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ILS no Aeroporto Internacional Afonso Pena, emCuritiba: novo equipamento evitaria atrasos e cancelamentos de voos | Jonathan Campos/Gazeta do Povo
ILS no Aeroporto Internacional Afonso Pena, emCuritiba: novo equipamento evitaria atrasos e cancelamentos de voos| Foto: Jonathan Campos/Gazeta do Povo

Tendência

Em Curitiba, faltam espaço e tecnologia

Vinicius Boreki

Duas questões que se arrastam há anos devem ser superadas para ampliar a capacidade do Aeroporto Internacional Afonso Pena, na região metropolitana de Curitiba, e diminuir a interferência dos nevoeiros: a construção de uma terceira pista e a instalação do ILS-2 (na segunda pista) ou ILS-3 (equipamento que permite operações mesmo em condições climáticas adversas).

O projeto para uma nova faixa de pousos e decolagens existe desde 1999, mas nunca saiu do papel. O estudo de 11 anos atrás passa por atualização e depende de ações de desapropriação para ser concretizado. O ILS-3, por outro lado, foi prometido pelo Ministério da Defesa em abril deste ano, porém não existem dados concretos sobre sua instalação. Por enquanto, o Afonso Pena está equipado com o ILS-2 em sua pista principal.

Atrasos

Neste ano, até o último dia 7, o aeroporto permaneceu fechado por 99 horas, com 92 voos cancelados. Quase metade do período sem operação aconteceu em julho. Das 720 horas de operação, em 43 horas e 30 minutos, perto de 6% do mês, não foi possível decolar ou pousar. Em 2009, 289 voos foram cancelados devido às condições climáticas. Junho, julho e agosto somaram 154 cancelamentos. A transição do outono para o inverno torna esses meses mais propícios aos nevoeiros, especialmente no fim da noite e no início da manhã.

  • Confira um raio X do movimento nos aeroportos nas cidades-sedes do mundial

Definido há três anos como país-sede da Copa do Mundo de 2014, o Brasil ainda não fez nenhum grande investimento para modernizar os aeroportos – considerados cruciais pelo fato de o Mundial ser realizado em um país de dimensão continental. Sem modal ferroviário e com rodovias esgotadas, os voos domésticos serão um meio de transporte importante durante o evento. A Fifa já anunciou que pretende concentrar os grupos de seleções em quatro regiões do Brasil para evitar voos acima de duas horas de duração.Com os terminais no rumo da saturação, as obras já anunciadas, mas ainda no papel, precisam ser feitas, e logo, para o país não reviver o caos aéreo de anos passados, com tumultos em check-in, filas na inspeção de raio X e demoras além da conta para pegar a bagagem na esteira.

A urgência nas reformas e ampliações não está relacionada apenas com a Copa do Mundo, mas também à necessidade de dar conta do avanço do mercado de aviação. As viagens aéreas cresceram no ritmo de 10% ao ano entre 2003 e 2008. No início de 2010, chegou a 20%. Para atender à de­­manda crescente, as companhias aéreas lançam novas rotas – movimento que vem sendo freado exatamente pela falta de infraestrutura aeroportuária no país.

Se o que foi feito se resumir a maquiagens aqui e ali, especialistas já apontam 2012 como o ano da estagnação completa dos aeroportos – dois anos antes da chegada de torcedores, imprensa internacional e das seleções. A realização da Copa do Mundo deve acrescentar 10,3% de passageiros no movimento projetado de 158 milhões de pessoas para 2014.

Além da circulação de aviões de carreira e de fretamentos para a Copa, é preciso lembrar o que ocorreu na África do Sul, com o espaço aéreo e terminais sendo invadidos por uma frota de jatos particulares durante a realização do último Mundial.

A Infraero, estatal responsável pelos aeroportos localizados nas 12 cidades-sedes, promete investir R$ 6,48 bilhões em modernizações. O problema agora será o prazo, já que as obras são complexas e demoradas. Especialistas em transporte aéreo projetam dificuldades para a estrutura aeroportuária atender o aumento de demanda do país, quanto mais um evento de escala mundial.

"A Infraero anunciou investimento na parte física, mas não prevê nada em tecnologia", alerta Respício Espírito Santo Jr., professor de transporte aéreo da Univer­sidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), referindo-se a softwares que controlam bagagem ou que definem em que ponte de desembarque cada avião deve estacionar.

O especialista critica a falta de planejamento da estatal ao somente dar a largada nos investimentos motivada por "dois eventos de escala planetária" – a Copa de 2014 e a Olimpíada de 2016, no Rio de Janeiro. "Falta preocupação com o nível de serviço, de conforto para o passageiro e de eficiência nos terminais".

Procurada, a Infraero informou que o único executivo credenciado para dar informações sobre os investimentos é o diretor de En­­genharia e Meio Ambiente, Jaime Henrique Caldas Parreira, que estava em viagem ao exterior.

O presidente do Sindicato Na­­cional das Empresas Aero­viárias (Snea), José Márcio Mollo, diz que "não compartilha do otimismo das autoridades" em relação ao andamento de ampliações de terminais e melhorias nos sistemas de pista. "Não dá mais tempo de reformar os aeroportos".

Conforme Mollo, a construção de um terminal consome pelo me­­nos cinco anos entre projeto, licenciamento e construção. O terceiro terminal de passageiros de Gua­­rulhos, por exemplo, ainda não teve o projeto licitado.

É importante desafogar os aeroportos paulistas porque problemas na operação causam um efeito dominó no país. E não é apenas Guarulhos, o principal aeroporto brasileiro, que está com o cronograma atrasado. Uma das soluções apontadas pela Infraero para desafogar as operações seria a redistribuição de voos.

Conforme a Agência Nacio­nal de Aviação Civil (Anac), Congo­nhas, Guarulhos e Santos Dumont (RJ) têm capacidade limitada para novos voos nos horários de pico, embora comportem novas operações nos demais horários. "Não adianta distribuir voos para horários menos movimentados, porque a maior parte é de viagens de negócios", diz Elton Fernandes, professor de produção e transporte da UFRJ. Fernandes compara que seria como um restaurante oferecer almoço às 9 horas da manhã para acabar com o congestionamento ao meio-dia.

Entre as cidades-sede da Copa de 2014, apenas Natal (RN) terá um novo aeroporto. O primeiro módulo do terminal de São Gonçalo do Amarante deve ficar pronto em 2013. Esse será o primeiro grande aeroporto do país com a gestão concedida à iniciativa privada. Quem vencer a concorrência vai poder explorar o serviço durante 35 anos.

Colaboraram sucursal Zero Hora de Brasília, Gaze­ta do Povo (Curitiba), Folha de Pernambuco (Re­­cife), Diário de Natal (Natal), O Povo (Fortaleza), A Crítica (Manaus) e Folha do Estado (Cuiabá).

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