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Como agem os medicamentos

A depressão é um transtorno psiquiátrico que se caracteriza por afetar o estado de humor da pessoa, deixando-a com um predomínio anormal de tristeza. A explicação mais aceita para a ocorrência da doença é o desequilíbrio bioquímico dos neurônios responsáveis pelo controle do estado de humor.

A depressão, assim como os outros transtornos do humor, está relacionada a uma redução na transmissão dos impulsos ou dos sinais nervosos nas áreas do cérebro que regulam o humor. Na pessoa deprimida, ocorre uma falha na neurotransmissão envolvendo principalmente os neurotransmissores norepinefrina, dopamina e serotonina. Os medicamentos usados no tratamento da doença atuam aumentando os níveis de alguns desses neurotransmissores e promovendo o reequilíbrio dos neuroreceptores.

Menos de cinco minutos numa consulta com um clínico geral foi o suficiente para a dona de casa Ângela Ferreira da Silva, 47 anos, ter em mãos uma receita de fluoxetina, um medicamento antidepressivo conhecido comercialmente como Prozac.

"Na época eu estava cheia de problemas em casa, meu marido havia perdido o emprego, meu filho havia engravidado a namorada, havia uma série de preocupações", lembra.

A situação vivida pela dona de casa não é exceção, os especialistas na área de psiquiatria, alertam sobre a prescrição indiscriminada de antidepressivos e por profissionais não habilitados. Estatísticas da Organização Mundial da Saúde (OMS) mostram que dos pacientes que procuram ajuda em um clínico geral, apenas 50% são diagnosticados corretamente.

Em muitos casos, isso é decorrente de um conceito deturpado do que é a depressão, uma doença que atinge atualmente cerca de 17% da população mundial. A prevalência é maior, em uma escala de três para um, entre as mulheres. O psiquiatra e professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Marco Antônio Brasil, ressalta a aplicação do termo depressão para uma série de situações distintas. "É comum a gente ouvir falar "ah fulano está deprimido", afrima.

Acontece que tristeza não é depressão. Os antidepressivos são indicados para o tratamento de um transtorno psíquico, não para quem está passando por um processo de luto, ou de infelicidade na vida", afirma. Segundo ele, uma pessoa triste geralmente tem algum motivo para se sentir assim. Já o deprimido não, ele perde a motivação de viver, de fa-zer suas atividades. Tem um sentimento de total desprazer pela vida, embora não tenha um motivo claro para se sentir assim.

Efeitos colaterais

Segundo os especialistas, quem toma remédio sem a indicação correta tem mais riscos de sofrer com efeitos colaterais. Mesmo achando que não era o caso, Ângela resolveu tomar a medicação indicada, mas agüentou apenas 15 dias. "Me fez muito mal, tinha tremedeiras, não conseguia comer. Perdi dez quilos", comenta.

Para o psicanalista e psiquiatra Rubens Coura, que produziu uma tese de doutorado sobre o uso abusivo dos antidepressivos e as falhas nos diagnósticos de quem sofre de depressão, o uso incorreto dessas drogas pode produzir o que ele chama de uma "satisfação artificial". "O que acontece é que o paciente toma o remédio e passa a se contentar com a realidade sem que tenha havido uma melhora real das circunstâncias", explica. Entretanto Coura faz questão de ressaltar que se bem administrados os antidepressivos são extremamente benéficos no tratamento da depressão. "Considero esses medicamentos uma bênção, o problema é que o uso se tornou leviano", resume.

Já o chefe do departamento de psiquiatria da Universidade Federal do Paraná, Élio Mauer, ressalta que a depressão mal tratada também é um problema grave e envolve sérios riscos. Segundo dados da OMS, a maioria dos pacientes deprimidos que não é tratada irá tentar suicídio pelo menos uma vez e 17% deles conseguem se matar. Já com o tratamento correto, 70% a 90% dos pacientes recuperam-se da doença.

Na opinião do psiquiatra e consultor do Conselho Regional de Medicina do Paraná (CRM-PR), Marco Antônio Bessa, o problema não é unilateral. De um lado há o excesso de prescrição por parte da classe médica e por outro o preconceito da população em relação às doenças psiquiátricas. "O paciente prefere pegar uma receita de antidepressivo com um médico de qualquer outra especialidade do que ir a uma consulta com um psiquiatra. É a velha idéia de que psiquiatria é coisa de louco", afirma. Na opinião do psiquiatra, o agravante de outros especialistas receitarem antidepressivos é que muitas vezes esses profissionais não têm o conhecimento específico para indicar a dose correta, o tipo do medicamento mais adequado e nem a fazer um acompanhamento depois. "Até porque o tratamento não é só prescrição", alerta.

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