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Jimena Grignani, da Rede Marista: mais dados para gerar políticas para a infância e a adolescência | Daniel Castellano/Gazeta do Povo
Jimena Grignani, da Rede Marista: mais dados para gerar políticas para a infância e a adolescência| Foto: Daniel Castellano/Gazeta do Povo

Em debate

A II Oficina de Monitoramento dos Direitos da Criança e do Adolescente é um evento para convidados e acontece de segunda a quarta-feira, em Curitiba. Confira o que será colocado em debate:

Infância em dados

Laura Beavers, da Fundação Annie Casey, vai mostrar as políticas que nascem do cruzamento de dados. Gerardo Sauri, do México, apresenta como construir um sistema de monitoramento e de proteção da infância.

Estudos de caso

A experiência paraguaia nos direitos dos pequenos e da Pastoral da Criança será colocada à mesa.

Estatísticas ímpares

Com o ajuste dos dados, é possível fazer estudos cada vez mais precisos, entendendo como crianças e adolescentes são cooptados pelo crime organizado, expostos à exploração sexual ou relegados às ruas das grandes cidades.

Publicação

O Databook brasileiro será colocado na rede assim que termine o evento. A promessa dos organizadores do documento é de surpresa.

Quem, porventura, já tenha procurado dados seguros sobre a infância desvalida no Brasil sabe a dureza que é. As informações sobre escolaridade, vacinação, evasão escolar ou o que valha costumam ser apuradas com metodologias tão diferentes quanto a água e o vinho, o que leva a resultados desastrosos. Diante do carnaval de números, não se consegue fazer nenhuma afirmação segura, colocando o Brasil na rabeira das políticas mundiais de direitos das crianças e adolescentes.

Basta lembrar que o país acumula atrasos vexatórios na entrega de relatórios sobre o que faz, como e quanto investe na população com menos de 18 anos, uma massa de nada menos do que 56 milhões de pessoas.

Em países como Estados Unidos e México – para citar dois –, esse descompasso é coisa do passado. Tais nações descobriram o caminho das pedras e conseguem fazer com que as estatísticas deixem de ser um punhado de porcentagens para se converter num mapa da realidade, mostrando aonde ir.

Há dois anos, um pool de organizações nacionais voltadas para os direitos humanos investiga o segredo dos vizinhos da América do Norte. Um segredo que tem nome: Fundação Annie Casey, instituição que há pouco mais de duas décadas faz o serviço pesado no setor de estatísticas da infância dos Estados Unidos, Canadá e Porto Rico, entre outros.

A Casey desenvolveu um método próprio de compilar dados e oferece retratos precisos. O Brasil seguiu o exemplo e apresenta – no início desta semana – o resultado da empreitada a 40 agentes reunidos em Curitiba para a II Oficina de Monitoramento dos Direitos das Crianças e dos Ado­­­lescentes. O nome do documento recém-nascido é Databook. Custou módicos R$ 250 mil aos financiadores. E vai ajudar a sanear os milhões investidos no setor, nem sempre com êxito.

Fiel aos códigos do movimento social, a organização não divulga resultados antes da plenária, reservada a convidados. Mas pode adiantar que o entrelaçamento de informações de várias entidades vai lançar estilhaços sobre os governos. E espalhar frustrações.

Se por um lado o estudo – formado por 77 indicadores – permite informar minimamente sobre o abandono escolar, por outro não consegue dizer a quantas anda a exploração sexual de crianças e adolescentes – para citar uma das tragédias a que a infância está sujeita.

A explicação para o vácuo é só uma: o estudo inspirado na metodologia Casey não tem como incorporar estatísticas incompletas. "Temos inúmeros índices invisíveis, gerados por subnotificações", lamenta a psicóloga londrinense Jimena Grignani, 42 anos, da Rede Marista e uma das organizadoras do evento.

A intenção dos pesquisadores é reverter esse quadro. Para tanto, novamente os olhos se voltam para o Norte, onde o Data­­­book da Fundação Annie Casey é esperado por ONGs e quetais com a mesma ansiedade com que a lista da Forbes é aguardada pelos milionários.

Infância armada

Um dos estudos sobre a infância feito com o cruzamento de dados será discutido no encontro que acontece em Curitiba – a relação en­­­tre infância e armamentismo. O pesquisador mexicano Juan Mar­­tín García vai contar como é possível chegar a resultados dessa monta, mobilizando a sociedade.

No Brasil, sabe-se, os mecanismos que fazem as armas chegarem às favelas e ao crime organizado são um mistério. Que dirá o envolvimento dos meninos nessa história. A expectativa é de que nas edições futuras do Databook à brasileira possa-se chegar a tanto, en­­­­tendendo de forma menos im­­­­pressionista as engrenagens que ligam violência familiar, exclusão escolar e abuso sexual, entre outros dramas do país que já sabe expressar seu cuidado com a infância, mas que até agora não conseguiu colocá-lo na ponta do lápis.

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