O que seria dos gênios se não houvesse quem esfregasse a lâmpada? Albert Einstein, depois de passar aos trancos e barrancos pela escola em Munique e se formar no Instituto Federal de Tecnologia de Zurique (Suíça), ficou um bom tempo sem conseguir emprego, vendo-se obrigado a trabalhar como professor temporário numa escola secundária. Até que um amigo o indicou para o cargo de especialista técnico de terceira classe no Departamento de Patentes da Suíça, em Berna, onde trabalhou de 1902 a 1909. Esse trabalho garantiu o sustento dele e da família, e permitiu que ele se debruçasse sobre as teorias a respeito do "quanta de luz", movimento browniano e da relatividade – os principais artigos sobre esses temas foram escritos nesse período.

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Outro gênio, esse brasileiro, também teve quem abrisse as primeiras portas. Ignorando o prognóstico sombrio de um médico, que atestou que ele jamais andaria direito por causa do "defeito" nas pernas, Mané Garrincha foi jogar futebol no Esporte Clube Pau Grande (na sua cidade natal), onde chamou a atenção de um ex-jogador do Botafogo chamado Arati. Não foi ele porém quem o levou para fazer um teste no clube da estrela solitária, que o alçaria ao estrelato. A exemplo de Einstein, o "padrinho" de Garrincha permanece no anonimato.

Numa tentativa de reparar essa injustiça freqüente da História com os incentivadores dos grandes talentos, a Gazeta do Povo mostra hoje o reconhecimento de personalidades de destaque no estado com aqueles que lhes abriram as primeiras portas.

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Guilherme Caldas, empresário e designer

"Quem me deu a primeira oportunidade de trabalho foi uma artista plástica muito badalada, Regina Silveira, que foi minha professora e me convidou para ser assistente no ateliê dela em São Paulo. O meu filho tinha acabado de nascer, eu precisava trabalhar e estava pensando em trancar o curso de Artes Plásticas na ECA/USP. Ela falou: ‘nada disso, você vai terminar esse curso e tocar a sua vida, se não vai acabar como esses bichos-grilos que passam o resto da vida presos à universidade’. Hoje eu não faço exatamente o que fazia quando trabalhei no ateliê, mas aprendi muitas técnicas, as etapas de um trabalho e parâmetros de capricho que utilizo na minha atividade."

Robert Amorim, o Beto Batata, empresário e chef

"Foi uma jornalista de Economia do Rio de Janeiro, Gardênia Garcia, que em 1982 abriu um restaurante em Ipanema chamado Chez Nous. Eu a conheci graças ao filho dela, Otávio Garcia, baterista com quem eu convivia na noite. Eu tinha 21, 22 anos, era muito tímido, e ela me convidou para trabalhar como garçom. Um dia ela chegou e me disse – ‘vai tomar um café da manhã no Copacabana Palace, para aprender umas coisas!’. Eu dei risada. ‘Eu no Copocabana Palace?’. Mas ela estava falando bem sério, eu fui, e acabei aprendendo que qualquer pessoa pode aprender a fazer qualquer coisa. Depois disso, entrei na cozinha e me soltei, e deu no que deu."

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Teresa Urban, jornalista

"Foi o [jornalista] Aroldo Murá. Eu fui presa política e ninguém me dava emprego depois que eu saí da cadeia, por volta de 1975. Tinha colega que atravessava a rua para não falar comigo. Mas o Aroldo, que era diretor de redação da Voz do Paraná, resolveu pagar para ver. Havia uma resistência por parte do dono do jornal, ele próprio não é de esquerda, mas naquele momento foi absolutamente profissional. Estava precisando de repórter, achou que eu preenchia as qualificações e me contratou. E foi muito importante, porque a Voz do Paraná era um semanário ousado, que dava muito crédito às grandes reportagens. A partir daí eu comecei a aparecer na profissão. Tanto que depois eu sempre me empenhei muito em trazer gente jovem nos lugares onde trabalhei. Aprendi que não é a idade, posição política, proximidade de pontos de vista e objetivos que fazem o bom profissional, mas a paixão necessária para ser jornalista."

