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O ex-coordenador do Procon-PR, ex-deputado estadual, ex-vice-prefeito de Curitiba e atual candidato a deputado estadual pelo PMDB, Algaci Túlio, acusou o grupo político formado pelo ex-prefeito de Curitiba Cassio Taniguchi (PFL) e pelo ex-governador Jaime Lerner (PSB) de serem os responsáveis pelo empréstimo contraído em 1996 junto ao Banestado, no valor de R$ 200 mil, que deu origem a sua condenação. "Eu fui um bode expiatório, um laranja. Fui usado, como sempre fui por este grupo", definiu Algaci Túlio que adiantou que vai recorrer da condenação junto ao Tribunal Regional Federal da 4º região, em Porto Alegre.

Numa entrevista coletiva concedida na tarde desta quinta-feira no escritório de seu advogado, no Centro de Curitiba, Algaci Túlio contou que nas eleições para prefeito, em 1996, ele tinha 8% de intenção de voto contra apenas 2% de Taniguchi e que Lerner, na época governador, teria lhe pedido para se lançar como vice-prefeito, porque preferia um técnico (Taniguchi) na prefeitura. "A partir daí começou uma grande pressão do Aníbal Khury (na ocasião presidente da Assembléia Legislativa do Paraná), da Fani Lerner (esposa de Jaime Lerner) e de todo o grupo político, ao qual eu participava", explicou.

Algaci Túlio teria respondido que as pessoas de sua campanha estavam na rua e que haveria um gasto com a campanha, algo em torno de R$ 200 mil. "Eu disse que não queria nada em troca, mas já que só me restava ser vice do Taniguchi, que eles (grupo de Taniguchi e Lerner) pagassem as despesas da campanha", relembra.

"Idéia de contrair o empréstimo foi do grupo do Lerner e do Taneguchi"

O grupo, segue Algaci Túlio, se reuniu e depois teria garantido que iriam achar uma solução para pagar despesa. A saída encontrada seria passar a despesa (R$ 200 mil) para a campanha de Taniguchi. Dez dias depois, vencidas as eleições, Algaci Túlio teria se encontrado no gabinete de Taniguchi mostrando preocupação com a despesa - ainda em aberta.

"A idéia do grupo (formado por Taniguchi e Lerner) era que eu arrumasse, contra a minha vontade, duas empresas para que fosse feito dois empréstimos no Banestado - de R$ 100 mil cada - para cobrir as despesas", diz Algaci Túlio. "E que depois, no acerto das contas da campanha do Taniguchi, esses empréstimos seriam quitados", completa. "Ou seja, essa idéia maldita de pegar o dinheiro no Banestado não foi minha. O interesse não era meu e a solução não foi minha. O grupo, ao qual pertenci, tem toda essa responsabilidade", acusou.

A operação bancária (empréstimos) existiu, confessa Algaci Túlio: R$ 100 mil que assinou como avalista para uma empresa, e R$ 100 mil que ele teria tomado em nome da Documenta Produções Cinematográficas Ltda, que tinha como proprietários o próprio Algaci Tulio e o seu filho Marcelo Túlio, e prestava serviços durante a campanha política de 1996.

Empréstimo teria sido autorizado por pressão superior

O empréstimo, porém, só foi concedido, segundo Algaci Túlio, depois de uma autorização do grupo político - uma vez que o ex-coordenador do Procon não tinha cadastro e crédito para realizá-lo. "Tanto é (grupo teria autorizado), que os ex-diretores do Banestado só foram condenados porque sofreram pressão deste grupo político e autorizaram a operação", detalha. "Podem ver meu imposto de renda e verão que eu não tenho lastro para pegar um empréstimo de R$ 200 mil", completa.

Os 10 ex-diretores do banco, condenadas à prisão pela Justiça Federal do Paraná teriam dito em depoimento, segundo o advogado Júlio Militão da Silva, que fizeram os empréstimos por pressão superior, "pressão do grupo do Lerner", diz. "É preciso deixar claro, e o próprio juiz na sentença diz isso, que o dinheiro não foi usado pelo Algaci Túlio e sim na campanha do Taniguchi", enfatiza Militão.

