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Em setembro de 2006, tive a oportunidade única, o privilégio, de mediar uma edição do Paiol Literário, evento promovido pelo jornal Rascunho em parceria com a Fundação Cultural de Curitiba e o Sesi-PR, que teve como convidado o bibliófilo José Mindlin, então aos 92 anos. Ele havia sido recentemente eleito para a Academia Brasileira de Letras e, durante mais de duas horas, falou com vigor e lucidez sobre seu amor incondicional pelos livros, paixão que o levou a formar uma das maiores bibliotecas particulares do mundo. Também contou sobre como tomou gosto pela leitura e as amizades que fez por conta dessa doce obsessão pela palavra escrita.

Leia abaixo alguns trechos do discurso de Mindlin durante o Paiol Literário, onde o empresário respondeu a perguntas feitas pelo mediador e pelo público que encheu o Teatro Paiol. A conversa, transcrita pelo jornal literário Rascunho, pode ser lida na íntegra no site http://rascunho.rpc.com.br

A transformação pelo livro

Antes do livro, eu não era nada. Quem não lê não sabe o que está perdendo. Porque, realmente, a leitura abre os horizontes da pessoa.

A leitura afetiva

Minha mãe tinha uma paciência extraordinária para me ouvir lendo coisas que me interessavam e que a ela, na realidade, provavelmente interessavam muito pouco. Mas isso estabeleceu um contato pessoal muito afetivo, muito significativo para mim.

Vírus inoculado

Aos 13 anos, fiquei fascinado, em um sebo, por uma edição portuguesa do Discurso sobre a História Universal, de Bossuet, uma tradução publicada em Coimbra, em 1740. Imagine um livro com 200 anos de idade! Depois, aprendi que a idade do livro é um fator muito pouco relevante. Ser antigo não quer dizer que seja bom. Mas, ali, foi inoculado o vírus do amor ao livro raro.

Jornalismo

Terminei o ginásio sem ter idade para entrar na faculdade de Direito. E disse a meu pai que queria trabalhar. Ele disse: "Mas para fazer o quê?". Eu disse: "Qualquer coisa". Meu pai disse: "Tá bom, vou ver o que é que eu consigo". Uns dias depois, ele chega em casa e me diz: Um amigo, importador de frutas, precisa de alguém para controlar a entrada dos caminhões no Mercado Central." Uma coisa nada sedutora, naturalmente. Mas como eu tinha dito que faria qualquer coisa, eu disse: "Tá bom, vamos em frente". Aí o meu pai disse: "Estou brincando. Você vai entrar na redação do Estado de S. Paulo". Eu tinha 15 anos.

Ler durante as aulas

Sentava no fundo da sala e ficava lendo outras obras. Li mais coisas literárias na Faculdade de Direito do que jurídicas. As jurídicas eu lia em casa.

Carreira

Advoguei até 1950, quando, por acaso, virei empresário. Alguns clientes meus tinham planos de fazer uma indústria e surgiram obstáculos. Eu entrei no assunto, consegui resolver as dificuldades e virei empresário.

Guita Mindlin

Um dia, cheguei no pátio da faculdade e vi uma moça cercada de rapazes convidando-a para entrar em um dos partidos acadêmicos. "Entre para o Partido Libertador." "Entre para o Partido Liberal." E eu olhei para aquela moça, que eu estava vendo pela primeira vez, e disse: "Tudo isso é bobagem. Se você quer um bom partido, está aqui". Ela me tomou a sério.

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