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Kate Sthor e Cameron Sinclair fundaram a Architecture for Humanity solidarizados com os refugiados de Kosovo | Ian White/Divulgação
Kate Sthor e Cameron Sinclair fundaram a Architecture for Humanity solidarizados com os refugiados de Kosovo| Foto: Ian White/Divulgação

Trabalho conjunto

Confira como a AFH funciona e como você pode ajudar:

- Clientes: comunidades, entidades sociais, cidades e até mesmo países que precisem do auxílio da arquitetura.

- Investidores: doações de quem quiser ajudar – pessoas físicas e jurídicas do mundo todo e fundos internacionais.

- Profissionais: são mais de 40 mil, entre arquitetos e designers, principalmente. Participam através de trabalhos voluntários em que representam efetivamente a AFH ou competem, enviando propostas para algum projeto específico requisitado pelo site Open Architecture Network.

- Contato: sendo arquiteto ou não, qualquer um pode participar das ações da AFH. O primeiro passo é acessar o site.

Comunidade resgatada pelo futebol

Um dos projetos mais criativos da rede de solidariedade Archi­­tecture for Humanity (AFH), segundo a fundadora do grupo Kate Sthor, foi conduzido no Brasil – no bairro Santa Cruz, na Região Oeste do Rio de Janeiro. A ideia surgiu no ano passado, a partir de um evento esportivo realizado na comunidade por uma organização não governamental (ONG) irlandesa, com o apoio da Nike.

Além de construir uma quadra para competições que buscam resgatar pessoas das ruas por meio da força do esporte, o objetivo da Homeless World Cup (HWC ou Copa do Mundo dos Sem Teto, em português) era deixar um legado que fosse usado mais tarde pela comunidade local com o mesmo propósito: resgate e convívio social.

O Instituto Bola pra Frente, parceiro da Nike e que já conduzia um trabalho de contra turno escolar com atividades esportivas e culturais no bairro de Guadalupe, ofereceu um terreno em Santa Cruz, onde o mesmo tipo de ação pudesse ser encampada após a competição.

O projeto de construção da quadra surgiu a partir de um concurso da AFH. Os ganhadores, entre centenas de participantes, foram os arquitetos cariocas Thorsthen Nolte e Nanda Eskes. O colombiano Daniel Feldman, que ficou em segundo, foi incumbido de ser os "olhos e ouvidos" da AFH na comunidade. Enquanto Nolte e Nanda trabalhavam no projeto, Feldman morou seis meses com a comunidade, ajudando a fazer a ponte entre o que o povo queria e o que os arquitetos projetavam nas telas do computador.

As pessoas manifestaram suas ideias fazendo pequenas listinhas e desenhos. "Foi interessante ver, dia após dia, como eu passei de estrangeiro, que dizia que ia fazer um trabalho, para realmente um membro ativo da comunidade." Feldman captou bem a atmosfera da comunidade e foi paciente para ir contra a maré. Ele diz que as pessoas estavam acostumadas a ser ludibriadas, principalmente durante anos eleitorais. "À medida que tudo foi acontecendo eu também fui sendo aceito e até convidado a visitar as casas da comunidade."

Nanda partilha do sentimento de gratidão de Feldman, que hoje é embaixador da AFH para a Colômbia e a região do Andes. "Arquitetura também é cultura e o nosso projeto, um legado." A obra foi inaugurada em outubro do ano passado e virou o quintal das casas dos meninos e meninas de Santa Cruz. A previsão é de que o espaço, que ainda deve ter mais um prédio construído, atenda até 800 crianças e adolescentes, entre 6 e 17 anos de idade. (FZM)

  • Anseios da comunidade de Santa Cruz, no Rio, chegaram por bilhetes e desenhos
  • As ideias foram transformadas em um projeto concreto a ser executado
  • O espaço foi inaugurado em outubro de 2010 para um campeonato de futebol

