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No segundo ano de vigência do sistema de cotas, o resultado do vestibular da Universidade Federal do Paraná (UFPR), divulgado ontem, junto com os 60 aprovados no curso de Medicina da Faculdade Evangélica, trouxe uma boa notícia para os estudantes de escolas públicas que pretendem ingressar na instituição. Os alunos que estudaram exclusivamente em escola pública não só preencheram as 758 vagas reservadas, como abocanharam 226 postos (5,2% do total de 4.306 vagas) em 15 cursos. Posto de outra forma, conforme explicação da UFPR: o total de calouros provenientes da escola pública aumentou 22% em relação a 2004 (último ano sem cotas), tomando os dois anos como se tivessem tido uma média de 50 mil inscritos e 4 mil aprovados, para efeito de comparação. Esse ano eles representaram 39% dos aprovados em relação ao total de inscritos, contra 31% em 2004.

"É a prova de que o sistema está dando mais oportunidades para as camadas mais humildes da população e os cotistas têm demonstrado que estão cada vez melhores", destacou em entrevista coletiva o reitor Carlos Augusto Moreira Júnior. "Hoje a chance de um estudante de escola pública ser aprovado no vestibular é três vezes maior do que quando não havia cotas."

Ele também fez questão de ressaltar que a reserva de vagas não nivelou por baixo o desempenho dos estudantes, como alegam os críticos do sistema. "A pontuação do primeiro colocado em Medicina, por exemplo, foi equivalente a 8,7. A do último aprovado, partindo da hipótese que seja cotista, o que não temos como afirmar nesse momento, foi 6,6. Ou seja, um estudante classificado com 6,6 não seria bom o suficiente para fazer Medicina na UFPR?", questionou. "Os cotistas estão cada vez melhores."

Já na fatia dos afrodescendentes, o número ficou bem aquém do esperado. Os 353 novos universitários que se declararam da raça negra não somam nem a metade das 758 vagas reservadas para eles – e o número também é inferior aos 573 aprovados no vestibular 2005, quando foram oferecidos 831 postos nas cotas raciais. As vagas remanescentes foram preenchidas pelos melhores classificados na concorrência geral. Mesmo tendo registrado queda, o número de calouros negros ainda é expressivo se comparado com os 47 aprovados no vestibular 2004 – o último sem o sistema de cotas.

"Vamos apresentar esses dados à Comissão Permanente de Acompanhamento do Plano de Metas, via Conselho Universitário, como subsídios para aprimorar o sistema. Cabe ao Conselho definir se ele vai ficar do jeito que está ou se serão feitos alguns ajustes". Uma idéia a ser considerada, aponta o reitor, é o método adotado na Universidade Estadual de Londrina (UEL), que separa 40% das vagas para a escola pública, e dentro dessas, 20% para os afrodescendentes.

A socióloga Marcilene Garcia, do Instituto de Pesquisa da Afrodescendência, já imaginava que haveria uma queda no número de calouros negros em relação ao ano passado. "Houve menos inscritos, portanto deveria haver uma queda proporcional entre os aprovados cotistas", comentou.

Para Marcilene, a resistência por parte da sociedade em relação às cotas e as recentes manifestações racistas em Curitiba teriam inibido alguns candidatos a se inscreverem no vestibular como negros. "Também ouvimos dos nossos alunos que os professores de cursinhos consideraram a prova como uma das mais difíceis dos últimos anos, complementa.

Alegria

Alheia à discussão, a nova acadêmica de Engenharia Civil Camila França dos Santos, de 17 anos e que estudou a vida inteira em escola pública, só queria comemorar. Aos estudantes que vão tentar o vestibular do ano que vem na mesma situação, a menina, que fez um cursinho graças a uma bolsa de 40%, aconselha: "Não desistam, vocês sabem que têm direito, se dediquem ao máximo que dá".

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