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Exames comprovam tortura

Felippe Aníbal

Exames complementares realizados pelo Instituto Médico-Legal (IML) nos quatro homens inicialmente suspeitos de envolvimento na morte de Tayná Adriane da Silva, de 14 anos, reforçam a tese de que eles sofreram tortura. Os laudos chegaram nesta quinta-feira (18) às mãos do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco), que apura a conduta dos policiais. "Isso [o resultado dos exames] robustece a acusação de que houve tortura", resumiu o promotor Denílson Soares de Almeida, do Gaeco.

Os quatro rapazes sofram submetidos aos exames complementares na última sexta-feira (12). Os laudos indicam lesões que não haviam sido descritas no primeiro exame realizado pelo IML, quando eles foram presos. A nova perícia relata a existência de ferimentos compatíveis com as agressões e torturas que os quatro alegam ter sofridos em unidades policiais em que estiveram presos. "A notícia do rapaz que teria sido empalado, por exemplo, o laudo comprovou lesões compatíveis com essa prática", exemplificou o promotor.

Os quatro jovens acusados inicialmente pela morte de Tayná da Silva, que teriam sofrido tortura no período em que estiveram detidos, foram incluídos nesta quarta-feira (17) no Programa Federal de Proteção a Vítimas e Testemunhas Ameaçadas (Provita). De acordo com a Secretaria de Justiça e Direitos Humanos (Seju) do Paraná, todos já foram encaminhados para fora do estado, em local sigiloso, e ficarão sob proteção por tempo indeterminado.

O pedido de inclusão no programa havia sido feito na última terça (16) pelo advogado dos quatro, Andrey Salmazo Poubel. O Provita é uma iniciativa de âmbito federal, existente em 18 estados, e a segurança das vítimas fica a cargo das respectivas unidades estaduais, através de uma entidade sem fins lucrativos que executa questões logísticas relacionadas aos protegidos. De acordo com a Seju, o Paraná atualmente é responsável pela porteção de cerca de 40 testemunhas.

Investigador tem dinheiro e armas apreendidos

Uma fonte ligada ao Ministério Público confirmou à Gazeta do Povo que o Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) cumpriu, nesta quinta-feira (18), um mandado de busca e apreensão na casa de um dos investigadores detidos, Rudi Elói Prates. Na residência do policial, foram encontrados R$ 50 mil em espécie e duas armas de fogo, que estavam sem documentação.

Em entrevista ao portal Paraná Online, o advogado do investigador, André Luis Romero, disse que o dinheiro encontrado é proveniente de um seguro recebido pelo policial, além de economias pessoas, e que estava dentro de um cofre. "Portanto, o dinheiro não é ilícito", disse o advogado.

Entenda o caso

A adolescente Tayná Adriane da Silva, de 14 anos, desapareceu no dia 25 de junho quando voltava da casa de uma amiga, nas proximidades de um parque de diversões, em Colombo, na Região Metropolitana de Curitiba. O corpo da menina foi encontrado no dia 28 de junho. Três dos quatro suspeitos, presos no dia anterior, confessaram ter estuprado e matado Tayná. Um deles não teria participado diretamente do crime. No mesmo dia, o parque de diversões foi depredado e incendiado por moradores da região.

No dia 2 de julho, a perita do Instituto de Criminalística, Jussara Joeckel, afirmou que a adolescente poderia não ter sido violentada, contrariando a tese inicial das investigações. Mesmo com as contradições, a Polícia Civil finaliza o inquérito no dia 5 de julho com a conclusão de que os quatro suspeitos estupraram e estrangularam a adolescente. Porém, no dia 9 de julho o resultado de exame de DNA indicou que o sêmen encontrado na calcinha da garota não é compatível com o material genético de nenhum dos quatro acusados.

Este laudo gerou uma mudança no comando da investigação policial do crime, que já contava, desde a conclusão do inquérito pela delegacia do Alto Maracanã, em Colombo, com a participação do Ministério Público. O laudo também motivou uma visita da Comissão de Direitos Humanos da OAB-PR aos suspeitos, que relatavam que foram torturados pela polícia para confessar os crimes.

No dia 12, o MP afirmou que os indícios coletados relacionam os suspeitos presos ao crime. Mas, no dia 14, o promotor Paulo de Lima se manifestou em sentido contrário, afirmando que as provas presentes no inquérito não sustentam uma denúncia e pedindo a soltura dos suspeitos pelo crime. Nesse meio tempo, no dia 13, o até então advogado de defesa dos suspeitos presos, Roberto Rolim de Moura Junior, foi destituído, sendo substituído por Andrey Salmazo Poubel.

No dia 15, pela manhã, o ex-defensor afirmou que foi hostilizado durante o depoimento de seus então clientes na Sesp. No mesmo dia, durante a tarde, os quatro presos foram soltos e levados a um pouso provisório pelo Gaeco. Também no dia 15, foi feito o pedido de prisão preventiva de 15 policiais denunciados por supostas torturas ocorridas nas apurações da morte da adolescente.

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