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Dois tipos de pedras dividem espaço na rua São Francisco, no Centro de Curitiba: as da antiga pavimentação, que recordam o tempo áureo da rua, e as de crack, que indicam o atual período negro do lugar. "Essa é a ‘Cracolândia’ curitibana", diz Clayton Mansur Karam, comerciante há 42 anos no local, fazendo referência à região dominada pelo crack na cidade de São Paulo. A comparação do comerciante, ainda que guardadas as devidas proporções, faz sentido. Com um pouco de atenção, é fácil perceber o comércio e o consumo da droga, à luz do dia. A vendedora Elisângela Bernardes trabalha na rua há um ano e oito meses, mas já sabe o que acontece por lá. "Eles vendem, compram e usam crack na nossa frente, na cara dura. A gente vê de tudo por aqui", diz ela.

Além do drama com as drogas, a Rua São Francisco, uma das primeiras de Curitiba, vive outro problema – esse, tão antigo quanto a própria rua: a prostituição. É bem verdade que os hotéis de alta rotatividade estão rareando por lá e, com eles, as garotas de programa. O Hotel Palácio, que gerava mais reclamações dos comerciantes, foi fechado. "Aquilo era um antro. Além da prostituição, o lugar era a principal ‘boca’ da rua", diz o proprietário da loja de máquinas de costura vizinha ao hotel, Rauli Chiarello. Agora, apenas um hotel ainda funciona em um prédio velho. O lugar é identificado pelas garotas sentadas em frente. "O programa custa R$ 30 e meia hora no hotel é R$ 5", diz Fernanda, que se prostitui na Rua São Francisco há oito meses e reclama do fluxo de clientes. "A situação está feia", diz.

Queixas

Os comerciantes também se queixam do movimento. Valentin Vazquez, proprietário do tradicional Restaurante São Francisco – há 51 anos no mesmo endereço –, diz que as coisas pioraram nos últimos tempos. "O movimento caiu uns 50%. Pode contar o número de portas fechadas. Porta que fecha não abre mais", lamenta-se. Ele se recorda com nostalgia da rua de décadas atrás. "Era outro ambiente. Os antigos comerciantes e moradores foram quase todos embora. Hoje, sou um dos últimos sobreviventes por aqui", comenta. Outro dono de restaurante, Valter Lengler, há cerca de 20 anos no n.º 134, diz que, em 1987, quando comprou o ponto comercial, o lugar era concorrido. "Os pontos eram disputados e vendidos em dólar. Hoje só tem porta fechando."

Para tentar recuperar a rua e a boa freguesia está sendo criada a Associação de Moradores, Comerciantes e Amigos da Rua São Francisco. Quem está à frente da entidade é o administrador Cláudio Franco, dono de imóvel no logradouro há cinco anos. "Estamos unindo as pessoas de bem da rua. Temos que fazer algo. A gente vive ligando para os órgãos públicos reclamando da situação, mas nada acontece. A polícia vem e fecha um bar que funciona como ponto de venda de drogas mas, no dia seguinte, o negócio está aberto de novo", indigna-se ele.

O 12.º Batalhão de Polícia Militar, que atende à região, informa ter apreendido este ano, até o início de abril, 978 pedras de crack nas imediações da São Francisco. Já o superintendente da Delegacia Antitóxicos, Nelson Bastos, diz que 35 suspeitos estão sendo investigados e nove pessoas foram presas na rua, entre fevereiro e março. "Dessas nove, seis são mulheres. As garotas que antes só se prostituíam na Rua São Francisco agora também vendem drogas", conta Bastos.

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