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Reconstituição mostrou como escritor foi morto com um golpe de faca no pescoço | Felippe Aníbal/ Gazeta do Povo
Reconstituição mostrou como escritor foi morto com um golpe de faca no pescoço| Foto: Felippe Aníbal/ Gazeta do Povo
  • Em frente a casa, banners lembram o escritor

Cleverson Schmitt, 19 anos, que teria confessado ter matado o escritor Wilson Bueno, serviu café à vítima, instantes antes de matá-la com um golpe de faca no pescoço. Foi o que revelou a reconstituição realizada pela polícia na tarde desta sexta-feira (11), no sobrado onde o escritor morava, no bairro Boa Vista, em Curitiba.

A perícia do crime apontou ainda que o assassino deixou a faca cravada no pescoço do escritor e abandonou-o agonizando, enquanto eliminava vestígios e procurava objetos para roubar. "Apenas antes de sair da casa, ele retirou a faca do pescoço, com o objetivo de acelerar a morte da vítima. Com certeza foi um crime premeditado e ficou clara a frieza do autor", disse o delegado Silvan Rodney Pereira, da Delegacia de Furtos e Roubos, que comandou as investigações.

A reconstituição foi feita com base no depoimento de Schimitt à polícia. O acusado não participou da perícia, por ordem dos advogados dele. Durante os trabalhos, o rapaz permaneceu em uma viatura, à frente da residência. "O fato de o acusado não participar (da reconstituição) prejudica os trabalhos, porque não posso confrontá-lo em caso de dúvidas", disse a perita Jussara Joeckel. Modelos foram usados para representar o assassino e a vítima no crime. A perícia pode ser usada em juízo, se o caso for a juri popular. "A reconstituição é usada para produção de provas com o objetivo de enriquecer informações que foram levantadas durante as investigações", explicou o delegado.

A reconstituição

De acordo com a perícia, Schimitt chegou à casa de Bueno por volta das 20 horas de domingo, 29 de maio. O escritor, que morava sozinho, teria aberto o portão e convidado o rapaz para entrar. Os dois foram até o escritório de Bueno, que fica no pavimento superior do sobrado. Lá, eles teriam discutido e o escritor teria empurrado o jovem e tentado acertá-lo com um soco.

Após a discussão, Schimitt desceu à cozinha da casa, onde preparou duas xícaras de café. O rapaz também pegou uma faca e a escondeu sob a manga da blusa que vestia. Schimitt serviu a bebida a Bueno em uma ante-sala, próximo ao escritório, no segundo andar. Eles tomaram o café, sentados em poltronas, onde conversaram por alguns minutos.

Em seguida, Bueno voltou ao escritório e sentou-se ao computador. Em instantes, Schimitt entrou no cômodo e sacou a faca. O escritor percebeu a presença do rapaz e se levantou e, em pé, foi atingido por um golpe de faca no pescoço. Com o impacto, Bueno sentou-se sobre a cadeira, mas se desequelibrou e caiu ao chão, deixando manchas de sangue na parede.

De acordo com a reconstituição, Schimitt deixou a vítima agonizando e desceu novamente até a cozinha, onde lavou a faca usada no crime e a guardou em uma gaveta. O rapaz colocou meias nas mãos, como luvas, e usou uma calça para limpar objetos, com o objetivo de tentar eliminar eventuais impressões digitais.

Em seguida, Schimitt foi até o quarto de Bueno, a procura de objetos que pudesse roubar. O jovem pegou roupas e pertences do guarda-roupa e colocou-os sobre a cama. A ante-sala também foi revirada. Ele também teria se preparado para levar um notebook do escritor, mas desistiu de levar o equipamento. De acordo com a polícia, Schimitt desceu ao piso inferior do sobrado para procurar as chaves do carro de Bueno, mas não a encontrou. Após isso, o rapaz teria fugido de ônibus, levando dois celulares e uma máquina fotográfica da vítima.

Dor

João Batista Costa Santana, irmão adotivo do escritor, acompanhou parte da reconstituição. Bastante emocionado, por algumas vezes ele não conteve as lágrimas, ao se lembrar da perda do irmão. Foi Santana quem encontrou o corpo do escritor, no dia seguinte ao crime. "Foi como no Cavalo de Troia. O Wilson [Bueno] trouxe o inimigo para dentro de casa", disse.

Para o irmão da vítima, assistir parte da reconstituição foi como "reviver uma tragédia". Pela segunda vez, Santana esteve frente a frente com o assassino de seu irmão adotivo. "Quando o vi pela primeira vez, eu o abracei e o perdoei", apontou.

Latrocínio x Homicídio

Na semana que vem, a defesa de Schimitt vai entrar com o pedido de liberdade provisória do acusado. De acordo com os advogados dele – Maurício Zampieri de Freitas e Matheus Gabriel Rodrigues de Almeida –, o jovem preenche aos pré-requesitos para este direito (primariedade, bons antecedentes, endereço fixo e profissão).

Os advogados revelaram que a linha adotada pela defesa vai ser lutar pela desqualificação do latrocínio (roubo seguido de morte), cuja pena pode chegar a 20 anos de prisão. Com isso, Schimitt passaria a responder por homicídio, com pena de até 12 anos. Os advogados argumentam que o rapaz levou os celulares e a máquina fotográfica com o intuito de não ser localizado – em função de informações que os aparelhos conteriam – e para "maquiar" a cena do crime. "Ele não foi ao sobrado para roubar. Ele era amigo do escritor e acabou matando-o no calor do momento", disse Freitas.

Para o delegado, no entanto, o latrocínio foi caracterizado. Isso porque Schimitt chegou a vender os objetos roubados. O inquérito foi concluído nesta sexta e será enviado à justiça apontando que houve roubo seguido de morte. Esta também é a tese defendida pelos da acusação. O advogado Emídio Bueno Marques, primo do escritor, aponta que Schimitt sabia que Bueno morava sozinho e que se aproveitou disso para cometer o roubo. "É uma pessoa que precisa ser mantida presa, pois tem todas as características de que, se posta em liberdade, pode reincidir no crime", opinou o advogado.

Cheque

Os familiares do escritor também trouxeram novos elementos sobre um cheque no valor de R$ 130, que teria sido um dos motivadores do crime. A versão inicial era de que o cheque repassado por Bueno a Schimitt como pagamento de um programa sexual e como adiantamento de um serviço de demolição teria sido sustado pelo escritor. Entretanto, Santana e Marques disseram que o cheque foi pago e descontado em banco por Schimitt. "O Wilson [Bueno] não sustou esse cheque. Eu tenho cópia do desconto e esse documento será usado em juízo", disse o irmão da vítima.

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