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Cena de "Acossado" de Godard, de 1960 | Divulgação/Impéria Filmes
Cena de "Acossado" de Godard, de 1960| Foto: Divulgação/Impéria Filmes

A ausência de funcionários em alguns dos principais setores do Hospital de Clínicas (HC) de Curitiba, por conta da greve dos funcionários técnico-administrativos da Universidade Federal do Paraná, iniciada na segunda-feira, foi duramente criticada ontem pelo diretor-geral do HC, Giovani Loddo. Um levantamento parcial feito pelo hospital mostrava que 51 pessoas não estavam trabalhando em área críticas como as unidades de terapia intensiva (UTI), os centros cirúrgicos, o tratamento semi-intensivo e a urgência e emergência. "Em todas as greves anteriores essas áreas que podem representar risco de morte para os pacientes haviam sido respeitadas", afirmou Loddo, bastante preocupado com a situação.

O clima de tensão no maior hospital público do estado ficou evidente ontem, durante a entrevista coletiva convocada pelo diretor-geral do HC. Os grevistas pressionaram durante todo o tempo para entrar na sala – que estava fechada à chave – para falar com os repórteres. Chegaram a esmurrar a porta. Como não conseguiam entrar, ficaram fazendo coro do lado de fora. Gritavam coisas como "mentiroso" e "papelão".

Os grevistas rebateram as afirmações pouco depois em uma coletiva improvisada no saguão de entrada do hospital. Afirmaram que o pessoal que está sendo mantido nas áreas críticas é equivalente ao de um plantão de fim de semana e, portanto, suficiente para dar conta do recado. Disseram ainda que estão fazendo a greve, antes de mais nada, para impedir a privatização do hospital.

Eles também negaram que as cirurgias e consultas desmarcadas no hospital se devam exclusivamente à greve. Dizem que os cancelamentos são normais. E contam que algumas cirurgias que foram canceladas na semana passada não puderam ser feitas porque não havia escovinhas de unha para os médicos. Loddo diz que pode ter faltado insumo em um ou outro caso, mas que a greve é responsável por parar todas as cirurgias no hospital, exceto as de urgência e emergência.

Fundação

O pano de fundo da greve é a transformação dos hospitais universitários em fundações estatais. Para os grevistas, trata-se de um artifício do governo federal para separar os hospitais da universidade e privatizar vagas que hoje são do Sistema Único de Saúde (SUS). "Eles vão fazer duas portas, uma bem longe da outra. Numa entra quem tem convênio, na outra entra o povão", dizia um dos líderes do movimento.

A direção do hospital, por outro lado, afirma que a criação das fundações estatais vem apenas para agilizar as decisões dentro do hospital, diminuindo burocracia. No novo modelo, que está em votação no Congresso Nacional, os hospitais continuam tendo o diretor designado pelo reitor da universidade e as regras continuam sendo ditadas pelo Conselho Universitário. Os funcionários, porém, deixam de ter estabilidade e passam a ser celetistas, embora sejam contratados por concurso e só possam ser demitidos depois de processo administrativo.

Hoje, além dos cerca de 2,3 mil funcionários públicos concursados, contratados pelo Ministério da Educação, o HC conta com mais 1,2 mil funcionários, aproximadamente, contratados pela Funpar, a Fundação da UFPR, que não têm estabilidade e são pagos pelo próprio hospital. Estes não participam da greve atual no HC, mas podem começar em breve uma nova paralisação. É que eles estão em negociação salarial com a direção do HC e ainda não há acordo sobre o reajuste que será dado.

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