnas na creche que a prefeitura mantém na vila. Já estão na pauta de 2009.

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