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Depois daquele cinema, você (e mais dezenas de pessoas) pega uma fila para pagar pelas horas em que deixou o carro no shopping, já na boca do estacionamento. Depois, como estão todos saindo ao mesmo tempo, você ainda tem de enfrentar um pequeno congestionamento. E surge uma dorzinha de cabeça, que você não sabe de onde vem. Não é princípio de gripe, não é fome e nem tem a ver com a qualidade do filme: é o estacionamento do shopping que está lhe fazendo mal.

O biólogo Marcelo Buzzi, gerente técnico em Análises Químicas do laboratório Frischmann Aisengart, conta que os gases do escapamento dos carros nesses locais podem causar intoxicação, especialmente o monóxido de carbono. "Na média, quem permanece por cerca de 20 minutos em um estacionamento fechado, com circulação de veículos, já começa a apresentar sintomas leves, como dor de cabeça, sonolência e irritação nos olhos. Claro que isso pode variar dependendo da pessoa e do ambiente", explica o pesquisador.

Buzzi explica que o laboratório, a pedido dos próprios shoppings, realizou medições dos níveis de gases nocivos nos estacionamentos. "Dos dez que vistoriamos ao longo de dois anos, cerca de um terço apresentava quantidades acima dos limites máximos permitidos", diz, acrescentando que, por razões éticas, não pode contar quais foram os estabelecimentos onde havia problemas.

Para o biólogo, o essencial nesses ambientes é a exaustão do ar. "Quando o estacionamento fica nos andares superiores, é mais fácil criar aberturas por onde o ar circula. Se for subterrâneo, é preciso um sistema realmente eficiente", diz. O supervisor de ar-condicionado do Shopping Crystal Plaza, José Corassari de Lima, explica que, em cada um dos quatro pisos da garagem, todos no subsolo, existem quatro saídas de ar que vão até o telhado do prédio. O ar de fora entra no estacionamento principalmente pelo acesso dos automóveis.

Se um cliente já pode apresentar sintomas leves depois de um tempo na garagem, os funcionários que trabalham nos estacionamentos e precisam passar horas nesse ambiente têm muito mais chance de desenvolver problemas. A reportagem da Gazeta do Povo visitou shoppings e conversou com vários funcionários. Nenhum deles quis se identificar.

"A diferença é brutal, principalmente por causa da fumaça dos carros", define um funcionário de lavagem a seco de automóveis. Ele, no entanto, diz não ter tido nenhum problema de saúde por passar 8 horas diárias dentro do estacionamento, mas conhece um colega que chegou a pedir para mudar de local de trabalho por causa do ar carregado. Outros profissionais, entre orientadores de tráfego e caixas, também negaram transtornos por causa do ar. "Estou aqui há três anos, realmente existe uma diferença, mas nunca me aconteceu nada", afirma um deles.

Mas uma caixa de estacionamento reclama das condições do ar em seu local de trabalho. "No verão, isso aqui fica insuportável, tem até cheiro de combustível", conta. Ela trabalha 8 horas diárias, com intervalos. "Depois de algum tempo, chego a ficar rouca, e às vezes tenho dor de cabeça e irritação nos olhos. Nada disso acontece quando estou de folga, então acho que tem a ver com o lugar", arrisca.

Trabalhando há quase um ano no shopping, um orientador de tráfego diz ter dificuldades para respirar dentro do estacionamento. "Nos dias de maior movimento, como sábado e domingo, basta entrar na garagem para perceber a diferença. Tem até cliente que reclama", conta. A dor de cabeça continua por um tempo, mesmo depois que ele sai do trabalho, embora não tenha os sintomas todos os dias. "Quando não venho aqui me sinto bem melhor", resume.

A tesoureira do Crystal, Marilene Silva Franco, conta que os funcionários fazem exames de sangue semestrais para detectar, entre outras coisas, intoxicação por monóxido de carbono, e nunca foram detectados problemas. Segundo a gerente de marketing do shopping, Lylian Vargas, a última medição realizada no estacionamento detectou índices 30% menores que o limite máximo de monóxido de carbono estabelecido pelo Ministério do Trabalho. O Shopping Curitiba também afirmou ter laudos positivos emitidos tanto pelo Corpo de Bombeiros quanto pelo Programa de Prevenção de Riscos Ambientais.

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