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McCarthy: autor de "A Estrada" vendeu a máquina de escrever que comprou em 1963 por 50 dólares. | Divulgação
McCarthy: autor de "A Estrada" vendeu a máquina de escrever que comprou em 1963 por 50 dólares.| Foto: Divulgação

Ele tem sob sua direção 210 funcionários. Maneja um orçamento anual de R$ 3 milhões. Tem três cargos ao mesmo tempo: dependendo de onde esteja, pode ser chamado de diretor, superintendente ou conselheiro. O discurso é recheado de expressões como profissionalismo, empreendedorismo. Agora, quer abrir uma faculdade. A descrição parece a de um empresário. Mas não é. Trata-se de um padre.

José Aparecido Pinto começou na vida religiosa como frade. Viveu num seminário de dominicanos até os 41 anos de idade. Oito anos atrás, porém, descobriu que sua verdadeira vocação era outra. Tinha acabado de sair do seminário e havia sido transferido para a paróquia Nossa Senhora Rainha da Paz. A comunidade ao redor, na Borda do Campo, em São José dos Pinhais, era carente de muita coisa. Inclusive de liderança. E foi aí que o espírito de luta do padre começou a aparecer.

"Eu sempre fui líder comunitária aqui na região", conta Rosali Santos, a Rose, moradora da Borda do Campo desde bem antes de a Renault e o padre José Aparecido chegarem por lá. "Mas a gente via as barreiras e achava que não conseguia passar. Até o padre vir para cá", conta ela. Em seus anos de Borda do Campo, o padre construiu um legado que, nas palavras de Rosali, "nenhum político teria como deixar".

O primeiro passo foi fazer parceria com uma pequena fundação local, fundada duas décadas antes por monges beneditinos. A Fundação Educacional Itaqui tocava algumas escolas e creches na região. "Usamos a estrutura legal deles para começar o nosso trabalho", conta hoje o padre José. Com a documentação da ONG na mão, conseguiu repasses de recursos para instalar algumas benfeitorias importantes. Levou para lá, por exemplo, cinco cozinhas comunitárias. Hoje, mais de 1,2 mil crianças almoçam de graça nas cozinhas diariamente.

Notícia melhor? Duas das cozinhas já fecharam. Isso porque além de dar a assistência social imediata, a organização montada pelo padre também deu oportunidade de emprego e melhoria de vida. Foram criadas duas panificadoras comunitárias, por exemplo, onde as mães passaram a trabalhar e se sustentar por conta própria. Com dinheiro, não precisaram mais da comida gratuita. E o peixe dado de graça foi substituído pela proverbial vara de pescar.

A experiência da Borda do Campo chamou a atenção para o padre. Ainda como pároco, ele foi chamado para ser integrante do Conselho de Segurança Alimentar do estado, o Consea. E continuou recebendo convites. Foram tantos – e todos aceitos – que hoje é difícil dizer qual é a sua função principal. A Fundação Itaqui foi convidada a assumir o Asilo São Vicente de Paulo. E lá foi o padre ser superintendente da instituição, que tem 163 internas. Depois foi a vez da Ação Social do Paraná: a Diocese de Curitiba precisava de um coordenador para seu braço social. E padre José acumulou a função.

Parece muito? Tem mais. No ano passado, o capelão dos três poderes paranaenses morreu. Um doce para adivinhar quem foi convidado para assumir o posto. Lá está hoje o padre José, rezando missas para governador, deputados e desembargadores. "Tem de respeitar a agenda para dar tudo certo", diz o padre, com um sorriso, explicando como dá conta de tudo. "Quando você conhece o padre, dá impressão que ele está inventando moda demais, que tudo aquilo não pode dar certo. Mas dá", diz o braço direito do padre na Ação Social, Luciano Planca.

Num dia comum, padre José divide a maior parte do tempo entre a Ação Social e o asilo. Na Ação Social, o tempo ainda tem de ser subdividido várias vezes. A ONG católica cuida de creches, escolas, Casas da Família, que cadastram pessoas em programas sociais, e ainda é uma das maiores distribuidoras de alimentos do estado. Com dinheiro do governo federal, são adquiridos produtos de pequenos agricultores. Depois de organizados, eles vão direto para 280 instituições de todo o Paraná.

Para os próximos tempos, padre José está inventando mais moda ainda. Mês que vem, assina o convênio para a criação de um restaurante popular que vai servir 2 mil refeições por dia na Praça Rui Barbosa, em Curitiba. Será em parceria com a prefeitura e o Ministério do Desenvolvimento Social. E, mais para a frente, quer criar uma faculdade. "Precisamos de gente especializada para cuidar dos idosos. E hoje temos poucos cuidadores com a formação adequada", diz ele. Se tudo der certo, o curso de ensino superior se tornará realidade em breve. E por que não seria possível? Afinal, se padre José está dizendo que vai acontecer, é bom acreditar.

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