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Um grupo de 200 mulheres e 35 homens escuta horrores todos os dias pela cidade por causa de vagas de estacionamento em Curitiba. Eles são alvo de xingamentos e ameaças de quem não gostou de ser flagrado estacionado em local irregular ou usando indevidamente uma das 6.911 vagas regulamentadas para carros, motos e caminhões existentes no Centro da capital. É difícil um agente de trânsito do EstaR (Estacionamento Regulamentado) sair do expediente sem ter ouvido uma reclamação ou a choradeira de motoristas notificados. Nesta época em que o tráfego de veículos na região central é maior, por conta das festas de fim de ano e das liquidações de janeiro nas grandes lojas, as orelhas destes profissionais estão fervendo.

"Ô, mal-amada. É o que a gente mais escuta quando chega um motorista que está sendo multado ou notificado", conta a agente Liliana Schramm, de 35 anos. Há seis anos ela trabalha na Diretoria de Trânsito de Curitiba (Diretran) – foi agente de EstaR durante quatro anos e hoje atua com a equipe Anjo da Guarda, que socorre os agentes em situações de emergência, tanto em casos de ameaças e agressão física, como quando os profissionais têm algum problema de saúde. "Quando o carro da equipe chega, normalmente os conflitos acabam, mas há motoristas que ficam irredutíveis, não admitem que cometeram infração", relata.

Para os agentes homens, a vida afetiva não é tão mencionada nas agressões verbais quanto é com as mulheres. O mais freqüente é eles receberem sinceros votos de que algo ruim os aconteça. "Se praga pegasse, nós estávamos perdidos", diz Jefferson Pelaquini dos Santos, 28 anos, agente de trânsito do EstaR há cinco anos. "Quando não reclamam do nosso trabalho, reclamam do sistema, do fato de ter de pagar para deixar o carro na rua", conta Pelaquini.

Noventa e cinco ruas de Curitiba têm estacionamento regulamentado das 9 às 19 horas, de segunda a sexta-feira, e das 9 às 13 horas, aos sábados. Quem pára numa das quase 7 mil vagas disponíveis precisa deixar preenchido dentro do veículo um formulário de EstaR que custa R$ 0,75 e vale por uma hora. Os veículos estacionados sem o papel recebem uma notificação de R$ 7,50 e, se continuarem ali depois de duas horas, multa de R$ 53 por estacionamento irregular. Mas nem é preciso fazer a notificação para os agentes serem abordados de maneira agressiva pelos motoristas. "Agente de trânsito não pode parar para escrever que já chega alguém perguntando ‘o que você está marcando aí’ e geralmente não são simpáticos", diz Liliana.

Segundo ela, a primeira reação dos motoristas costuma ser a de tentar dar um "jeitinho" na situação. "Quando vêem que estamos irredutíveis eles partem para a agressão verbal e até física", conta. Enquanto trabalhava só com o EstaR, Liliana chegou a ser agredida fisicamente, não por um motorista, mas por um guardador de carros, bêbado.

"Ao invés de colocar o cartão de estacionamento assim que o carro estacionava, ele esperava o dono do veículo ou o agente de trânsito chegar para preencher os dados. Quando notifiquei o veículo, ele me empurrou contra um carro, com força", lembra a agente. Apesar do rapaz tentar fugir, acabou detido pela Polícia Militar. "Ele passou a tarde na delegacia. Na audiência de conciliação foi estabelecido um período de três meses para trabalharmos na mesma região e ele ser liberado se não houvesse novos incidentes. Hoje cumprimento ele, pergunto da família", diz ela.

Diplomacia

Apesar de saber que a função exige uma boa dose de paciência, não é fácil ser diplomático o tempo todo. "Eu sou enérgica. Se estou dizendo que não pode, tenho certeza disso, não adianta tentar me convencer do contrário. As pessoas acham que eu sou mal-educada porque não mudo a postura", afirma Liliana, que já teve de responder a relatórios por causa de reclamações de usuários.

O agente Pelaquini precisou chamar a equipe Anjo da Guarda duas vezes para contornar situações de conflito. "Numa delas, um motoqueiro estacionou na calçada no Largo da Ordem e começou a gritar enquanto eu anotava a infração. A conversa foi aos berros e o pessoal do comércio saiu para ver o que estava acontecendo. Ele não me agrediu, mas ameaçou dizendo que um dia a gente ainda iria se encontrar de volta", relembra.

Os poréns da função não são suficientes para desanimar os dois profissionais. "Acho gratificante poder orientar as pessoas e ajudar em situações de emergência", afirma Liliana. Pelaquini diz que o trabalho do agente de EstaR é reconhecido principalmente quando ocorrem acidentes de trânsito. "A pessoa geralmente fica desesperada e não sabe como agir. Nessas horas, nossa presença é bem vinda", relata.

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