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Disposição para aprendizado permanente: Rosi (65 anos), Sirley (53), Antonio (68), Gilda (84, de bengala), Maria Lúcia (74), Márcio (67), Madalena (67), Alcindo (59), Jesué (85) e Magdalena (61), alunos do Núcleo de Atenção à Pessoa Idosa da PUCPR | Valterci Santos/ Gazeta do Povo
Disposição para aprendizado permanente: Rosi (65 anos), Sirley (53), Antonio (68), Gilda (84, de bengala), Maria Lúcia (74), Márcio (67), Madalena (67), Alcindo (59), Jesué (85) e Magdalena (61), alunos do Núcleo de Atenção à Pessoa Idosa da PUCPR| Foto: Valterci Santos/ Gazeta do Povo

Quando é feita à criança, a pergunta "O que você vai ser quando crescer?" tem um rosário de respostas. A reação é diferente quando a interpelação é para um adulto maduro: o que você vai ser quando envelhecer? "É muito interessante observar a falta de planejamento que as pessoas têm em relação ao próprio envelhecimento. Muitos têm dificuldade em se enxergar daqui a 10, 20 ou 30 anos", diz o clínico-geral e gerontólogo Vitor Jorge Brasil, professor da especialização em gerontologia da Universidade Positivo, de Curitiba. A imagem cristalizada de um idoso frágil, isolado socialmente e inativo contribui para que a terceira idade seja carregada de estigmas e preconceitos quanto à sua funcionalidade e papel social. O futuro parece fazer parte apenas dos planos dos jovens. Mas velho também tem futuro. E precisa cuidar dele.

A verdade é que a preocupação com a velhice não pode começar só quando o calendário passa a acumular mais de seis décadas de existência. "É preciso se preparar ao longo da vida. Desenvolver atividades que garantam o sentido de utilidade, seja na família, no trabalho, na comunidade ou nas relações pessoais. Inte­resses e talentos que serão aprimorados e desenvolvidos na velhice", observa a gerontóloga De­­borah Fatuch Rabinowitz. É esse desenvolvimento que vai atenuar e até reduzir a rejeição e a indiferença típicas que o recém-aposentado so­fre, por exemplo. "Nas sociedades modernas o valor de um ser humano em geral está muito ligado a sua condição de trabalhador ativo. Uma vez perdendo essa condição, a sociedade esquece o indivíduo. Esse abandono pode levar uma pessoa despreparada a um progressivo estado de depressão pela falta de perspectivas que iluminem seus últimos anos de vida", explica.

Chegar aos 60 anos ou conquistar a aposentadoria é um marco, nem sempre positivo. "Em uma sociedade braçal, como a nossa, a questão do idoso é subjulgada. Mas o mercado produtivo não pode estar atrelado à idade. Deve ser ligado ao desempenho e à função laboral", diz Brasil. Não se trata de fazer o idoso trabalhar até perder a saúde ou ser explorado. O importante é respeitar sua pro­­­dutividade. "Isso pode ocorrer mesmo em trabalhos voluntários, onde ele devolve para a sociedade a contribuição que recebeu durante toda a vida. O que é inaceitável é ficar parado, esperando a morte chegar". O médico faz uma conta simples, que ilustra a inatividade como uma incoerência matemática. "A expectativa de vida só aumenta. Os centenários são cada vez mais comuns. O sujeito passa os primeiros 25 anos se preparando para o mercado, os 25 ou 30 seguintes, trabalhando. Depois para tudo e não faz mais nada nos próximos 40 anos. É quase a metade da vida subutilizado", conta.

Encarar o espelho

Quem passou pela experiência da depressão depois do fim do ciclo de trabalho formal conclui que permanecer ativo é a saída para garantir boa saúde mental e aproveitar a experiência de vida para fazer mais do que esperar a morte. Magdalena Teixeira Almeida, 61 anos, foi analista de negócios até se aposentar. A falta de trabalho a deixou na lona. "Fui diagnosticada com depressão e transtorno de humor". Depois de descobrir que podia continuar aprendendo no Núcleo de Apoio à Pessoa Idosa da Pontifícia Uni­versidade Católica do Paraná (Napi, da PUCPR), voltou à vida. "Renasci aos 60 anos. A convivência com outras pessoas foi meu remédio", diz.

Como Magdalena, cada um dos alunos do Napi tem um histórico sobre o choque inicial e da posterior superação de descobrir-se idoso. Viuvez, casamento dos filhos, aposentadoria precoce – mesmo planejada –, separação conjugal, limitações físicas e de saúde são alguns dos baques que fazem parte da trajetória de vida de senhores e senhoras que perceberam que a velhice é mais do que lamentar-se. O veredicto é da pianista aposentada Gilda Soares Fernandes, de 84 anos: "Aos 60 anos, não se senta. É preciso movimento constante".

Rosi Natália Matos, de 65 anos, é uma "moça" de 20 anos. Um casamento de 30 anos e cinco filhos homens depois, conta que hoje, depois de 16 anos de separada, ela finalmente assumiu traços da sua personalidade que estavam camuflados. "Canto, danço, sou brincalhona e divertida. E só pude ser assim depois que me separei. Mas me esforço todos os dias para crescer intelectualmente e provar o meu valor para meus filhos", diz.

O autoconhecimento é uma chave importante para superar as limitações – físicas e sociais –, impostas pela idade. "O idoso precisa identificar as novas possibilidades que a vida traz. Não é fácil aceitar as mudanças. O idoso tem de estar disposto a refinar seus conhecimentos. Não é porque fez 60 que tem de parar", explica Sirley dos Santos, 53 anos, a caçula do grupo. O plano de aposentadoria traçado por ela e o marido previa o fim do trabalho formal aos 50 anos. O casal deixou o mercado de corretagem imobiliária e voltou às origens: trabalham no plantio de frutas e hortaliças em uma chácara na região metropolitana de Curitiba. "Fizemos novas amizades e temos o prazer de trabalhar na terra, como quando éramos crianças. Só que agora sem a obrigação do sustento".

Envelhecer bem pode ser também uma questão de gênero. A bibliotecária aposentada Maria Lúcia Almeida de Castro Segui, de 74 anos, acha que a mulher tem mais condições de atravessar a barreira dos 60 anos com menos sofrimento. "Somos mais flexíveis. Durante toda a vida fazemos multitarefas e também lidamos melhor com nossas emoções. A solidão tipicamente masculina deixa os homens muito distantes, os isola mais", observa.

Para os rapazes, sair da casca pode ser mais difícil, mas é igualmente compensador. An­­tônio da Silva Nascimento, 68 anos, voluntário no Hospital Erasto Gaetner, está pronto para re­­­tomar o trabalho. Depois da perda da mulher e três anos de turismo, resolveu abrir um escritório de representação de uma multinacional. "Agora eu quero trabalhar, usando a minha experiência". Já o metalúrgico aposentado Alcindo Borges, 59 anos, está pronto para curtir a vida. "Vou viver melhor, com tempo para fazer o que eu quiser".

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