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“O pior é o sentimento de humilhação e de rejeição”, desabafa Celiana | Gilberto Abelha/Jornal de Londrina
“O pior é o sentimento de humilhação e de rejeição”, desabafa Celiana| Foto: Gilberto Abelha/Jornal de Londrina

Defesa de alunos diz que pode processar a vítima

A defesa dos alunos apontados por racismo na turma do 4º ano do curso de Direito da Faculdade Arthur Thomas decidiu partir para o ataque contra a aluna Celiana Lúcia da Silva, autora da denúncia.

O advogado Reinaldo Inácio Alves Júnior, representante de dois dos alunos envolvidos, qualificou o caso como uma "brincadeira de mau gosto" e estuda possível contra-acusação a Celiana por "denunciação caluniosa" – comunicação de fatos falsos a autoridades policiais.

"A ofensa não foi feita de forma direta para ela como em outros casos públicos", compara o advogado, em relação ao episódio dos torcedores que gritaram termos racistas diretamente para o goleiro Aranha, do Grêmio. "Os comentários foram em uma rede privada e, pela ausência da intenção, não houve crime", defende o advogado.

No aplicativo, foi publicado uma foto com o pé de Celiana, seguido de várias afirmações ofensivas. Alves Jr. preferiu tratar a situação como "imoral e antiética" e argumenta que a conduta dos alunos foi restrita a um grupo de internet do qual Celiana não era parte - mas 15 pessoas estavam no grupo em que as conversas ocorreram. "Não foi crime", insistiu Alves Júnior. "O que resta é arquivar qualquer denúncia ou apuração que exista", concluiu, alertando que o excesso na denúncia da professora "deve ser punido também".

Após passar o fim de semana em dúvida, a professora Celiana Lúcia da Silva, 48 anos, decidiu tomar uma atitude na manhã de segunda-feira: assim que entrou na Faculdade Arthur Thomas, em Londrina, onde frequenta o 4.º ano de Direito, ligou para a Polícia Militar (PM) para denunciar atos de injúria racial e racismo cometidos contra ela.

No relato à PM, Celiana acusou colegas de sala de ofensas graves, com o uso de frases racistas, que ridicularizavam sua cor e suas roupas. Como provas, usou diálogos do grupo no aplicativo Whatsapp, do qual ela não fazia parte. A estudante foi avisada das injúrias por uma amiga.

Em uma das conversas, os alunos comentam uma foto do pé dela. "É o pé da Celiana?", pergunta um deles. "Com meia ou sem meia?", ironiza outro, referindo-se à cor da pele. Outros estudantes também entram na conversa. "Achava que ela tava de meia preta."

"Já passei por várias situações de racismo. Mas essa me entristeceu mais por serem alunos de Direito e colegas de faculdade", diz Celiana, que há 15 anos é professora da rede estadual e ativista nas discussões sobre como o racismo pode ser tratado no ambiente escolar. "O pior é o sentimento de humilhação e de rejeição."

A PM entrou na faculdade e identificou cinco alunos envolvidos nas mensagens. Segundo o delegado-chefe de Londrina, Márcio Amaro, todos serão ouvidos no inquérito aberto pela Polícia Civil a partir do Boletim de Ocorrência da PM. "Os comentários foram para várias pessoas. Registrei o caso na Ouvidoria da faculdade na semana passada, mas senti como se fosse um problema que deveria resolver sozinha", queixou-se Celiana. "Não vi uma atitude pedagógica correta."

Para Celiana, denunciar foi um passo difícil, mas necessário. "As pessoas não podem ser tímidas. Pensei muito e decidi que seria a última vítima desse grupo."

Faculdade

"Lamentamos e não concordamos com qualquer postura racista. Vamos investigar a partir das provas e tomaremos uma decisão à altura do problema", garantiu Francielle Calegari de Souza, coordenadora do curso de Direito da Faculdade Arthur Thomas.

Em 2013, a instituição foi uma das poucas que debateu o Dia da Consciência Negra na cidade. "Prevenimos e abordamos a questão dentro do nosso currículo, mas não temos como controlar o que os alunos fazem fora daqui ou pelo celular. Não seremos coniventes", assegura. Os alunos podem ser expulsos ao final da apuração interna.

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