• Carregando...
 |
| Foto:

Entrevista

Rebecca Tavares, representante da entidade da Organização das Nações Unidas para a Igualdade de Gênero e o Empoderamento das Mulheres (ONU Mulheres) no Brasil e Cone Sul.

O que mais lhe chama atenção no relatório?

Este é o segundo relatório produzido e é importante porque antes não havia nada sistematizado sobre as diferenças de raça e gênero no Brasil. Agora há uma ferramenta para analisar a situação específica de mulheres e homens negros. Um dos dados que mais chamam a atenção é a diferença da taxa de mortalidade materna quando há um recorte de raça e região do país. A participação na força de trabalho também é mais informal para mulheres negras, o que representa a precariedade dessa inserção.

Por que ocorrem essas diferenças?

É um reflexo da estratificação racial no Brasil. Isso comprova, através de dados e estatísticas, que a estratificação ainda é caracterizada pela raça. Mesmo controlando pelo critério de classe social, ainda há diferenças raciais.

O estudo mostra como a desigualdade afeta a realidade. Os negros têm maior probabilidade de ficar na pobreza. Eles são a maioria dos beneficiários do Bolsa Família. Dos 11 milhões de famílias do programa, 7 milhões são pretos ou pardos.

Como diminuir a desigualdade?

Durante séculos o Brasil não reconheceu a desigualdade racial. Os dados da pesquisa são bastante claros. Primeiro é preciso divulgar com mais abrangência esses fatos e depois conscientizar os tomadores de decisão, políticos, educadores, setor privado, etc. Há também ações afirmativas, que a ONU chama de medidas temporárias específicas dirigidas para populações mais excluídas.

Um estudo divulgado pela Organização das Nações Unidas (ONU) mostra que as mulheres negras no Brasil têm as piores condições de acesso à saúde e chegam a ter uma taxa de mortalidade materna 66% maior do que a das mulheres brancas. Os negros também são mais afetados por doenças como a hanseníanse e tuberculose. O levantamento, realizado em parceria com a Universidade Federal do Rio de Janeiro e divulgado ontem, compilou uma série de indicadores já produzidos pelo governo brasileiro. A diferença é que os pesquisadores focaram no recorte racial. O Relatório Anual das Desigualdades Raciais no Brasil 2009 – 2010 mostra que entre mulheres brancas a taxa de mortalidade materna é de 40,5. Já entre negras ela sobe para 67. As mães afro-descendentes têm menos acesso ao pré-natal, sendo que apenas 42,5% realizam ais de sete consultas durante a gestação – porcentual que chega a 70% entre as brancas.

A prevenção também tem acesso diferenciado. As mulheres negras fazem menos exames preventivos de câncer de mama e colo do útero e vão menos ao dentista. A hanseníase, ainda, afeta duas vezes mais a população que se define como preta ou parda. A violência – uma das principais causas de mortalidade no Brasil – também vitimiza mais a população negra. Entre 2006 e 2007, 63% das pessoas assassinadas eram pretas ou pardas.

Quando há uma análise sobre as condições socioeconômicas, os afro-descendentes também têm os piores indicadores. A renda média é a metade e a taxa de analfabetismo 13 pontos porcentuais maior. A expectativa de vida entre brancos é 5 anos maior.

Entre os avanços apontados há a quase universalização do ensino fundamental para crianças negras e pardas e o crescente reconhecimento de comunidades quilombolas. Hoje pretos e pardos representam 50,3% da população brasileira e os brancos, 48,8%.

Para a procuradora federal da Fundação Palmares, Dora Lúcia Bertúlio, o relatório de 300 páginas mostra que o progresso das últimas décadas não foi significativo para diminuir as desigualdades raciais. Ela lembra que, em média, a população negra fica 50% abaixo nos indicadores em relação aos brancos. "A sociedade brasileira é racista e parece que os números não são relevantes."

Críticas

Levantamentos que fazem apenas o recorte racial e não de renda recebem críticas de alguns especialistas. De acordo com eles, os brancos pobres sofreriam a mesma desigualdade que negros pobres. O historiador e professor da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (Uerj) José Roberto Pinto de Góes é um dos críticos. "Não acho que os brasileiros possam ser classificados em negros ou brancos", afirma.

Góes diz que acredita em direitos iguais para todos. "Privilégios apenas para quem deles precisa, como os deficientes físicos e os idosos. Que importância pode ter a cor da pele de alguém?" Para ele, é lamentável que a ONU se preste a chancelar um documento cujo título dá a entender que é lícito recorrer à ideia de raça para tratar dos assuntos humanos.

0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]