Fazer a ponte entre quem sabe projetar e construir e quem mais precisa de um espaço para sobreviver ou compartilhar com a comunidade. Esse é o papel da Architecture for Humanity (AFH ou Arquitetura para a Humanidade, em português), firma sem fins lucrativos, com sede em São Francisco, nos Estados Unidos. Criada pelos arquitetos Cameron Sinclair e Kate Sthor em 1999, a AFH é hoje responsável por ajudar, todos os anos, uma média de 10 mil pessoas em situações difíceis, como refugiados e vítimas de grandes desastres naturais.Neste mês, um dia após o terremoto de 8,9 graus na escala Richter que atingiu o Japão e o tsunami que varreu a cidade litorânea de Sendai, a AFH já tinha uma equipe e uma campanha aberta para doações com o objetivo de construir um primeiro centro comunitário para ser o ponto de partida da reconstrução da cidade. O grupo também teve atuações importantes em outros desastres, como o do furacão Katrina, em Nova Orleans, nos Estados Unidos, em 2005, e o terremoto que atingiu o Haiti, em 2010.

A ideia de Sinclair e Kate surgiu após verem um vídeo sobre a situação dos refugiados da Guerra do Kosovo – ex-território da Iugoslávia atacado em 1999 pela Otan, palco de conflitos entre guerrilhas albanesas e forças sérvias que deram origem a mais de 70 mil refugiados. Sem casa e com a proximidade do in­­­verno, o que essas pessoas mais precisavam era de um abrigo. Sinclair imaginou que seria uma oportunidade perfeita para a ajuda de arquitetos. O casal lançou, então, um concurso de design de abrigos para as vítimas em Kosovo e se surpreendeu com a resposta. Em poucas semanas, o pequeno apartamento em que moravam ficou cheio de pranchetas vindas de vários lugares do mundo, com propostas de edificações feitas de borracha reciclada até tendas infláveis.

De lá para cá, a AFH faz, em média, um grande concurso anu­­­al nesse sentido, sempre com comunidades, organizações não governamentais (ONGs) e outras configurações humanitárias como clientes. Os investidores? Pessoas, empresas e bancos ao redor do mundo que resolvem doar dinheiro para os projetos. No caso do último projeto feito no Brasil, na comunidade do bairro Santa Cruz, no Rio de Janeiro, quem colaborou com a ideia foi a ONG brasileira Instituto Bola pra Frente e o braço social da Nike (saiba mais nesta página).

Primeiro alvo

No atendimento humanitário, os centros comunitários são o primeiro alvo da AFH porque são o espaço de reorganização da comunidade – das necessidades básicas de higiene e alimentação às bases mais duradouras, como a retomada da educação de crianças e adolescentes de uma vila.

Outra característica interessante do trabalho da AFH é a sustentabilidade. Quando se trabalha com comunidades em que o ganha-pão diário é de menos de R$ 1, ser sustentável não é só uma questão de moda ou de ser politicamente correto, mas uma necessidade. Por isso, a maior parte dos projetos preza por soluções verdes nas construções – como o melhor aproveitamento possível da ventilação e luminosidade naturais e o reuso da água da chuva –, que devem ser possíveis e adequadas à comunidade. Para exemplificar a criatividade e o ideal ecológico em torno dos projetos da AFH, Kate cita uma escola que foi construída nas Filipinas com esforço local, pouquíssimo dinheiro e garrafas plásticas.

O "exército"

A rede de mais de 40 mil arquitetos, designers e outros profissionais garante um potencial de criatividade e respeito às diferenças culturais. Além da sede em São Francisco, são mantidas "bases" em 25 países, mas a vontade de viajar até onde for necessário vence qualquer obstáculo. "Nós gostamos do desafio do trabalho. É algo que necessita de tantas peças – dinheiro, documentos legais, suporte da comunidade, liderança – para trazer qualquer projeto à vida. Então, quando realmente acontece, é incrível observar a transformação da comunidade", afirma Kate.

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