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Fosse feita uma conta de dividir, o problema da adoção em Curitiba estaria zerado. Há cerca de mil crianças e adolescentes abrigados na cidade, estando 280, aproximadamente, com a malinha pronta para a adoção. O número de pretendentes beira os 600. Mesmo assim, a fila não anda. O bebê de zero a 6 meses que as famílias tanto procuram já está bem grandinho, o que faz com que acabem indo para a adoção internacional, na qual os pais não fazem tanta exigência. "Os estrangeiros são mais abertos e aceitam a condição de adotar mais de uma criança quando há irmãos", explica a promotora de Justiça Michele Rocio Maia Zardo, da Vara da Infância e Juventude-Adoção.

Os números impressionam. De 1989 a 2006, foram 857 adoções de crianças paranaenses. Como muitos processos inclui irmãos, a conta chega a 1.295 crianças – 85 apenas em 2006. O processo é mediado pela Ceja (Comissão Estadual Judiciária de Adoção), uma espécie de cadastro de adotáveis, cujo trabalho é considerado modelar no Brasil e fora dele. Os países que mais se inscrevem no programa paranaense são Itália (31 crianças em 2005), Estados Unidos (28 crianças) e Holanda (15 crianças). Ao todo, ano passado, o Ceja encaminhou para o exterior 29 crianças de 4 a 7 anos e 26 de 8 a 11 anos, além de um adolescente de mais de 15 anos. Ou seja – todos da margem de rejeição das famílias brasileiras.

A Ceja segue a lógica da exclusão – a adoção por estrangeiros é praticada quando outras formas foram tentadas, sem sucesso, incluindo a modalidade brasileiros que moram no estrangeiro. Hoje, há 200 casais estrangeiros para 505 candidatos, todos acima de 9-10 anos de idade e com grupos de até sete irmãos. "Dificilmente, uma criança rejeita pais vindos de outros países. Lembro de apenas um. Esperar é muito doloroso." E tem a vantagem de que são bastante preparados. Na Holanda, o acompanhamento dos pais dura nove meses", diz a veterana Jane Pereira Prestes, 63 anos, coordenadora da Ceja que desde 1968 trabalha no campo da adoção.

Entusiasmo

Fosse contada a história da adoção no país, a pena teria de passar por Jane. Seu entusiasmo pelo tema é quase juvenil, à revelia das quatro décadas de documentação e torcida para que tudo dê certo para quem parte. "Melhorou muito tecnicamente. Mas concordo que a demora nos abrigos incomoda. A indefinição dos pais rouba oportunidade das crianças. É muito doloroso", fecha ela, não sem antes puxar uma história arrebatadora da manga. Era uma vez duas irmãs, separadas ainda crianças e abrigadas. A primeira foi adotada por uma família americana. A segunda – portadora do vírus HIV – permaneceu na casa-lar. Quando se descobriu o parentesco, os pais ficaram sabendo, nos EUA, e a adotaram também. "Estão lindas, saudáveis e juntas", festeja a "Jane do Ceja".

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