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Vídeo| Foto: TV Paranaense

A colisão que matou sete pessoas no último sábado na BR-277, sentido Curitiba–Paranaguá, e que foi provocada por uma carreta que transportava soja até o porto chamou a atenção para o risco de acidentes nessa época de escoamento de safra. Ocorrências que causam, anualmente, um prejuízo estimado em R$ 1,2 bilhão aos cofres públicos do Paraná e aos envolvidos nas colisões.

A malha viária paranaense está em 5.° lugar no ranking nacional de custos provocados por acidentes, representando 5,45% do total de R$ 22 bilhões. O conjunto das rodovias federais dos três estados da Região Sul ocupa a 4.ª posição dessa lista – R$ 1,6 bilhão (7,27%). Os números foram calculados pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) com base em gastos com saúde, danos materiais e estruturais e policiamento e repassados à Gazeta do Povo pelo secretário de Política Nacional de Transportes, José Augusto da Fonseca Valente.

O secretário aponta a imprudência dos motoristas como a principal causa de acidentes nas estradas. "As pessoas não têm noção dos riscos que correm por causa delas mesmas", afirma Valente. Entre as falhas mais graves estão o excesso de velocidade, o uso de drogas, cansaço e ultrapassagens perigosas. O secretário ainda citou como motivos de acidentes o excesso de cargas em caminhões, a falta de manutenção nos veículos, rodovias mal conservadas e a falta de preparo dos motoristas.

Para o presidente da Federação Nacional dos Caminhoneiros Autônomos (Fenacam), Diumar Bueno, o aumento do número de acidentes nas estradas também é conseqüência do crescimento da frota de veículos que percorre as rodovias. Os quatro primeiros meses do ano costumam concentrar a maior quantidade de ocorrências – período de férias e do escoamento da safra agrícola. Até o último domingo ocorreram 1.804 acidentes nas estradas federais do Paraná, com 1.146 feridos e 89 mortes.

Bueno estima que o número de caminhões que chega diariamente no Porto de Paranaguá, no litoral do estado, triplique durante a safra (entre março e maio) – saltando de mil para 3 mil veículos. De acordo com o inspetor Ozir Jacomel de Aguiar, da PRF, isso corresponde a um aumento de aproximadamente 15% da frota circulante de caminhões nas rodovias do Paraná. "O que acontece nesta época (de safra) é que há uma corrida para se transportar uma maior quantidade de grãos", conta Aguiar.

O perigo nas estradas aumenta com a pressão que os caminhoneiros sofrem para transportar os carregamentos. Eles chegam a romper os próprios limites para levar a carga até o destino final no menor tempo possível. "Os caminhoneiros acabam ganhando mais pelo frete quando fazem a entrega antes", conta Bueno.

O caminhoneiro Ednei, há cinco anos na profissão, conta que já chegou à marca de 48 horas dirigindo sem dormir. E como faz para espantar o sono? "Tem de tomar rebite", afirma. Rebite é como os motoristas chamam anfetaminas e outras substâncias que os mantêm acordados. "Muitos utilizam. É um tiro no pé. Passa o efeito, eles continuam viajando e acabam pegando no sono com os olhos abertos", alerta Bueno. O controle e repressão desse tipo de prática é uma das medidas a serem intensificadas pela PRF. Além disso, o secretário Valente conta que são necessárias medidas educacionais e operacionais para se tentar reduzir o número de acidentes, como manutenção e sinalização de rodovias, eliminação de trechos perigosos, inspeções em veículos e incentivo à renovação da frota de caminhões. De acordo com a Fenacam, a frota paranaense de 150 mil caminhões está envelhecida, com cerca de 20 anos de uso.

O presidente da Fenacam ainda lista a necessidade de se agilizar o processo de carregamento e escoamento das cargas. "Hoje, os caminhoneiros ficam em média 24 horas em filas para descarregar. Nesse tempo, eles não podem dormir", conta Bueno. A Lei 11.442, que regulamenta a profissão dos caminhoneiros, diz que o tempo máximo de espera em filas deve ser de cinco horas, sob pena de multa caso esse tempo seja ultrapassado.

Hospitalizados

O caminhoneiro que dirigia a carreta que causou o acidente de sábado, na BR-277, que envolveu outros dois caminhões e quatro carros, deve sair nos próximos dias do Hospital Cajuru, na capital. Já o motorista de um dos carros, Getúlio Milecke, que perdeu três parentes no acidente, está no setor de queimados do Hospital Evangélico e não tem previsão para receber alta. A hipótese mais provável, de acordo com a Polícia Rodoviária Federal (PRF), é de que a carreta estaria sem freios. O caso está sendo apurado pela Delegacia de Morretes.

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