Acabou o último refúgio exclusivo dos meninos em Curitiba

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Quando as aulas do Colégio Arquidiocesano de Curitiba começarem, em 20 de fevereiro, os seminaristas e alunos do ensino médio que estudam no local passarão a ter uma companhia inédita: algumas dezenas de meninas, que dividirão os bancos escolares com os rapazes pela primeira vez na história da escola, que nasceu como Seminário Menor no século 19 e passou a admitir estudantes externos na década passada. O vice-presidente do Sindicato dos Estabelecimentos Particulares de Ensino de Curitiba, Ademar Pereira, acredita que o Arquidiocesano seja a última escola da cidade a adotar turmas mistas. "Não podemos confirmar oficialmente, mas não temos notícia de nenhum outro colégio que separe as turmas ou seja exclusivo para meninos ou meninas", afirma.

"Acho que vai ser uma experiência bem interessante para eles e para nós", diz Luana de Almeida, uma das pioneiras que começará o 1.º ano do ensino médio no colégio. O Arquidiocesano terá entre 60 e 70 alunos em 2006. Metade das vagas são ocupadas pelos jovens seminaristas e a outra metade pelos alunos externos – e, a julgar pelas reservas e matrículas feitas até agora, as meninas serão maioria absoluta neste grupo. Muitas delas, como Luana, Natália Roncada e Aline Zanutto, já se conhecem da Escola Estadual Santo Antônio, que fica na região e foi visitada pelo diretor do colégio, Igor Metz (para divulgação da abertura do Arquidiocesano). Jéssica Ventura acabou matriculada no colégio porque a mãe, Egizélia, ouviu um aviso na missa sobre as matrículas. "Eu já conhecia o seminário por causa dos eventos durante a preparação das crianças para a primeira comunhão na nossa paróquia, que fica aqui perto", conta a mãe. "Quero aproveitar as aulas de música e teatro, que eu não encontraria em outras escolas", diz Jéssica.

Além das artes, os alunos do Arquidiocesano terão também disciplinas como Filosofia e Sociologia. Os alunos (e alunas) católicos ainda poderão se beneficiar da formação religiosa, que inclui aulas de catequese, aconselhamento espiritual, missas e confissão. O caráter religioso da escola também pesou na escolha de algumas famílias. "Acho melhor que as nossas filhas estejam em um lugar que seja voltado a Deus", afirma Helena Riba, mãe de Ariane, outra futura aluna. A mãe de Natália, Míriam Roncada, ainda destaca a qualidade de ensino do colégio, que já era conhecida das famílias. Quando as meninas chegarem ao terceiro ano, explica Metz, terão à disposição um material didático especialmente voltado para o vestibular.

Segundo o padre Fabiano Dias Pinto, reitor do Seminário Arquidiocesano São José (onde funciona o colégio), a idéia de admitir meninas foi do arcebispo de Curitiba, dom Moacyr Vitti. "Em 1997, quando o colégio passou a aceitar não apenas os futuros candidatos ao sacerdócio, mas também alunos que não pretendiam seguir a carreira religiosa, a direção chegou a considerar a hipótese de aceitar meninas, mas ela foi rejeitada por causa do espírito formativo da casa", conta o reitor. "Nem todo mundo que passa por aqui precisa virar padre. Se formarmos bons pais e mães de família, boas lideranças leigas, também estamos cumprindo nossa função", diz o padre Alexsander Lopes, vice-reitor do seminário. "Dom Ático Eusébio da Rocha, que foi arcebispo de Curitiba entre 1935 e 1950, dizia que o seminário deve ser sementeira de vocações, mas também deve servir à sociedade."

Para Metz, nenhuma adaptação pedagógica será necessária para receber as alunas, mesmo porque vários dos professores (e professoras, que passaram a ser aceitas no seminário depois do Concílio Vaticano II, na década de 60) já dão aulas em escolas com turmas mistas. O prédio, no entanto, está passando por várias reformas – as mais visíveis são as dos banheiros. Se depender da previsão de Míriam, a direção do colégio pode ter de se preocupar também com isolamento sonoro: "Do jeito que essas meninas conversam, quando as aulas começarem o silêncio do seminário vai acabar".

Serviço: Colégio Arquidiocesano de Curitiba. BR-277 (Curitiba-Ponta Grossa), km 99, n.º 4.505, Orleans. (41) 3285-4097 e 9912-7420. Matrículas até dia 31 de janeiro. Mensalidade: R$ 333, com desconto para pagamento até o dia 10 de cada mês.