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Quintais interditados para as crianças. As conversas no portão das casas, proibidas. Moradores e comerciantes apavorados. Este é o retrato do medo na Vila Casoni, em Londrina, no Norte do Paraná. O bairro, que já sofria com a violência, após o assassinato do pastor Erinaldo Lopes da Silva, 42 anos, dentro da Igreja Poço de Água, na noite da última sexta-feira, vive um misto de sentimento de abandono, indignação e medo.

Cleide dos Santos, 38 anos, dona de casa, mãe de duas meninas, é vizinha do pastor assassinado. Ela conta que já se sentia insegura com as ocorrências policiais no bairro, mas está completamente chocada com a morte de Erinaldo. E com medo de ficar dentro de sua própria residência. Com muros baixos e sem grades nas janelas, Cleide considera sua casa um alvo fácil.

Para se proteger, proibiu as crianças de brincarem no quintal e até mesmo de ficarem no quarto delas. "Não tem grade na janela é super fácil de alguém entrar. Não fico tranqüila se as meninas estão lá dentro", conta.

Angélica Raquel de Oliveira, 42 anos tem um bar no bairro e mudou sua rotina desde o assassinato do pastor. "Eu costumava ficar com o estabelecimento aberto até à meia-noite. Agora estou fechando às sete horas da noite. Ganho menos, mas o medo de ser assaltada é maior", afirma.

Eliane Santos Silva, 24 anos, está apavorada não apenas com o assassinato do pastor. Ela mesma, no dia do crime que chocou a Vila Casoni, foi vítima, a poucos quarteirões, de um assalto. Um homem armado entrou no escritório onde ela trabalha. Eliane foi amarrada e trancada dentro do banheiro enquanto o ladrão agia. "Foi horrível estou apavorada, traumatizada mesmo", afirma.

Alguns moradores e comerciantes estão com tanto medo que se recusam a se identificar, mas têm muitas histórias sobre a violência no bairro. Um deles não fica dentro do seu estabelecimento. Está sempre na porta. Ele já foi assaltado várias vezes e já ficou na mira de um revólver. Está apavorado, mas tem que continuar a trabalhar.

O medo atormenta também mãe e filha que vivem há anos na Vila Casoni. Dar seus nomes, nem pensar. "É arriscado. Vão saber quem a gente é", afirma a filha que teme também por seus filhos já adultos que saem a noite para estudar, trabalhar ou passear. "Fico no portão esperando chegar, ou vendo sair".

Morte do pai é "resultado de uma sociedade injusta"

Na casa do pastor Erinaldo Lopes da Silva, o clima é de muita dor. Apesar disso, o filho mais velho, Jonatas Lopes da Silva, 20 anos, afirma que morte de seu pai é uma semente que poderá germinar e dar muitos frutos. Ele acredita que a morte do pai servirá para que o poder público implemente medidas contra a violência não só no bairro, mas em toda cidade. "Não tenho raiva do homem que fez isso. A justiça de Deus se fará na vida dele", afirma. "Este homem e o que ele fez é o resultado de uma sociedade injusta, com tanta corrupção e tanta gente milionária roubando do povo", afirma.

Por uma trágica ironia, o pastor foi assassinado quando, junto com outros fiéis, fazia uma vigília pela segurança do bairro. Há dois meses, eles oravam para diminuir a violência, conta a secretária da igreja, Silvana Gouvêa. Depois de orarem dentro da igreja, o pastor e os fiéis caminhavam pelas ruas do bairro rezando pela paz.

A resposta do filho do pastor, da secretária e dos fiéis a esta ironia é simples: "Vamos continuar a vigília. Nada vai mudar na rotina da igreja", afirma Jonatas.

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