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Há 32 anos, quando o arquiteto Key Imaguire Júnior iniciou a sua carreira de professor de Arquitetura Brasileira, na UFPR, deu-se conta de que havia muito pouco material publicado sobre o Paraná. Tinha duas opções – pular essa parte ou escrevê-la. Optou pela segunda. Como já era andarilho convicto (nunca teve um automóvel), fez de suas caminhadas uma boa ocasião para registrar estilos construtivos. Além de se tornar uma referência na arquitetura eclética, surgida na transição do século 19 para o 20, virou um pioneiro no estudo das casas de madeira de Curitiba.

Só nas Mercês contou 120 legítimos exemplares do tempo em que Curitiba era uma ilha cercada de casas de madeira por todos os lados. Muitas delas não viu duas vezes. Key calcula ter sabido de pelo menos dez incêndios. Sem falar no espírito predador do setor imobiliário: onde tem casinha, pinheiro, jardim e horta cabe um prédio. Outra proeza, no início da década de 90, foi classificá-las por estilo, num trabalho em parceria com sua mulher, a arquiteta Marialba Imaguire. O estudo é uma certidão de nascimento das residências. As casas de araucária são luso-brasileiras, de imigração, com chanfro, modernistas, armazéns – como o Santana, no Uberaba.

No início dos anos 2000, quando a prefeitura decidiu criar a Vila da Madeira – um espaço no Parque Atuba capaz de abrigar pelo menos 60 casas antes que o fogo ou o desmanche as leve –, chamou Key para ajudar. Os técnicos pediram 50 sugestões. Ele apresentou 100, principalmente das Mercês, Pilarzinho, Umbará e Água Verde. Apenas uma chegou à Vila da Madeira – um exemplar de 1947. "A discussão agora é que uso dar às casas, o que envolve vários agentes da prefeitura. Sem atividade esses espaços não podem ficar."

Menos otimista que Key, a arquiteta Dóris Teixeira, diretora de Patrimônio do Ippuc, acha que se a vila chegar a dez casas é motivo de festa. Trata-se de uma operação de guerra. "A prefeitura não tem como sair comprando casas de madeira a cada vez que elas são colocadas à venda, primeiro sinal de que vão ser desmanchadas." O regime é de doação. Além disso, nem sempre o salvamento vale a pena. Muitas residências precisam de mais de 40% de reposição de peças, o que torna o negócio inviável.

Em paralelo ao projeto da Vila, o Ippuc tem 20 casas de madeira cadastradas como Unidades de Interesse de Preservação (UIPs). A equipe do Ippuc também visita os estabelecimentos, conversa com os proprietários, que podem conseguir reduções do IPTU de até 100% e troca de potencial construtivo.

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