• Carregando...
Rosala Garzuze, na casa em que vivia na Vila Isabel: fim de uma linhagem | Priscila Forone/Arquivo Gazeta do Povo
Rosala Garzuze, na casa em que vivia na Vila Isabel: fim de uma linhagem| Foto: Priscila Forone/Arquivo Gazeta do Povo

Morreu ao meio-dia de ontem, no Hospital do Trabalhador, em Curitiba, o médico Rosala Garzuze, aos 103 anos. Rosala dirigia o Instituto Neopitagórico – o Templo das Musas –, na Vila Isabel, desde 1937, quando recebeu a liderança da casa das mãos de seu sogro, o poeta paranaense Dario Vellozo. Com seu desaparecimento, praticamente finda uma linhagem de intelectuais oriundos do simbolismo, corrente literária que fez escola na cidade a partir do final do século 19.

Familiares e adeptos do instituto informaram que, apesar da idade avançada e da dificuldade de locomoção, causada por uma queda recente, Rosala estava lúcido e ainda desenvolvia atividades no Templo das Musas. Era comum vê-lo pessoalmente envelopando textos para alunos associados de outros estados e países. Ainda não se fala em sucessão. "Até o meio-dia de ontem, ele permaneceu o nosso presidente", diz um dos membros, que não quis se identificar. O Ins­tituto Neopitagórico se pauta pela discrição em torno das atividades internas, tradição que deve ser mantida na transição.

Rosala era natural do Líbano e veio com a família para o Brasil quando tinha 3 anos de idade. O pai, Assef Jorge, se fixou no bairro do Portão onde, na visão dos populares, a forte presença de mascates libaneses constituía uma espécie de "República dos Turcos". Em­­bora vivesse em meio a comerciantes e viajantes, Garzuze escolheu os estudos e se tornou um leitor refinado.

Estudante do então Ginásio Paranaense – atual Colégio Estadual do Paraná – teve nos anos 20 seu primeiro encontro com o professor Dario Vellozo. Conforme contou o próprio Rosala, o estudioso não percebeu. "Era orador, filósofo, contista... Meu inspirador. Mas nem me notou na sala de aula. Fui um menino muito tímido", lembra. Mas fatalmente haveria ali um "encontro marcado". Atraído pela oportunidade de folhear uma enciclopédia de Diderot e D’Alembert, que havia na biblioteca do Templo das Musas, Rosala tomou o bonde e bateu na porta da casa onde vivia Dario, na Vila Isabel. Fez-se frequentador do local e em 1932 se casou com Carmen, uma das filhas do mestre.

Médico de formação – tendo se aposentado como professor de Anatomia no curso de Medicina da UFPR –, Rosala Garzuze era, sobretudo, "um interessado", como gostava de se definir. O Instituto Neopitagórico, cuja filosofia entrelaça os diversos campos do conhecimento, procurando nexos entre eles, lhe serviu como uma luva. À frente do grupo, estudou das ciências exatas à literatura, passando pela Cosmologia, a Ética ou o que mais o desafiasse.

A vida intelectual, pode-se dizer, o manteve jovial e participativo. Ao completar 100 anos, em 2006, declarou à Gazeta do Povo: "Apesar da violência, o mundo de hoje é muito melhor do que o do passado. Há mais conhecimento exato, mais liberdade de pensamento, amor à infância e participação das mulheres."

* * * * *

Serviço:

Rosala Garzuze está sendo velado na Capela 2 do Cemitério Parque Iguaçu, próximo ao Parque Barigui. O sepultamento será hoje, às 11 horas, no mesmo local.

0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]