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 | CDC Organization/James Gathany
| Foto: CDC Organization/James Gathany

Uma vistoria realizada pelo Ministério Público do Paraná (MP) no Hospital Regional do Litoral e no Centro de Referência de Combate à Dengue, em Paranaguá, mostra que, em meio à epidemia de dengue, o atendimento prestado aos pacientes precisa de “urgentes melhorias”. Segundo o MP, a cidade tem uma taxa de mais de dois mil casos da doença para cada 100 mil habitantes, mas o índice considerado aceitável pelo Ministério da Saúde é de 300 casos para cada 100 mil habitantes. Diante da situação, o MP recomendou à Secretaria Estadual de Saúde (Sesa) que assuma, em um prazo de cinco dias, a vigilância epidemiológica do município.

Na vistoria, realizada no início da semana, o MP constatou que o tempo de espera por atendimento no Centro de Referência chega a ultrapassar três horas em alguns casos. Segundo a prefeitura, 600 pacientes, em média, são atendidos diariamente no local.

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“Meus sintomas começaram na terça-feira (5), esperei menos de duas horas para ser atendido, mas meu hemograma foi agendado só para o dia 9. Como eu não melhorei, voltei ontem e esperei mais de duas horas pelo atendimento”, conta Anderson Lauriano. Com febre alta, o médico decidiu alterar a data do hemograma, que foi feito na manhã de quinta-feira (7) para receber o resultado 24 horas depois.

Para melhorar o tempo de atendimento, o MP recomendou o aumento do número de profissionais que atua no local. A prefeitura informou, em nota, que todas as recomendações feitas pelo Ministério Público do Paraná e pela Secretaria de Estado da Saúde serão atendidas nas próximas semanas e que as exigências vão “aprimorar os serviços já realizados no sistema de saúde municipal com relação à epidemia de dengue, bem como combate ao Zika vírus e chikungunya”.

Recomendações do MP

As primeiras recomendações feitas pelo Ministério Público para evitar uma epidemia de dengue foram em 2013, quando constatou que o número de agentes de combate a endemias era inferior ao necessário. Na época, a cidade tinha um agente para cada 2.283 imóveis, aproximadamente, mas o ideal é de um agente para cada mil. O alerta para o risco de surto foi feito ao prefeito de Paranaguá, Edison Kersten (PMDB), e ao então secretário de saúde do município, Adriano Goulart. As medidas sugeridas para evitar o surto eram o controle do mosquito Aedes aegypti; a realização de concurso público para contratação de novos agentes de endemias; e o retorno dos agentes que estivessem afastados de suas funções.

Em 2014, o MP recomendou ao município que não praticasse as chamadas férias coletivas entre os agentes de endemias e funcionários ligados aos programas de prevenção. As férias coletivas, segundo o documento, eram relativas ao recesso de fim de ano que aconteceu entre 22/12/2014 e 02/01/2015 e, devido às condições climáticas típicas dessa época (clima quente e chuvoso) “poderia comprometer a eficácia na prestação desse serviço público e, por conseguinte, ensejar até risco de epidemia”.

Em 2015, considerando o número já alarmante de casos de dengue confirmados na cidade, o MP destacou o risco da chegada do zica vírus ao município e recomendou que as visitas aos imóveis fossem feitas a cada dois meses. Se o número de agentes para realizar o serviço fosse insuficiente, o município deveria fazer novas contratações.

A Prefeitura de Paranaguá informou que realizou a contratação entre os anos de 2015 e 2016.

Hospital Regional não atende casos graves de dengue, diz MP

A reportagem da Gazeta do Povo esteve no hospital entre os dias 21 e 30 de março e acompanhou alguns pacientes, com diversas patologias, além da dengue. Foi possível constatar que a entrada do pronto-socorro (PS) está cheia todos os dias. As identidades dos profissionais que relataram a situação vivida no HRL serão preservadas.

A vistoria do Ministério Público no Hospital Regional do Litoral (HRL) constatou que os casos de dengue C e D – que são mais graves e exigem internação por, no mínimo, 48 horas – não estão sendo atendidos no local, mas encaminhados ao Centro de Referência do município. “Não consta pra nós que casos graves tenham sido devolvidos, mas nós vamos verificar”, afirmou o diretor da Sesa, Sezifredo Paz. Ele disse também que denúncias de casos de omissão estão sendo investigados. “Todos os casos são investigados, independente se há ou não denúncia de imperícia”.

No hospital, faltam informações sobre os tipos da doença e o cartão de acompanhamento da dengue não está sendo distribuído. Os problemas também estão na falta de profissionais, principalmente enfermeiros e técnicos de enfermagem, para atendimento.

Uma ação civil pública proposta pelo MP relata que o hospital possui 41 enfermeiros e 190 técnicos de enfermagem, o ideal seria 99 enfermeiros e 368 técnicos. A situação, agora, é ainda pior já que há profissionais afastados por causa da dengue. “Hoje uma técnica voltou de licença e outra passou mal, é dengue, vai ficar afastada”, contam os profissionais.

Os funcionários do hospital estão fazendo horas-extras para manter as condições mínimas de atendimento. “Eles pagam bem por essas horas a mais, claro, mas nós já estamos dispensando porque estamos cansados, sobrecarregados”, afirmam.

“A OMS (Organização Mundial de Saúde) recomenda três ou quatro pacientes acamados para cada técnico de enfermagem, para que seja feito atendimento correto. Hoje, eu estou com seis acamados e, há uns dias atrás, já estive com nove”, relata um profissional. Nesses casos, os funcionários precisam definir as prioridades de atendimento. “Nós preconizamos os medicamentos e as dietas (alimentação por sonda), e pedimos aos acompanhantes dos pacientes que deem os banhos, por exemplo. Dependemos muito dos acompanhantes”, admitem os funcionários.

“Isso aqui é absurdo! A minha formação é outra, eu não estudei para fazer curativos, para colocar esse Uripen (espécie de sonda externa para pacientes com incontinência urinária). A gente tenta, mas o certo era ter técnicos de enfermagem para fazer isso”, conta Vera Lúcia Alves, que acompanha o pai, internado há quase 20 dias.

Os pacientes, acompanhantes e funcionários do hospital dizem que faltam itens básicos para atendimento como esparadrapo, para fazer curativos, e aparelhos para aferir pressão arterial. “Esse aqui [aparelho de pressão] eu peguei de uma colega, ela sempre traz de casa para poder trabalhar”, conta uma técnica de enfermagem.

No corredor do pronto-socorro, pacientes já internados aguardam em macas e cadeiras por vagas nos quartos. “Esses dias, veio um dos meus chefes aqui vistoriar todos os quartos para ver se realmente não tinha condições de abrir mais vagas nos leitos. Nós estamos lotados”, conta uma enfermeira.

A Sesa não confirma o número de profissionais que atua no hospital, nem se há previsão para realizar novas contratações. Em nota, afirmou que o hospital é referência na região e conta com 165 leitos gerais e 14 leitos de UTI. “Em 2015 mais de 50 mil pacientes foram atendidos no hospital. Dado o enfrentamento da epidemia de dengue em Paranaguá e o não atendimento de todos os pacientes nas unidades de saúde municipais, o hospital tem atendido acima da média mensal, mas mantém as equipes necessárias para suprir a demanda”. A Sesa afirmou ainda que tem apoiado a prefeitura no combate à dengue e que estuda novas medidas para ampliar o atendimento aos pacientes.

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