O coordenador do Programa Nacional de Controle de Dengue do Ministério da Saúde, Giovanini Coelho, diz não ser possível fazer no momento qualquer avaliação sobre o uso da vacina desenvolvida pelo Instituto Butantã contra dengue. Semana passada, em meio a epidemia que afeta o estado, o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, afirmou que encaminharia um pedido de autorização especial à Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) para antecipar a produção do imunizante.

CARREGANDO :)

Para Coelho, pesquisas realizadas até agora com o produto tiveram resultados promissores. Foram realizados ensaios de fase II, que analisam, principalmente, a segurança e a capacidade de a vacina produzir anticorpos. Mas, ele ressalta que estudos que avaliam a eficácia da vacina ainda estão sendo planejados. “Enquanto não tivermos os resultados, não é possível emitir qualquer opinião sobre seu uso”,diz. Pelo cronograma inicial, a vacina – que prevê aplicação de uma dose – deveria entrar no mercado a partir de 2018.

A vacina em desenvolvimento no Instituto Butantã, em parceria com National Institutes of Health (NIHEl) dos Estados Unidos, não é a única que está em fase de pesquisa. A farmacêutica francesa Sanofi também realiza testes de um imunizante contra a dengue. A previsão é a de que o produto, que está em fase mais avançada de desenvolvimento, entre no mercado no próximo ano.

Publicidade

Giovanini, no entanto, avalia que este imunizante, embora possa ser uma arma importante, não resolverá sozinho o problema de epidemias provocadas pela doença. “A proteção oferecida não ultrapassa 60%. Para um dos subtipos do vírus da dengue, é de 40%”, observou o coordenador.

Veja também
  • Capital paulista tem 3ª morte por dengue; estado soma 196,8 mil casos
  • Ação integrada reforça fiscalização contra a dengue em Curitiba
  • Butantan terá vacina contra dengue em 2018

O fato de a vacina ser aplicada em três doses, por sua vez, impede que ela tenha uma eficácia para conter uma epidemia em curso, como a que vivemos no Brasil. “Ela deve ser usada como alternativa a médio e longo prazo”, completa. O coordenador avalia que o controle da dengue somente pode ser feito de forma efetiva com o uso simultâneo de diversos recursos. “A capacidade de transmissão do vírus é explosiva. A experiência mostra que, para resolver um problema complexo como esse, é preciso usar estratégias variadas.”

Dados do Levantamento de Infestação por Aedes aegypti mostram que a maior parte de criadouros do mosquito transmissor da dengue nas regiões Norte, Nordeste, Centro-Oeste e Sul foi encontrada em lixo e recipientes usados para abastecimento de água. Somente no Sudeste, a maior parte dos focos do mosquito foi encontrada em depósitos domiciliares, como vasos de plantas e calhas.

O coordenador reconhece que os números indicam que a presença dos focos, em parte, está associada também a deficiências de serviços públicos, como a coleta regular de lixo e o abastecimento de água. “O País tem problemas estruturais. Em Recife, ainda há regiões sem abastecimento. Daí afirmarmos que o problema é intersetorial”, diz o coordenador.

Publicidade

Mas ele completa que, mesmo se esses problemas fossem rapidamente solucionados, o problema ainda estaria presente. Ele cita como exemplo Cingapura. “A cidade tem alto índice de desenvolvimento humano, um sistema de abastecimento e de lixo adequado e, mesmo assim, conviveu com altos índices da infecção”, disse. “Outros fatores também são relevantes: hábitos da população, condições climáticas. Tudo tem de ser levado em conta.”

Ele reforça que atuação da população para adotar medidas de prevenção também é muito importante. “As medidas de prevenção devem ser adotadas por todos, seja moradores, seja administração pública.”