Para advogado forma de divulgação da sentença compromete a Justiça Federal

Tanto o advogado quanto Algaci Túlio disseram estranhar a forma em que a Justiça Federal divulgou a sentença - "nenhum dos condenados foram intimados oficialmente, o que é altamente comprometedor para a Justiça Federal", disse Militão. Ainda de acordo o advogado, a defesa vai mostrar que Algaci Túlio jamais poderá ser condenado pelo crime de colarinho branco, como diz o juiz na sentença. "Ele não pode ser condenado por esse crime, porque é aplicado a quem gere o dinheiro público, o que não é o caso", esclareceu. Sobre o montante da dívida, contabiliza Algaci Túlio, é de R$ 200 mil e só chegou a quase R$ 3 milhões graças as renovações e pagamentos de precatórios. "O grupo político teria pago com os precatórios, mas há quem diga que esta operação rendeu lucros ao Banestado", desconfia. "Cabe ao juiz fazer uma contabilidade disso", alfinetou.

"Requião não tem dúvidas da minha honestidade", diz

Outro fato que causou estranheza, segue Algaci Túlio, é o fato de "aparecer" dois meses antes das eleições a decisão de um processo que estava sobre segredo de justiça - pedido pela juíza após receber a denúncia do então senador Roberto Requião. "Eu tenho absoluta certeza que se o Requião (já no cargo de governador) duvidasse da minha honestidade ele não me daria o cargo de coordenador do Procon durante o seu governo", diz.

"Na votação da venda da Copel aconteceram fatos interessantes", suspeita Algaci Túlio

Outra fala do ex-coordenador do Procon que ficou no ar, sem dar mais detalhes, foi uma possível irregularidade acontecida durante a votação da venda da Copel. "Quem sabe se eu tivesse feito um acerto, dessses já tradicionais da política, e votado a favor da venda da Copel, talvez até sobrasse alguma coisa para mim", sugeriu. "A maior prova de honestidade foi eu ter votado contra, ou será que ninguém tem olhos para ver que durante a votação aconteceu fatos interessantes", completa.

Recursos poderão chegar a Brasília

Os próximos atos da defesa, de acordo com Militão, será recorrer ao TRF da 4º região e conforme a decisão pode caber um recurso especial no Superior Tribunal de Justiça (STJ) ou extraordinário no Supremo Tribunal Federal, (STF), ambos em Brasília.

Mágoa de Jaime Lerner

No final da entrevista, depois de alguns momentos de choro e após dizer que tanto Taneguchi quanto Lerner, então desconhecidos da população, foram eleitos graças a seu apoio político e sua popularidade, Algaci Túlio destoou. "Sempre fui leal a este grupo político, mas ouvia que para o Lerner eu não era prioridade. Se não tivesse uma boa índole e se tivesse uma arma, eu poderia estar respondendo por um crime na cadeia", concluiu.

Taneguchi responde

Cássio Taniguchi se defendeu das acusações de Algaci alegando que não sabia de nada. "Não tenho e nunca tive qualquer relação com os empréstimos realizados", afirmou. "Também não me recordo de que as empresas constantes no processo tenham prestado serviços na campanha de 96", disse, frisando que, caso as empresas tenham sido contratadas, foram por Algaci e sem a sua autorização.

"A tentativa de envolvimento do meu nome nesse processo é totalmente descabida e tem fins únicos e exclusivos de denegrir minha imagem tendo em vista a proximidade das eleições."

Perguntado durante a coletiva sobre a reação de Taniguchi, Algaci Túlio foi irônico: "O presidente Lula (Luiz Inácio Lula da Silva) tembém diz que não sabia de nada", numa alusão à corrupção vivenciada no Congresso Nacional.

Lerner responde

Já Jaime Lerner disse que os fatos noticiados por Algaci não são verdadeiros. "Repudio, veementemente, essas inverdades. Estou, a partir de hoje, tomando as medidas necessárias para que a verdade e minha honra permaneçam. Essa situação é absurda. E é óbvio que isso aí foi orquestrado", afirmou o ex-governador em nota, sugerindo que foi uma manobra de adversários políticos em período eleitoral.

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