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 | Ivonaldo Alexandre/Gazeta do Povo
| Foto: Ivonaldo Alexandre/Gazeta do Povo

Os anos 2000 correm o risco de entrar para a história como aqueles em que o Brasil descobriu seus jovens – em especial os das periferias e os do campo. Não que o país tenha sanado suas dívidas. Aqui ainda se rotula de “marmanjo” qualquer pessoa com mais de 18 anos, negando-lhes os percalços próprios da idade, com a desculpa de que são adultos o bastante.

Mas algo mudou depois de políticas públicas como o Pró-Jovem, a Secretaria Nacional da Juventude e mesmo o Bolsa Família, para citar três. Descobriu-se que custa muito pouco salvar um jovem da pobreza, da marginalidade e da evasão escolar. Com essa pauta, no final de 2005 a reportagem da Gazeta do Povo foi a campo para saber o que sonhavam jovens de duas áreas da capital – as vilas Monteiro Lobato, no Tatuquara; e Vitória, no Umbará, essa, então uma área de ocupação irregular.

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Ali encontrou Fabrício Carvalho de Souza, 20 anos, aluno do ensino médio. Fazia o tipo bom moço – aquele que os vizinhos apontam com o dedo como um bom exemplo. O que não era pouco, em se tratando de uma região entregue à informalidade e a seus efeitos. O estudante, o mais velho de três irmãos, dava aulas de capoeira para os vizinhos. Recebia os amigos em casa, para festinhas assistidas pelos pais, que o protegiam.

A dedução era flagrante – e comprovada em dados. A periferia sofre mais coma violência do que os moradores das chamadas áreas nobres, justo os que mais reclamam da criminalidade. Fabrício era criado no quintal. Sua foto de capa na Gazeta do Povo, mostrando os malabarismos de capoeirista, quebrava uns tantos rótulos sobe a turma que mora longe. “Não tinha me dado conta da importância daquela foto, até se procurado pelas pessoas. Elas vinham me cumprimentar, com o jornal na mão. Ainda bem que não foi na Tribuna”, brinca.

Um ano depois, não foi a violência a vitimar Fabrício, mas um acidente de moto, que o deixou oito dias em estado de coma. A Vila Vitória virou numa “rezação”. Saiu da enfermidade “como que por milagre”, o que reforçou seus propósitos humanitários. Nos anos seguintes, ganhou terreno como líder juvenil e em 2013 se casou com a namorada de adolescência, Paula Alves de Paula. Moravam na mesma rua. “Uma vizinha fez o cupido. Me disse que ele era diferente”, conta Paula. Hoje, vivem numa das chácaras que só no Umbará parecem existir. Ali ergueram uma casa, que serve de referência. Quem passa sabe que é o endereço do casal Paula e Fabrício – ele, o palhaço Too Night.

É possível vê-lo na rua, de camisa larga e florida, imensa gravata borboleta e de nariz vermelho, em performances de rua. Tem os mesmos 60 quilos de dez anos atrás, mas menos cabelos na cabeça. Não cursou faculdade, trabalha como caminhoneiro – de viagens curtas –, mas planeja cursar artes cênicas. Não espantaria se fossem artes plásticas. Faz misérias com uma lata de spray. A criatividade garante parte de sua popularidade, ainda mais quando está no seu habitat. Não é o Umbará, nem a chácara, mas o Santuário da Divina Misericórdia, onde, com Paula, participa da liderança juvenil. É o seu melhor – difícil quem discorde.

O palhaço Too Night

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