• Carregando...
Ted Boy Marino, 72 anos, morreu no início da noite desta quinta-feira (27), após uma cirurgia de emergência de trombose | Zulmair Rocha/Folhapress
Ted Boy Marino, 72 anos, morreu no início da noite desta quinta-feira (27), após uma cirurgia de emergência de trombose| Foto: Zulmair Rocha/Folhapress

Iniciativa

Em Maringá, projeto mobiliza comerciantes da Rua Santos Dumont

Sem verba federal para revitalizar espaços degradados, a saída é buscar parcerias no setor privado e no poder público local. É o que está acontecendo em Maringá (Noroeste do estado), onde um projeto capitaneado pelo Sebrae uniu os comerciantes e a prefeitura num esforço para revitalizar a Rua Santos Dumont. As intervenções físicas ainda não começaram, mas a mobilização e a capacitação dos lojistas, também muito importantes, seguem com fôlego na cidade.

O projeto, que envolve também o Sistema Fecomércio, foi lançado oficialmente em julho do ano passado. A intenção é revitalizar o trecho entre as avenidas São Paulo e Getúlio Vargas, onde estão 120 comerciantes, e transformá-lo em uma espécie de shopping a céu aberto. "Nosso objetivo é que os comerciantes participem não só com o intuito de aumentar as vendas, mas para tornar o espaço mais agradável e levar as famílias a circularem na rua", afirma o consultor do Sebrae e gestor do programa, Marcelo Wolff. (RW)

De cara nova

Solicitar recursos federais para investir na revitalização das áreas centrais está longe de ser a única alternativa para os municípios. Veja algumas medidas que podem, mesmo sem intervenções físicas extremas, dar uma "cara nova" para os centros:

Mais seguro e iluminado

Para especialistas, é consenso que não basta revitalizar a fachada dos prédios ou mudar o perfil dos estabelecimentos. Investimentos em policiamento e iluminação, que tornem a passagem dos pedestres pelo centro segura a qualquer hora do dia, são essenciais, assim como a oferta de serviços e comércio mesmo nos fins de semana. Barcelona e Milão, por exemplo, são cidades que levam essas orientações à risca. "Uma ótima forma de manter o centro vivo é fazer ele funcionar 24 horas, ou pelo menos com lojas abertas aos sábados e domingos", resume a geógrafa e pesquisadora do Ipardes Rosa Moura.

Para sentir no bolso

O IPTU progressivo, que prevê o aumento gradual da alíquota do imposto para donos de terrenos e imóveis subutilizados, surgiu em 2001, com o Estatuto das Cidades. A medida já é aplicada em capitais como São Paulo e Belo Horizonte e, em Curitiba, está sendo aplicada na Rua Riachuelo. A resposta, porém, é lenta, tanto pelos trâmites legais que precisam ser seguidos quanto pela baixa procura dos proprietários pela negociação.

Ao invés de excluir, incluir

Outra alternativa defendida por especialistas é uma espécie de "destinação social" para os imóveis subutilizados – estratégia já comum na França, por exemplo. Neste caso, o município bancaria a maior parte da revitalização do prédio, que, após a obra, teria parte dos apartamentos locados para a população de baixa renda.

Renda extra

Uma proposta antiga para Curitiba, mas que ainda não encontra respaldo prático, é permitir que fachadas dos imóveis sejam alugadas para empresas de propaganda. A receita do aluguel, então, seria aplicada na revitalização do prédio – afinal, uma das desculpas recorrentes para a deterioração dos imóveis é que inquilinos ou proprietários não têm recursos próprios para investir nas reformas.

Criado em 2004, o Programa de Reabilitação de Áreas Ur­banas Centrais, do Ministério das Cidades, tem sofrido um processo de esvaziamento nos últimos anos – assim como os centros de muitas cidades do país. Implantado com a missão de promover a habitação social, recuperar as atividades ecônomicas e preservar o patrimônio cultural e ambiental desses locais, o programa não só tem diminuído o repasse de verbas como também o número de municípios atendidos.

Em 2011, R$ 1,6 milhão foi liberado – uma queda de 86% em relação ao que foi investido cinco anos antes, em 2006, quando R$ 11,8 milhões chegaram a ser destinados a fundo perdido para 63 municípios. Ano passado, apenas Maceió e Fortaleza foram contempladas. Os dados são do Portal da Transparência, do governo federal.

