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Distante da filosofia espírita, admiradores de Chico Xavier buscam a estátua do médium, que fica do lado de fora do túmulo dele no cemitério São João Batista, em Uberaba (MG), para encontrar as gotas d'água que vertem esporadicamente da peça de bronze. A doutrina espírita não acredita em milagres, mas Chico Xavier também ficou conhecido por agregar espíritas e católicos. Após o culto em celebração do centenário dele, nesta sexta-feira (2), muitas pessoas permaneceram no local em buscas das referidas gotas, já consideradas curadouras.

"A água que verte da estátua de Chico Xavier não é milagrosa. Não há verdade nisso. Estão explorando a fé das pessoas. Quero aproveitar o centenário para desmistificar o que as pessoas procuram nesta estátua", disse Eurípedes Higino, filho adotivo do médium.

As demonstrações de fé são das mais variadas. Tem mãe que obriga o filho a encontrar a água e passar imediatamente em alguma parte do corpo adoecida, homens que rezam para que a água verta da peça naquele momento para que possam testemunhar o feito, além de outras que passam a mão na estátua e saem sorridentes com a sensação de ter conquistado algo espitualmente elevado.

Higino afirmou ao G1 que a água que escorre pela estátua é fruto da umidade da peça após ser lavada, o que é feito rotineramente. Além disso, muitas flores, ainda molhadas por conta da rega, são colocadas ao redor da estátua, o que pode provocar o escorrimento da água na imagem. "Não posso permitir que associem o espiritismo a uma coisa como essa."

O filho de Chico Xavier relatou ao G1 que uma florista teria vendido algumas garrafas com essa água para um turista português, que chegou a morar em Uberaba por cerca de três meses para conhecer o trabalho de Chico Xavier. "O rapaz estava com alguma enfermidade e tentou buscar a cura em Uberaba e acabou voltando com essa falsa água milagrosa."

Segundo os mais crédulos, a água verteria do peito direito, perto da gola do paletó e do pescoço da estátua do médium. A segunda hipótese é mais fácil de explicar, pois há uma gota escorrida de adesivo usado para colar os óculos da estátua. O escorrimento tem cerca de três centímetros de comprimento e é transparente, o que leva muitos admiradores do médium a acreditarem que se trata da água milagrosa.

Para Marta Antunes Moura, diretora da Federção Espírita Brasileira (FEB), cada um terá sua interpretação sobre a água que verte da estátua de Chico Xavier. "Cada um tem o direito de ter sua interpretação, de ter sua fé individual, mas não confio que se trate de uma verdade. De qualquer forma, a fé transporta montanhas e, se essas pessoas encontram a fé nesse água, que elas busquem sua fé da melhor maneira."

Parabéns pelo aniversário

A cidade de Uberaba recebeu vários turistas para prestar a homenagem ao médium Chico Xavier. Cerca de 200 pessoas de pelo menos cinco estados e do Distrito Federal estiveram presentes na cerimônia realizada na manhã desta sexta-feira.

Caravanas vieram de Goiás, São Paulo, Paraná, Santa Catarina e de cidades mineiras. Após as preces, o público presente cantou parabéns para o médium. "Ele morreu fisicamente, mas consideramos que ele ainda está vivo, que apenas desencarnou. Então, hoje, cantamos pelos oito anos de saudades dele", disse Marta Antunes.

Chico Xavier morreu, em 30 de junho de 2002, aos 92 anos, na casa onde hoje funciona o museu e a biblioteca que levam o nome do médium. À época, o corpo dele foi velado durante dois dias, na Casa da Prece, por cerca de 80 mil pessoas.

Segundo relato do filho adotivo dele, Eurípedes Higino, no dia de sua morte, Chico Xavier havia acordado cedo, rezado e se alimentado como de costume. Ele ainda teria perguntado o resultado do jogo da seleção brasileira, que disputava a Copa de 2002, e voltado a deitar às 19h20. Ele morreu dez minutos depois, de parada cardíaca.

Histórico

Chico Xavier escreveu a primeira psicografia em 1927, no Centro Espírita Luís Gonzaga, mas a primeira experiência espiritual dele aconteceu quando fez uma oração para a irmã, que estava doente e chegou a ser desenganada pelos médicos. Ela se curou.

Em 1944, ele publicou o livro "Nosso Lar", que vendeu mais de um milhão de cópias. Em 1958, Amauri Xavier Pena, sobrinho de Chico Xavier e que também fazia psicografias, revelou que tudo que havia anunciado como psicografia era criação de sua cabeça. A denúncia chegou a Chico Xavier, que saiu de Pedro Leopoldo após o escândalo e se mudou para Uberaba.

O médium também viajou aos Estados Unidos para divulgar o espiritismo no país, em 1965. Vinte anos depois, João de Deus foi julgado e inocentado pela morte da mulher, vítima de um tiro no pescoço. Cartas da vítima, psicografadas por Chico Xavier, foram usadas no processo judicial.

O último livro publicado por ele, em 1999, se chamava "Escada de Luz".

Nas telas do cinema

A cinebiografia de "Chico Xavier" estreia nos cinemas nesta sexta-feira. O filme, dirigido por Daniel Filho, mostra a história do médium mineiro, da infância à maturidade.

O longa já foi exibido preliminarmente em Paulínia (SP), onde cerca de 40% das cenas foram rodadas, e em Pedro Leopoldo (MG), cidade natal do médium Chico Xavier.

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