Euclides Cardoso, radialista

"Quem me ajudou no meu primeiro emprego foi um senhor chamado Antônio Souza, cobrador da Rádio Guairacá em 1950. Ele era meu vizinho e contou que ia abrir uma vaga na portaria da emissora. Chegando lá, eu fui atendido pelo Ivan Jorge Curi, excelente locutor, que me aplicou um teste de datilografia. Eu passei e comecei a trabalhar na portaria e desde então respiro rádio. Naquele tempo o porteiro às vezes tinha que dar algumas notas, anúncios, pedidos de celebração de missas e aniversários no ar, ou seja, precisava ter um certo traquejo. Depois surgiu uma vaga na discoteca, mais tarde na produção, e num segundo momento eu já estava no rádio teatro e assim por diante."

Carlos Dalla Stella, escritor e desenhista

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"Conheci o [escritor e professor] Paulo Venturelli na minha adolescência, em 1979, quando fazia teatro no Guaíra. Ele foi de uma sensibilidade muito grande, me fez conhecer uma série de escritores e poetas, e eu passei a ler muito. Lia entre 30 e 40 livros de poesia por mês e escrevia outro tanto. Eu visitava o Paulo e levava entre 100 e 200 poemas, e ele lia todos incansavelmente. E o engraçado é que depois eu acabei queimando tudo, porque eram muito ruins. Nas artes plásticas foi o Poty Lazzarotto, que eu conheci mais tarde, entre 89 e 90. Em 1988, vi uma exposição dele no Espaço IBM e fiquei muito impressionado com um vídeo em que ele cortava placas de isopor com uma faca enorme. Depois ele também viu os meus trabalhos um a um e disse que eu tinha personalidade. Enquanto a relação com o Paulo Venturelli era mais na linha professor e aluno, o Poty permitia que eu entrasse no dia-a-dia dele: eu vasculhava uma sala onde ele guardava ilustrações inéditas, abria a geladeira para dar iogurte para o meu filho... mas são dois exemplos de postura ética no trabalho artístico."

Denize Araújo, professora e PhD em Cinema

"Quem me abriu a primeira porta na carreira foi o professor doutor David William Foster, que eu conheci quando estava na UFPR. Ele me indicou para fazer o mestrado em Cinema na Arizona State University, com o professor Nicholas Salerno, que orientou a minha dissertação sobre Woody Allen. Com ele aprendi a fazer pesquisa, o que me inspirou a continuar meus estudos e me dedicar à carreira acadêmica. Devo muito também aos orientadores de minha tese de PhD, Marguerite Waller e Zhang Longxi."

Gilberto Campos Lavras, o Giba, professor de Química

"Aprendi muito com aquele que foi considerado o melhor professor de Química do Brasil, Geraldo Camargo de Carvalho, diretor-geral e supervisor da disciplina no curso Anglo de São Paulo. Eu ainda estava na faculdade, tinha 22 ou 23 anos. Ele falou que eu tinha o dom da didática e me prometeu passar todos os conhecimentos. Convivi com ele durante dez anos. Nesse período conheci 110 professores no Anglo e assisti às aulas de todos eles. Mas o professor Geraldo Camargo acreditou tanto em mim que me largou na turma dos alunos que estavam tentando entrar no ITA [Instituto Tecnológico da Aeronáutica, a mais conceituada escola de tecnologia do Brasil]. Com ele eu aprendi a ter humildade, que o conhecimento adquirido não é nosso e temos a obrigação de passá-lo adiante."

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Giovanni Loddo, diretor-geral do Hospital de Clínicas da UFPR

"No meu caso foram os professores Marco Aurélio Cravo e Afonso Coelho, da disciplina de anatomia patológica do curso de Medicina da UFPR. Eles tinham um carisma extraordinário e me deram a oportunidade de trabalhar no setor, inicialmente como voluntário. O doutor Marco Aurélio mais tarde me convidou para associar-me a ele no seu laboratório privado. Foi um vínculo decisivo, que me orientou para a docência e também para ocupar cargos dentro da estrutura do hospital. A disciplina deles era muito organizada, nos acolhia muito bem e esses professores sempre tiveram muita sensibilidade para perceber quem tinha um potencial determinado e procuravam estimular. Com eles aprendi algumas coisas que não estão nos livros, como a percepção de que somos passageiros e de que devemos dar oportunidade aos que vêm depois. Porque tem gente que quando chega no topo começa a tentar impedir que outros cresçam à sua volta, para não fazer sombra. Se você for bom, competente e esforçado, não precisa ter medo de ninguém."