• Carregando...

Matilde Marchiski, 42 anos, não imagina como seria a vida se não tivesse de fazer hemodiálise. É solteira e não tem filhos. Morava na zona rural de Teixeira Soares e precisou largar a lida na roça para se mudar para Ponta Grossa, onde faz sessões três vezes por semana. "Não é mais a vida normal que eu tinha", define. Há 14 anos ela espera pelo transplante de rim. A insuficiência renal, resultado do agravamento de uma doença conhecida como Lupus, lhe acompanha desde os 28 anos. Por quatro vezes Matilde esteve perto de conseguir um novo rim, mas os testes clínicos apontaram incompatibilidade. Ela não perde a esperança e espera ainda estar "forte" quando a sua vez chegar.

É com bom humor que os pacientes enfrentam a rotina do tratamento. Eles não podem se ausentar da cidade por mais de dois dias. Se o doente deixar de fazer a hemodiálise, corre o risco de ter uma parada cardíaca. Além disso, a maioria convive com duras restrições alimentares, como a recomendação de não ingerir água. Muitos sentem vergonha de mostrar os braços, com as veias inchadas e machucadas pelo processo de filtragem.

Sofia de Lara, 68 anos, espera ansiosamente que o número de transplantes aumente. Na fila por um rim há um ano, ela pode se submeter à cirurgia somente até completar 70 anos – o tempo médio de espera por um rim no Paraná é de 2 anos e meio. Para ela, a quantidade de doações não é maior porque falta informação. "Se eu tivesse algo que prestasse, doava tudo", afirma. Para os pacientes renais, o individualismo da vida contemporânea é que desmotiva a doação. "As pessoas não sabem o que é passar pelo que a gente passa", comenta o ferroviário aposentado Vílson Santos, 50 anos.

As sessões de hemodiálise, sempre com os mesmos companheiros, viram ponto de encontro. A convivência que começa forçada acaba se tornando roda de amizade. Nas mais de três horas em que os pacientes ficam ligados às máquinas, conversam sobre todos os assuntos. Família e os acontecimentos das novelas são os principais. Nos últimos tempos, um dos temas preferidos é a situação de Alexsandro Gomes, 30 anos. Depois de anos de hemodiálise, ele conseguiu o transplante e fez a operação em novembro. Está na fase mais crítica – os primeiros três meses depois do transplante são difíceis, segundo os médicos – mas já não precisa mais freqüentar as três sessões semanais com os companheiros de prosa e espera. (KB)

0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]