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Elza Vieira foi a primeira a receber sinal gratuito de internet na Vila das Torres, em Curitiba | Ivonaldo Alexandre / Gazeta do Povo
Elza Vieira foi a primeira a receber sinal gratuito de internet na Vila das Torres, em Curitiba| Foto: Ivonaldo Alexandre / Gazeta do Povo

Investimentos

17 municípios do PR participam do programa federal Cidades Digitais

Ao todo, 17 municípios paranaenses participam do programa do governo federal Cidades Digitais. Na primeira fase, em 2012, foram oito municípios (Toledo, Assis Chateaubriand, Bandeirantes, Ibiporã, Palmas, Quatro Barras, Santa Cecília do Pavão e São Miguel do Iguaçu). Na segunda etapa, no ano passado, outros ­­oito acabaram contemplados (Ibaiti, Imbituva, Jacarezinho, Jaguariaíva, Pinhão, Piraí do Sul, Reserva, Santo Antônio da Platina e São Mateus do Sul).

Em 2012, o Ministério das Comunicações abriu a primeira seleção para o projeto-piloto, em que 80 municípios foram contemplados. Em 2013, o Cidades Digitais foi incluído no Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) do governo federal, selecionando um total de 262 municípios com população de até 50 mil habitantes.

No primeiro edital, o investimento foi de R$ 40 milhões, enquanto a se­­gunda chamada destinou ­­R$ 201,7 milhões ao Cidades Digitais. O objetivo do programa é ampliar o acesso aos serviços públicos e promover o desenvolvimento dos municípios brasileiros por meio da tecnologia.

O ministério informa que as cidades contempladas recebem a instalação de redes de fibra óptica que interligam os órgãos públicos locais; capacitação de servidores municipais para uso e gestão da rede; e oferta de pontos de acesso à internet para uso livre e gratuito em espaços públicos de grande circulação, como praças, parques e rodoviárias.

Tibagi Digital

O programa que leva internet gratuita aos moradores de Tibagi está presente em aproximadamente 70% do município. Atende atualmente em torno de 600 famílias, o que resulta em uma média de 1,8 mil usuários. O sinal está disponível em vários locais da zona rural, totalizando oito torres com 13 pontos de acesso, além dos pontos Tibagi Digital Livre, nas praças da cidade, onde não é necessário cadastro para acessar. Nos pontos fixos, o munícipe necessita fazer um cadastro, estar com os impostos municipais em dia e, caso possua veículo, o mesmo deve estar emplacado no município.

Curitiba

Na capital do estado, o acesso gratuito à internet ocorre em alguns pontos específicos: Largo da Ordem, Parque Barigui, Praça da Espanha, Jardim Botânico, Mercado Municipal e nas Ruas da Cidadania (Praça Rui Barbosa, Boa Vista, Cidade Industrial de Curitiba, Santa Felicidade, Bairro Novo e Boqueirão). Ao utilizar a web nos locais públicos, o navegador é direcionado para o site do Passaporte Curitiba, no qual é possível se cadastrar. Após o preenchimento dos campos, a navegação é liberada.

Há um ano e cinco meses, Alcione Xavier Ferreira se sentia ilhada na zona rural de Tibagi. Morando há 40 quilômetros do centro da cidade, ela nem sequer tinha computador quando o programa Tibagi Digital chegou à sua residência. Agora, Alcione consegue "se sentir parte da cidade". "Eu consigo saber o que está acontecendo no município, na região e no estado", conta.

Ela acessa diariamente sites de notícias e as três filhas, de 16, 14 e 7 anos, aproveitam a internet para estudar. "Isso ajuda muito a aprenderem mais", relata Alcione. Esse é o grande objetivo da inclusão digital. Ou deveria ser. O problema é que, apesar de o acesso ao universo on-line ter chegado, não há projetos efetivos que ensinem os usuários a como aproveitar os benefícios da grande rede.

Segundo a Rede Cidade Digital, o Brasil apresenta 561 cidades que disponibilizam alguma forma de acesso gratuito à internet – seja por intermédio do poder público ou de entidades não governamentais. No Paraná, são 76. Em todo o país, de acordo com o último Censo, 166 milhões de pessoas têm acesso à web. O que significa que aproximadamente 30 milhões estão alheias ao recurso.

O pesquisador da Uni­­­versidade Positivo Rafael Dubiela, que faz doutorado na área, salienta que a inclusão digital, sozinha, é incapaz de promover uma inclusão social. "O processo de inclusão digital não tem caminhado da melhor maneira. Precisamos de políticas que visem ao aprimoramento educacional e profissional por meio da internet", afirma.

Ele lembra que o Mi­­­nistério da Educação até oferece um material didático (disponível em portaldoprofessor.mec.gov.br), com dicas sobre o uso da internet, para ser utilizado em salas de aula. "Mas quase ninguém conhece e não há nem divulgação de algo que poderia estimular as pessoas a buscarem cursos on-line para melhorarem de vida."

Para a pesquisadora e professora da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR) Dilmeire Vosgerau, a internet é geralmente vista apenas como uma forma de criar e acessar redes sociais. Segundo ela, esse universo é subutilizado. "O que parece coerente é termos ações paralelas que levem a internet ao cidadão, mas também que se criem programas que levem mais informações de como as pessoas podem utilizá-la para melhorar de vida e realizar cursos, por exemplo."

Na opinião de Dilmeire, a pessoa não busca sozinha meios virtuais que possam levar a aperfeiçoamentos profissionais e econômicos. "O caminho da inclusão digital hoje no Brasil é tortuoso. Levam a internet, mas não mostram como ela pode ser útil na vida das pessoas", diz.

Projeto na Vila das Torres não depende do poder público

Criado no primeiro semestre do ano passado, o Programa Vila Torres Digital, em Curitiba, já atende 50 famílias da região, que juntas somam quase 200 pessoas. Além da vila curitibana que dá nome à iniciativa, moradores dos bairros Jardim Botânico, Prado Velho e Rebouças também são impactados pelo projeto. É um dos raros programas do tipo que não dependem do poder público. "É o único projeto que eu conheço em que a demanda partiu da comunidade, sendo resultado de parceria entre o Clube de Mães da União Vila das Torres, By Air Brasil e RCD - Sistemas de Comunicação", diz José Marinho, diretor da Rede Cidade Digital.

Além de disponibilizar internet gratuita, o programa mantém um portal (www.vilatorresdigital.com.br), que traz notícias e a história do local, além de abrir espaço para interação da comunidade. Todos os que acessam o sistema, antes de navegar, passam pelo portal.

"Estamos tratando com diretores de uma escola para ampliar a participação dos alunos e também articulando com instituições a implantação de ações que potencializem o uso da internet para contribuir com o desenvolvimento das pessoas e da Vila", comenta Marinho. A ideia é capacitar moradores para que eles próprios produzam conteúdo para o portal. "A ideia é a internet colaborar para os estudos e aperfeiçoamentos profissionais dos moradores", afirma.

É o que procura fazer a funcionária pública Oneida da Silva, 42 anos. Ela trabalha durante a manhã e à tarde e à noite cursa Física na PUCPR. "Sempre estou navegando para ficar atenta a novos concursos públicos e uso muito a internet para meus estudos."

Já Elza Vieira, que foi a primeira a receber o sinal de internet na Vila, viu o contato com familiares que moram em outras cidades ficar muito mais próximo. "Além disso, procuro novas receitas culinárias. Meu filho usa para procurar técnicas de desenhos e também para se distrair com jogos e redes sociais."

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