• Carregando...

O gaúcho Walter Galvani, 78 anos, tem autoridade para falar de jornais. Ele soma 13 obras publicadas e uma carreira longeva na imprensa gaúcha. Seu livro O prazer de ler jornal – da Acta Diurna ao blog, da Editora Unisinos, é o testemunho de um veterano em prol de um suporte de informação que, a seu ver, não envelhece.

Walter Galvani por Walter Galvani?

Nasci em Canoas, no Rio Grande do Sul, em 1934, tenho portanto 78 anos, completo em maio 79. Morei lá muitos anos, depois em Porto Alegre. Desde 1998 moro em Guaíba. Enquanto isso, não paro de trabalhar. Já visitei mais de 20 países, tendo vivido um ano inteiro em Portugal. Tenho 13 livros publicados. Trabalhei também muitos anos em rádio, na Pampa e na Guaíba. E sigo atuando, como cronista em vários jornais, escrevendo muitos textos para publicar em breve e coordenando oficinas de criação literária.

Jornais são indispensáveis?

São, continuarão sendo e serão cada vez mais quando se convencerem os editores que os jornais precisam formar, criticar, elogiar, avaliar, projetar e esclarecer muito mais do que simplesmente noticiar. Jornais são indispensáveis se ocuparem o espaço que contenha todas as respostas que as pessoas buscam, em todas as áreas. Da ciência e cultura ao dia a dia das cidades.

O que deixou saudade?

A missão formadora dos jornais, de opinar, tomar partido, não ficar em cima do muro. Tem de dizer, por exemplo, que os criminosos foram os que liberaram a tal boate [em Santa Maria] e perigosos são os que aprovam a tal de "avalanche" no novo estádio do Grêmio, onde morreram oito porque a sorte os salvou. Tudo desrespeito às pessoas e menosprezo às normas.

O que diria sobre a crise de leitura dos jornais?

Que jornal tem de ser revolucionário. Não pode chegar às mãos dos leitores repetindo em o que todo mundo já sabe. Tem que meter o pé na porta e chegar dizendo o que talvez ninguém tenha coragem de dizer. Se você olha na banca e não vê nenhuma novidade, não compra.

Quais as práticas de leitura de Walter Galvani?

Fortaleci meu costume de ler um ou dois jornais de saída, de manhã cedo, além de que ouço o rádio desde que acordo. Leio em viagem. Leio em casa antes de dormir. Há mais de 20 anos leio um livro por semana, em média.

Quando houve o acidente da TAM, o colunista da FSP, Contardo Caligaris publicou um texto dizendo-se chocado com as emissoras de TV, que não pararam sua programação para cobrir o assunto. E se declarou orgulhoso dos jornais impressos que se entregaram à cobertura. O senhor teve orgulho da ação da imprensa para a tragédia de Santa Maria? Uma hora triste como essa mostra que nada substitui a boa imprensa?

Há 2.144 anos, os romanos começaram a se agrupar em torno de uma pedra, na qual apareciam grafados os grandes acontecimentos do dia, fosse o resultado de uma batalha, a morte de um general, um decreto dos imperadores ou do prefeito de Roma. Eles liam a Acta Diurna, ou seja, a Gazeta Diária ou o Correio Diário.

A imprensa tem mudado de suporte, tem se modernizado permanentemente. Começou a imprimir seus exemplares com Gutenberg, hoje transmite por meios eletrônicos. Mas o fascínio pela notícia, boa ou ruim, permaneceu atravessando esses 23 séculos. Digo que nada substitui o "prazer de ler jornal", mesmo que às vezes a gente tenha de engolir o negativo, o circo de horrores em que se transformou o mundo que se apresenta erradamente como "civilizado".

Não o é. O que aconteceu em Santa Maria é uma prova disso. E veja-se o jogo de empurra entre os incapazes e incompetentes e em alguns casos criminosos que exercem as funções públicas por lá e por toda a parte. As televisões continuaram com suas lamentáveis programações porque elas nivelam por baixo e apresentam uma programação medíocre e daí para pior. Vendidas à publicidade comercial, é dela que dependem. Fazem pesquisas que lhes comprova que o bom mesmo é apresentar aquelas drogas deformadoras. Há muitos anos não vejo novelas, embora reconheça que algumas delas são até bem feitas.

O que falta ao jornalismo? Textos, grandes textos, interpretativos ou informativos. E Cultura com C maiúsculo. E eu diria que até poesia. Quando publico em minhas páginas na internet, (tenho um "site" e uma página no Facebook), algum poema do Mario Quintana, Fernando Pessoa ou qualquer outro "grande", minha caixa fica lotada.

Gostei do trabalho que os jornais de Porto Alegre, aos quais tenho acesso direto, fizeram da tragédia de Santa Maria. Foi exemplar. Dissecaram tudo. Mas, acho que algumas "autoridades" não gostaram... Historicamente tem sido assim. Quando a imprensa vai fundo, tem muita gente que não gosta. E o rádio ou a televisão sempre ficam na superfície. Pelas próprias características do meio de comunicação.

0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]