• Carregando...

Jeferson, 15 anos, não teve muitas opções. Desde muito cedo foi sendo empurrado para o narcotráfico. Desde a separação dos pais e o abandono da mãe, aos 8 meses de idade, sua identidade foi sendo construída espelhada num pai viciado e nos tios traficantes. Iniciado pelo pai no mundo do crack aos 10 anos, passou a cometer delitos para sustentar o vício. Não tardou a ser recrutado pelo narcotráfico. Agora, em sua 15.ª passagem pelo Centro Integrado de Atendimento ao Adolescente Infrator (Ciaadi), ele renova as promessas de largar o vício, aprender a ler e escrever para tocar a vida sem mais decepcionar a avó paterna, a única referência de afeto que ainda lhe resta. À espera de uma decisão judicial que o enviaria ou não para internação em Londrina, Jeferson deu a seguinte entrevista à Gazeta do povo.

Esta é sua primeira vez aqui (no Ciaadi)?

Já caí um monte de vezes.

Com que idade você começou a roubar e fumar crack?

Com 10 anos.

Quem te ensinou a fumar crack?

Meu pai.

Você só roubava para comprar crack ou você também vendia?

Quando eu ganhava um "barão" (dinheiro), começava a vender lá no centro, na Praça Carlos Gomes.

Quem eram os seus clientes?

Os caras da favela.

A polícia esteve na favela uns tempos atrás. Não acabou com o negócio dos caras?

(Sinal de negativo com a cabeça.)

Então quem te deu a primeira pedra foi seu pai?

Não, a primeira pedra foi um camarada meu. Eu tinha um real no bolso e falei "ô bicho, vou fumar uma pedra com você" e ele pegou e deixou. Enrolou um mesclado com maconha. Aí nóis foi na casa da amiga dele e ele me deu o cachimbo, aí fumei e minha língua começou a enrolar. Me deu uma overdose.

Você nasceu no Parolin?

Eu sim. Eu tenho uma família de traficante. Meus tios são traficantes.

Qual o motivo das tuas passagens por aqui?

Roubar carro, roubar bolsa.

Já machucou alguém?

Não, atirava no chão, só pra assustar.

Que tipo de gente você mais acostumava assaltar?

Mulher.

Você pensa em um dia parar?

Eu não fumo mais pedra.

Mas você estava roubando um escritório (quando foi apreendido). Por quê?

Comprar uma calça, um boné e só.

0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]