Não por acaso, o ápice de recursos desembolsados pelo programa ocorreu justamente em um ano de eleições para a Presidência e o Congresso. Em 2006, dos R$ 11,8 milhões investidos, R$ 9,8 milhões foram liberados por meio de emendas parlamentares garantidas por deputados e senadores, tendo como alvo, na maioria dos repasses, municípios de médio e pequeno porte.

De lá para cá, a fonte tem secado em Brasília. As verbas liberadas diminuíram ano a ano, atingindo o menor número em 2011 (veja infográfico). Nos últimos cinco anos, apenas 25 repasses foram feitos em atendimento a convênios já estabelecidos.

Em janeiro de 2008, por exemplo, Maceió assinou um convênio para o repasse de R$ 10,3 milhões, com o objetivo de reurbanizar e executar obras de infraestrutura no centro da cidade. A capital de Alagoas, inclusive, recebeu sozinha 37,5% do total de recursos liberados desde a criação do programa.

No Paraná, quatro muni­cípios foram contemplados, por meio de emendas parla­mentares, entre 2004 e 2006: Cambará, Florestópolis, Roncador e Santa Terezinha de Itaipu. Todas têm menos de 24 mil habitantes.

Falta de critérios

A Gazeta do Povo questionou o Ministério das Cidades sobre os motivos da diminuição no número de repasses e os critérios para liberação das verbas, mas, mesmo após uma semana de espera, não recebeu qualquer resposta oficial da pasta. Para urbanistas e prefeitos ouvidos pela reportagem, a contenção de recursos federais para ações não emergenciais, visando à formação de caixa, é uma das causas evidentes para o congelamento do programa.

"A liberação das emendas está sempre sujeita ao humor do governo. Por outro lado, as menores cidades muitas vezes não têm condições técnicas de atender aos critérios do governo federal para acessar as verbas", afirma o presidente da Associação dos Municípios do Paraná, Gabriel Samaha.

O coro contra a falta de critérios claros para o envio dos recursos é engrossado pelo presidente da Confederação Nacional dos Municípios, Paulo Ziulkoski. "Os gestores municipais sabem dessa necessidade [de investir na revitalização dos centros], mas não há recursos. E, na hora de liberar verbas, a União investe nas áreas em que há vinculação orçamentária, como saúde e educação. O resto, como há uma conjuntura econômica desfavorável, fica na propaganda", critica.

Abandono

Anel central de Curitiba tem 28 imóveis subutilizados

Em direção contrária à tendência de esvaziamento das regiões centrais nas grandes cidades, Curitiba viu a população do Centro aumentar 14,3% nos últimos dez anos – mais do que a média em toda a cidade, que foi de 10%. Os dados do último Censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostram que, em 2010, 37,3 mil pessoas moravam na área central da capital.

Os trabalhos de revitalização da região, que atualmente têm várias frentes, como a reforma da Rua São Francisco, iniciaram em 2005, com o Programa Marco Zero. De lá para cá, apesar da paisagem já ter mudado em locais como a Rua Riachuelo e o Paço da Liberdade, em outros um cenário de abandono permanece intocado: segundo a Secretaria Municipal de Urbanismo (SMU), 28 imóveis são subutilizados, ocupados irregularmente ou utilizados como ponto de consumo de drogas na região central.

Pressão insuficiente

A reforma ou liberação dos imóveis ao poder público esbarra na falta de mecanismos legais que obriguem os proprietários a revitalizar os prédios, além das pendências jurídicas e familiares. Mecanismo já adotado na Rua Riachuelo, o IPTU progressivo tem chamado pouca atenção dos donos dos imóveis – segundo o Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano de Curitiba (Ippuc), apenas dois empresários da região teriam dado entrado no procedimento para pedir a redução do IPTU. E, em casos em que os proprietários ignoram as notificações e o aumento do imposto, eventuais desapropriações podem levar no mínimo seis anos para ocorrer.

Mesmo assim, a prefeitura é otimista quanto ao futuro dos imóveis subutilizados. "A reforma do Paço Municipal deu nova vida para o centro da cidade e isso tem incentivado a reforma de prédios que até então estavam, abandonados", afirma o administrador da Regional Matriz da prefeitura, Luiz Hayakawa.

* * * * *

Dê sua opinião

Que outras cidades do Paraná precisam ser revitalizadas?

Escreva para leitor@gazetadopovo.com.br

As cartas selecionadas serão publicadas na Coluna do Leitor.

0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]