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Iracema Antunes: “Às 9 horas começou a encher tudo. Foi o pior dia de todos" | Hedeson Alves/Gazeta do Povo
Iracema Antunes: “Às 9 horas começou a encher tudo. Foi o pior dia de todos"| Foto: Hedeson Alves/Gazeta do Povo

Estado de emergência em quatro cidades

A chuva que atinge Santa Catarina desde terça-feira afetou 15 cidades no estado. Mais de 2 mil pessoas deixaram suas casas. São 31 mil pessoas atingidas e quatro cidades em estado de emergência. Segundo a Defesa Civil do estado, são 2.054 desalojados e outros 203 desabrigados, acomodados em quadras esportivas e escolas.

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Em poucos minutos, a casa da professora aposentada Arvelina Magalhães, 62 anos, virou um quartel-general da operação de resgate no Bairro Alto, um dos mais atingidos pela chuva que cai em Curitiba desde quinta-feira. Uma a uma, as crianças retiradas da água foram levadas para a residência. As roupas molhadas foram deixadas para trás e trocadas por mudas de roupa seca; em seguida, as crianças ganharam sanduíches e chocolate quente.

Ao olhar ao redor, vendo os estragos causados pela cheia do Rio Atuba, Arvelina não continha as lágrimas. Ao fitar os dois netos, limpos e secos do outro lado da sala, chorava ainda mais. "Vendo isso, eles (os netos) aprendem a dar valor. Eles têm de tudo."

A catadora de papel Eliana Aparecida Pereira, 32 anos, chegou contando seu drama. "Coloquei meus seis filhos em cima do carrinho de papel para que eles não se afogassem e ficamos esperando o socorro", disse. Três dos seis filhos já estão ali. "Não sei onde estão os outros três, mas devem estar bem", consolava-se.

A poucos metros dali, cinco policiais militares entravam de novo no rio formado pela enchente. Água até a altura do peito e uma missão: resgatar um casal de idosos que via sua casa ser engolida pela água. O socorro por pouco não chegou tarde demais. "Como ele tem problema nas pernas, não estava conseguindo se levantar e estava se afogando. Já ela estava com os lábios roxos de frio", relatou o pedreiro Sandro dos Santos, 27 anos, morador da região.

A uma quadra dali, os bombeiros Marcos Bonadio e Luís César Ramos perdiam as contas das incursões feitas nas últimas horas no rio que se formou naquelas quadras. As pernas já não eram mais sentidas e já estava difícil suportar o frio e a água gelada. Para piorar, o número de pessoas a serem ajudadas aumentava. Até o início da tarde de ontem, junto com um grupo de quatro moradores, os dois resgataram cerca de 60 pessoas que estavam ilhadas em suas casas.

Nas casas, a imagem era parecida: móveis para cima, pessoas e cachorros empoleirados. Da rua, a única coisa que se podia ver pelas janelas eram pequenos olhos que pareciam estar à espera do resgate. Em outras, uma recepção não tão amistosa. "Tem gente que não quer sair. Deixa para sair quando vê que está para morrer. Aí não tem como tirarmos todos de uma vez", relata o sargento Bonadio.

Perdas

Resgatada da água, a aposentada Iracema Antunes não conseguia contabilizar as perdas. "Às 9 horas começou a encher tudo", relata. "Foi o pior dia de todos." A padeira Leonir de Fátima Nunes estava trabalhando na hora em que a água começou a subir. Foi avisada por um cliente conhecido que a sua região estava sendo engolida pela água. Com o alagamento atingindo ruas ao redor da sua residência, quando Leonir chegou ao seu bairro não conseguiu alcançar sua casa. "Estou preocupada porque não sei como está a minha casa. Mas se aqui está assim, imagine lá", dizia, preocupada.

O bancário aposentado Lydio José da Silva, morador há 30 anos na região, disse ter passado por uma situação semelhante apenas uma única vez. "Isso nunca tinha acontecido, porque o rio (Atuba) era dragado. Agora, nunca mais dragaram, por isso alagou".

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