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São Paulo – Em pronunciamento para cerca de 250 fiéis, lideranças de entidades e do PT, o padre Júlio Lancelotti, 58 anos, rebateu ontem pela primeira vez as acusações de suposto desvio de dinheiro público fornecido a ONGs e relações homossexuais com um ex-interno da antiga Febem que o teria achacado, durante três anos, em cerca de R$ 150 mil.

"Eu nunca tive acesso a nenhum recurso da entidade Centro Social Nossa Senhora do Bom Parto. Mesmo porque eu sou conselheiro da entidade, eu nunca tive acesso e nem tenho acesso às contas", afirmou o padre, que há duas semanas não dava declarações oficiais.

Sobre a informação de que manteria relação homossexual, o padre disse que, se fosse verdade, não teria gravado o ex-interno o chantageando – as fitas foram entregues pelo religioso à polícia no final de agosto.

"Quando agora dizem que eu tenho relacionamento (homossexual) com uma dessas pessoas (ex-interno da Febem), se eu tivesse, por que eu gravaria? Em qualquer momento da gravação ele poderia dizer ‘e o nosso caso? Você agora esqueceu?"’, argumentou o padre Júlio.

As acusações contra Lancelotti foram feitas nas últimas duas semanas por Nelson da Costa, 47, advogado dos quatro suspeitos de extorquirem dinheiro do padre – todos foram presos. O ex-interno Anderson Batista, 25, acusado por Lancelotti de ser o mentor das chantagens, disse após ser preso, na semana passada, ter recebido de R$ 600 mil a R$ 700 mil do religioso, em troca de relações sexuais.

O padre também virou réu em inquérito que o investiga por corrupção de menores. O procedimento foi aberto após uma testemunha dizer à polícia que ele molestava sexualmente um adolescente na entidade Casa Vida 2, na Mooca (zona leste de São Paulo).

Passeata

Ontem, por volta das 9 horas, fiéis saíram da igreja de São Miguel Arcanjo e caminharam até a frente da casa do religioso, no Belém (zona leste). Entre os solidários ao padre, estavam os vereadores petistas Beto Custódio e José Américo, além de integrantes de entidades e de pastorais.

Para a maior parte das pessoas que participaram do ato, o padre é alvo de calúnias. "Se ele cometeu isso (relação homossexual), não pode ser marginalizado", declarou Sidnei Pita, 37, presidente da ULC (Unificação das Lutas de Cortiço). "Eu sou homossexual e sei como é ser perseguido."

Para o vereador Américo, todas as denúncias contra o padre são infundadas. "O padre é perseguido por defender os mais oprimidos, como moradores de rua", disse o vereador.

A fiel Ana Maria Abjom, 50, da comunidade católica de Vila Formosa (zona leste), disse que Lancelotti é "um verdadeiro santo", por isso é perseguido. "Ele incomoda os poderosos."

Mais magro e com a barba por fazer, o padre recebeu apoio também de franciscanos da Toca de Assis.

O padre Júlio Lancelotti ainda pediu orações para os quatro suspeitos presos sob a acusação de extorsão. Após 19 anos, ontem foi a primeira vez que Lancelotti não celebrou a missa de Finados na igreja de São Miguel Arcanjo, na Mooca (zona leste), na qual é pároco. Recluso, o padre está afastado dos seus trabalhos religiosos.

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