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O megatelescópio será construído no monte de Cerro Armazones, no deserto chileno do Atacama | Divulgaçao/ESO
O megatelescópio será construído no monte de Cerro Armazones, no deserto chileno do Atacama| Foto: Divulgaçao/ESO

Projetos brasileiros

O maior observatório em solo brasileiro fica na cidade de Itajubá, em Minas Gerais, onde os astrônomos têm à disposição um telescópio com 1,6 metro de diâmetro. O Brasil ainda tem 30% de participação no Southern Observatory for Astronomical Research (SOAR), no Chile, onde está instalado um telescópio com 4 metros de diâmetro. Em parceria com instituições norte-americanas, brasileiros participam ainda do Gemini, com telescópios de 8,1 metros de diâmetro, no Chile e no Havaí.

Faltou verba ao projeto

O Brasil comprometeu-se a aderir ao ESO em dezembro de 2010, a partir de um acordo assinado entre o então ministro da Ciência e Tecnologia Sérgio Rezende e o diretor-geral do ESO, Tim de Zeeuw. Porém, para ser validada, a participação brasileira precisa de aprovação do Congresso. O trâmite deveria ter sido feito em 2011, mas a proposta ficou engavetada na gestão do ex-ministro Aloizio Mercadante, o que gerou críticas por parte dos europeus. A argumentação do governo brasileiro foi a de que faltava verba para o projeto. Em 2011, o orçamento do ministério teve um corte de 23%.

Zeeuw chegou a acusar o Brasil de atrasar a construção do megatelescópio. Em janeiro deste ano, ele declarou que foram feitas inúmeras tentativas de contato com Mercadante, porém não houve respostas. O diretor do ESO afirmou, em entrevista ao jornal Folha de S. Paulo, que, se o projeto não for aprovado até o meio do ano, o Brasil poderá ser substituído por Israel, Rússia ou Austrália, países com interesse no programa. Enquanto o Brasil não se posicionar, não é possível iniciar os contratos de construção do telescópio. A previsão é de que o instrumento esteja pronto aproximadamente uma década após o início das obras.

  • Dietrich Baade, astrônomo e cientista do ESO

O projeto brasileiro de adesão ao consórcio formado por 14 países para construir o maior telescópio do mundo no deserto do Atacama, no Chile, não avançou. Apesar de o governo ter assumido o compromisso de participar do grupo há mais de um ano, a proposta ainda não saiu do Ministério da Ciência, Tecnolo­gia e Inovação para ser aprovada pelo Congresso. O megatelescópio terá um diâmetro de 39 metros e será usado para identificar planetas situados além do Sistema Solar com potencial para abrigar vida.

A construção do E-ELT – Teles­có­­pio Extremamente Grande Eu­­ro­­peu, denominação do megatelescópio – é um projeto do Obser­vatório Europeu do Sul (ESO), entidade científica de referência na pesquisa em Astronomia. O Brasil foi o único país não europeu a ser convidado para o consórcio, mas, oficialmente, não faz parte do projeto porque ainda não teve a proposta aprovada pelo Congresso.

Antes de ser encaminhada ao Legislativo, a matéria ainda precisa receber o aval da Casa Civil. O Ministério da Ciência informou que está finalizando aspectos jurídicos do projeto para o encaminhamento à pasta. O Brasil foi criticado pelo atraso na tramitação e pode até ficar fora do consórcio caso a situação não seja resolvida neste ano.

Avanço

Cientistas brasileiros que participaram de um workshop especializado na área de Astrofísica, com pesquisadores de 16 países, ressaltaram a importância de o Brasil entrar no ESO para o avanço da ciência no país. O evento foi realizado em Foz do Iguaçu, entre o final de fevereiro e início de março.

De acordo com especialistas, a participação brasileira no projeto representa um avanço sem precedentes na área de Astronomia. Pa­ra o professor do Instituto de Astro­nomia, Geofísica e Ciências Atmos­féricas da Universidade de São Paulo Antônio Mário Maga­lhães, o país terá um salto qualitativo na pesquisa. "Vai qualificar-se em um nível que jamais conseguiríamos de outra maneira." Ele destaca a importância de o Brasil ter acesso a observatórios de ponta, a exemplo do ESO, para a qualificação de alunos da graduação e pós-graduação.

O presidente da Sociedade Astronômica Brasileira, Eduardo Janot Pacheco, afirma que o projeto representa uma revolução para a Astronomia brasileira, com impacto em outras áreas relacionadas. "Isso vai ter reflexo na Mate­mática, Computação e Cosmolo­gia." Com a participação no ESO, o Brasil vai ser coproprietário do equipamento. Indústrias brasileiras também poderão habilitar-se para construir o telescópio. O mercado é considerado promissor para setores de aço e ótica.

A adesão abre portas para os cientistas terem acesso à estrutura do Observatório, com sede na Alemanha e escritório no Chile, e construírem o E-ELT. Mesmo sem a confirmação oficial, cientistas brasileiros começaram a fazer pesquisas utilizando-se da infraestrutura do ESO.

Recursos

O E-ELT vai custar 1,2 bilhão de euros, cerca de R$ 2,8 bilhões. Para ser incluído no projeto, o Brasil precisa desembolsar 250 milhões de euros, cerca de R$ 575 milhões, que serão pagos em 11 parcelas. O valor pago pelos países do consórcio é calculado com base no Pro­duto Interno Bruto (PIB) de cada um.

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EntrevistaDietrich Baade, astrônomo e cientista do ESO (foto quadro)

Obter imagens diretas de planetas extrassolares do tipo da Terra com potencial para abrigar vidas é um dos desafios dos cientistas a partir da construção do E-ELT. Nesta entrevista, o astrônomo e pesquisador do Observatório Europeu do Sul (ESO), Dietrich Baade, fala sobre o projeto.

Em que estágio está a construção do E-ELT?

Já foram cinco anos de planejamento detalhado. Já temos todos os desenhos esquemáticos para produzir o telescópio. Basicamente o que está faltando é a permissão final das nossas agências financiadoras. Os nossos engenheiros estão ansiosos para começar.

Quem são os financiadores?

Cerca de um terço do dinheiro vem do orçamento atual do ESO. Um terço vem de contribuições adicionais dos países membros e aproximadamente um terço viria de novos países membros que contribuiriam na forma de uma taxa de adesão.

Quais as dimensões do telescópio?

O diâmetro do espelho primário será de 39 metros. Não será uma peça única de vidro aluminizado, mas consistirá em 800 elementos com cerca de 1,4 metro de largura. Se você pegar todos os telescópios dos observatórios profissionais existentes e colocá-los juntos, a capacidade de coletar luz é inferior à que esse novo telescópio terá.

Quais os principais objetivos de pesquisa com esse telescópio?

Queremos buscar um planeta similar à Terra, orbitando uma estrela semelhante ao Sol e a uma distância de até 30 anos-luz. Claro que não sabemos se existe um planeta como esse tão perto. Sabemos com certeza que as galáxias são formadas por estrelas e gás, porém não sabemos quando e como. Esse é outro objetivo de elevada importância. Sabemos que a expansão do Universo está se acelerando, porém não sabemos quando essa aceleração se iniciou e, por isso, não podemos restringir suficientemente bem os modelos da Cosmologia. E um quarto aspecto muito importante é decompor as galáxias externas em estrelas individuais, de maneira que possamos estudar estrelas individualmente em outras galáxias. Outro interesse principal são as galáxias elípticas, diferentes de nossa Via-Láctea e, portanto, interessantes para comparação.

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