Uma das nascentes do Rio Miringuava, em São José dos Pinhais: “mesada” aos produtores deve garantir proteção| Foto: Priscila Forone/ Gazeta do Povo

Produtor acha justo receber por preservação

Edmundo Knault tem uma propriedade rural na bacia do Rio Miringuava e diz ver com bons olhos a ideia da remuneração para proteção ambiental, mesmo que tenha de desativar parte da atividade produtiva de sua terra. "Isso é comum em outras cidades mundiais, como Nova Iorque, onde a empresa responsável pelo abastecimento de água paga a produtores que protegem as nascentes dos seus tanques de abastecimento. Ela faz isso porque chegou à conclusão de que é mais barato preservar do que tratar."

Knaut diz ainda não ter sido procurado pela Secretaria do Meio Ambiente e Recursos Hídricos, mas afirma que deverá concorrer aos recursos quando o edital for aberto. "Devo perder uns 70% da minha área produtiva por causa da barragem da Sanepar [que está sendo construída], mas com certeza vou buscar uma contrapartida de preservação se o projeto sair do papel", afirma.

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Auditoria

Apucarana suspende projeto pioneiro de recompensa ambiental

Primeira e única cidade do Paraná a implantar o Pagamento por Serviços Ambientais (PSA), Apucarana resolveu suspender temporariamente o Projeto Oásis. A ação era desenvolvida nas bacias dos Rios Ivaí, Pirapó e Tibagi desde 2009. No ano passado, a remuneração total do programa ultrapassou a casa dos R$ 393 mil no município do Norte paranaense.

Segundo a prefeitura local, a atitude foi tomada para que fiscais ambientais pudessem catalogar cada vertedouro do município. Além disso, diz a administração municipal, "a área jurídica está analisando os acordos, haja vista terem sido encontrados vícios contratuais." A ideia é retomar o projeto assim que os levantamentos forem concluídos. Atualmente, 184 propriedades estão cadastradas no "Projeto Oásis" – ação integrante do Programa Produtor de Água, da Agência Nacional de Águas.

R$ 15 milhões é o orçamento anual do programa "Produtor de Água", segundo a Agência Nacional das Águas (ANA), para elaboração de projetos e apoio na execução das ações. Entretanto, os recursos repassados aos produtores não entram nessa conta porque a filosofia do projeto prevê que eles sejam remunerados com recursos gerados pela própria comunidade usuária da água.

1.000 proprietários rurais recebem o pagamento do "Produtor de Água" atualmente. Eles integram metade do 20 projetos em andamento espalhados pelo país, que abrangem uma área de 306 mil hectares. A outra metade ainda não começou a receber.

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Produtores rurais da Bacia do Rio Miringuava, em São José dos Pinhais (Grande Curitiba), serão remunerados pelo Programa "Produtor de Água" caso adotem práticas de preservação da área do manancial. O ponto de partida do projeto, previsto para fevereiro de 2014, é a assinatura de um convênio entre a Secretaria do Meio Ambiente e Recursos Hídricos (Sema) do Paraná e a Agência Nacional de Águas (ANA). A previsão é que o acordo renda R$ 2 milhões em repasses da agência ao estado no próximo ano.

A assinatura do convênio deverá ocorrer nos próximos dias, mas a implantação do projeto depende da conclusão de um estudo encomendado pela Sema ao Fundo Brasileiro para Biodiversidade (Funbio). Com o levantamento em mãos, o que deve ocorrer ainda neste mês, a secretaria planeja lançar o edital e iniciar os pagamentos em até 60 dias.

Ao todo, 500 agricultores já foram mapeados na microbacia do Miringuava pelo Paraná Bioclima – programa do governo estadual que já previa a implantação do Pagamento por Serviços Ambientais (PSA) aos proprietários do entorno de mananciais e àqueles instalados em Reservas Particulares do Patrimônio Natural (RPPNs).

De acordo com a Sema, a expectativa é que haja pagamentos superiores a R$ 20 mil anuais no Paraná. O valor final de remuneração, porém, dependerá da quantidade de nascentes e cursos d’água existentes na propriedade, o tamanho dela e a adoção de práticas de conservação da biodiversidade.

Inicialmente, a fonte dos recursos, segundo o secretário do Meio Ambiente, Luiz Eduardo Cheida, será o Fundo Estadual de Meio Ambiente. "Mas estudamos a possibilidade de que Copel, Sanepar e pequenas centrais hidrelétricas destinem um pequeno porcentual dos seus faturamentos brutos para o fundo. Elas trabalham com água e serão beneficiadas diretamente pelo programa", diz.

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Exemplo

Um exemplo desse benefício está na Bacia do Rio Miringuava, onde a Sanepar planeja instalar uma barragem para aumentar a capacidade atual da estação de tratamento do rio de 700 litros por segundo para 2 mil. Com a implantação do projeto no local, a empresa poderia equilibrar as despesas com os processos de tratamento da água.

Outras três bacias deverão ser beneficiadas pela ação durante o próximo ano. Elas ainda não estão definidas, mas a ideia é que estejam em locais com contribuição para mananciais de tratamento e de maior densidade populacional – com mais processos produtivos degradantes. Os R$ 2 milhões que serão repassados pela ANA ao Paraná serão utilizados na capacitação dos técnicos do projeto no estado e elaboração dos diagnósticos das bacias.

Estudo sobre pagamento estadual já tem critérios definidos

O Fundo Brasileiro para a Biodiversidade (Funbio) já definiu os critérios para a implantação do Pagamento por Serviços Ambientais (PSA) no Paraná e deverá entregar o seu estudo ao governo do estado até o próximo dia 30.

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"Da forma que propusemos, o pagamento poderá ser explicado ao produtor de modo que ele não fique em dúvida quando um vizinho, com uma área igual a sua, receber mais. Isso porque o cálculo não levará em conta apenas o tamanho da propriedade, mas também a forma como o produtor protege aquele manancial", diz Manoel Serrão, técnico da Unidade de Mecanismos Econômicos e Financeiros da Funbio.

O pagamento será calculado com base no faturamento líquido do proprietário e descontado do chamado "risco agrícola", haja vista que não recairão fatores como o custo da produção sobre a preservação do manancial. O ponto de partida para o cálculo será um porcentual do valor de arrendamento da propriedade.