Em setembro, 587 km2 da Amazônia foram desmatados. Apesar da queda, Mincconsidera número “inadmissível”| Foto: Paulo Whitaker/Reuters

Desmatamento cai, mas ainda é "inadmissível", diz Minc

BRASÍLIA - Apesar da queda de 22,36 % no desmatamento na Amazônia em setembro, em relação ao mês anterior, registrada pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), o ministro do Meio Ambiente, Carlos Minc, disse ontem que considera "inadmissível" a devastação de uma área tão grande. No total, 587 quilômetros quadrados foram desmatados, contra os 756 km2 de agosto.

De acordo com o ministro, os números ainda não são satisfatórios, embora seja sempre melhor uma redução. Ele atribuiu a redução no desmatamento a uma série de fatores como: maior rigor nas operações, embargos e apreensões de bens, leilões de gado, de madeira, e também a presença da direção nacional nas operações de fiscalização.

Minc também comentou o fato de o estado de Mato Grosso ter a maior extensão desmatada no mês passado, com 216 km2. Ele prometeu passar um "pente fino nos planos de manejo estaduais" porque pode haver fraudes.

Agência O Globo

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Brasília - O avanço do aquecimento global deve provocar um crescimento de 40C nas temperaturas médias do mundo e levar à extinção 45% das espécies da Amazônia até o ano de 2100. A conclusão é do professor britânico Martin Parry, um dos coordenadores do 4º Relatório do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC), promovido pelas Nações Unidas. Ele e outros responsáveis pelo estudo apresentaram ontem análises e recomendações sobre o assunto ao presidente Lula.

Parry defendeu uma posição de liderança do governo brasileiro perante a China, Rússia, Índia e África do Sul para a aceitação de metas de redução de emissão de gases de efeito estufa. Segundo ele, o mundo precisa se comprometer a reduzir as emissões em 80% a partir de 2015 para evitar um colapso do planeta até o fim do século. Ele considera decisiva a participação do país nos próximos dois grandes encontros mundiais sobre o tema, na Polônia e Dinamarca, que ocorrem até o fim do ano que vem.

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A exposição dos dados ocorreu no mesmo dia em que um grupo de entidades da sociedade civil, lideradas pelas organizações não-governamentais Greenpeace, SOS Mata Atlântica e Instituto Socioambiental, entregou um manifesto ao ministro do Meio Ambiente, Carlos Minc, com críticas severas ao Plano Nacional de Mudanças Climáticas. A proposta foi enviada pelo Executivo ao Congresso há um mês e teria 14 problemas graves, a começar pela falta de metas quantitativas de redução de gases.

Na prática, o descuido com o aquecimento global deve atingir em cheio a agricultura nacional, responsável por 50% do Produto Interno Bruto (PIB) do país. "Países mais pobres ou em desenvolvimento são mais vulneráveis", disse o pesquisador brasileiro Carlos Nobre, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais e um dos representantes brasileiros no IPCC. Segundo ele, com aumento da temperatura, há a tendência da divisão do ano em apenas duas estações – seca, mais quente, e chuvosa, mais fria. Uma das regiões mais afetadas seria o semi-árido nordestino, que deve ficar ainda mais desértico e com terras incultiváveis. Também há a previsão de diminuição de até 65% da Floresta Atlântica.

O processo de "tropicalização" das estações levaria, por exemplo, ao fim das lavouras de café no Paraná e de maçã em Santa Catarina. "Chegaríamos ao ponto de importar café da Argentina, já que o clima deles é que ficaria apto a essa cultura", afirmou Nobre. Por outro lado, o pesquisador explicou que a matriz brasileira de emissão de poluentes permite uma análise mais otimista em relação a outros países.

Do total de emissões, 55% são provocadas pelo desmatamento do Cerrado e da Amazônia, 25% pela agricultura (especialmente o metano produzido por bovinos) e apenas 17% pelo setor de energia. Ao contrário da China, que tem 80% da poluição originária da produção energética, o Brasil pode estipular metas a partir do combate ao desmatamento. Entre 2005 e 2007, o país registrou uma diminuição de 60% nas áreas desmatadas, mas a tendência de queda começou a se inverter drasticamente em 2008. "O curioso é que esse é um setor que responde por apenas 1% do nosso PIB, ou seja, cuja diminuição das emissões não trará problemas à economia", ressaltou Nobre.

Crise

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Para Parry, o mundo estará "perdido" caso os Estados Unidos deixem de lado as discussões sobre aquecimento global em função da crise financeira mundial. Ele destacou que, apesar de também estar no meio do turbilhão econômico, o Reino Unido acaba de anunciar medidas para reduzir as emissões de gases poluentes em 80%. O professor admitiu, porém, que os líderes políticos mundiais têm "outras prioridades" no momento, ligadas às medidas para conter a desaceleração do crescimento.