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São Paulo – A modelo Ana Carolina Reston Macan, de 21 anos, morreu terça-feira, em São Paulo, em conseqüência de uma anorexia. Ana Carolina tinha 1,74 metro e pesava apenas 40 quilos. Ela estava internada desde outubro. Uma infecção urinária se transformou em um quadro de insuficiência renal e, em seguida, evoluiu para infecção generalizada. Carolina foi enterrada terça-feira mesmo, em Pirapora do Bom Jesus, a 54 km da capital, no jazigo da família.

"Ela sempre foi magrinha, mas nesse meio magro é gordo. Ela comia pouquíssimo, só sujava o prato. Só uma vez a cada três ou quatro meses, ela comia o prato que mais gostava, que era feijoada", diz Mirthes Reston, tia de Ana Carolina. De acordo com familiares, ultimamente ela só comia maçã e tomate.

Difícil viver só disso, especialmente se ainda se tem de complementar o orçamento fazendo um bico à noite como promoter de boate, distribuindo panfletos para atrair freqüentadores. "O que ela mais queria era me ajudar", conta a mãe, Míriam Reston, 58 anos, ex-ourives que há cinco anos virou vendedora de rua. Ela também luta com o recente diagnóstico do marido doente de mal de Alzheimer.

O caso de Ana Carolina é um clássico. Nascida em Jundiaí numa família de classe média, ela sonhava em ser modelo desde criança. Venceu um concurso realizado no interior; pouco depois foi descoberta por uma olheira de agência e, logo, começou a "modelar". Tinha, então, 13 anos.

Recusa

A modelo pertencia ao elenco da agência L’Equipe. "A Carol chegou a fazer um catálogo para o (Giorgio) Armani, mas, pouco depois, a correspondente da agência lá me ligou dizendo que ela estava magra demais. Isso me pareceu preocupante vindo de uma profissional acostumada a lidar com modelos. Achamos melhor trazê-la de volta", conta a dona da L’Equipe, Lica Kohlrausch.

A empresária diz que não percebeu, ao olhar para a menina na volta, nenhum sinal físico de anorexia. "Esses casos são mais raros do que se propaga. Eu tive apenas uma menina anoréxica, em 1986, e nunca mais." Com altura de 1,74 metro, a modelo tinha um Índice de Massa Corporal (IMC) de 13,21.O índice normal, segundo a Organização Mundial de Saúde, varia de 18,5 a 24,9.

A tia afirma que a família começou a se preocupar com a magreza excessiva de Ana Carolina há dois anos, quando ela retornou de uma temporada na China. Mirthes afirma, no entanto, que só depois do internamento foi percebido que ela sofria de anorexia e bulimia.

"Ela morava em São Paulo com uma amiga. Quando passava mal e vomitava, ela abria o chuveiro para que ninguém ouvisse. Só depois percebemos isso", conta a tia.

Nascida em Jundiaí, a 100 km da capital paulista, Ana Carolina começou a piorar no fim de outubro, quando passou a sentir fortes dores no rim. Internada no Hospital do Servidor Público Municipal, em São Paulo, no dia 24 de outubro, ela pediu para a mãe que comprasse uma coxinha e um sorvete de limão no dia em que foi internada.

"Depois, ela tomou apenas o chá e a torrada servidos pelo hospital e disse para a mãe que iria dormir, pois não estava agüentando nem respirar. Logo depois, a pressão caiu para 3 por 5 e ela teve de ser levada para a UTI."

Mirthes afirma que, além da bactéria que causou a infecção inicial, os médicos constataram também a presença de um fungo, que atingiu o pulmão. "Ela não tinha resistência. Os médicos fizeram de tudo, foram muito carinhosos e cuidaram muito bem dela. Mas não tinha jeito. A anorexia a levou à morte. Ela estava fraca e debilitada, nada fez efeito para combater a bactéria", diz a tia.

Segundo Mirthes, representantes da L’Equipe tinham percebido que Ana Carolina estava muito magra e teriam sugerido que ela fosse a um psicólogo. A família, no entanto, diz que não sabe o nome do médico nem tem conhecimento se ela chegou a ir a alguma consulta.

A tia conta que Ana Carolina era muito carinhosa com a família e sempre trazia presentinhos para todos das viagens que fazia. Além disso, ajudou a família com os cachês que recebia quando modelo. "Ela trabalhou muito para ajudar a família."

Segundo Mirthes, a família do namorado de Ana Carolina sugeriu transferi-la para um hospital particular, mas ela não poderia deixar a UTI. Ela contou que representantes da L’Equipe visitaram a modelo no hospital, mas que a agência não assumiu despesas médicas.

Mirthes chora e conta que não deixou a mãe ver o corpo de Ana Carolina antes que ela fosse maquiada.

A garota, que sempre foi magra, teve de ser vestida com uma calça tamanho 48 depois de morta, pois seu corpo inchou.

Procurado por telefone pela reportagem, Alexandre Torchia, diretor internacional da agência, disse que não iria se pronunciar sobre a morte de Ana Carolina "a pedido da família".

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