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Salpicado de falhas, o inquérito policial resultante da investigação da morte do delegado Leonidas Kuzma é um exemplo de como se joga um homicídio no limbo dos crimes insolúveis. Ele foi morto com um tiro durante assalto às 4h30 de 16 de fevereiro de 2006, no bairro Xaxim, em Curitiba. A polícia prendeu dois suspeitos no mesmo dia e um terceiro no dia 24 de maio. Diante das cobranças do filho da vítima, vereador Tico Kuzma, o secretário de Segurança Pública (Sesp), Luiz Fernando Delazari, deu o caso por encerrado. Mas o caso está mesmo encerrado?

Tico Kuzma tem razões de sobra para duvidar da investigação. Jefferson de Lara e Márcio de Lima da Silva foram presos horas depois do crime. Maximiliano de Oliveira foi pego três meses depois. O problema é que nenhum foi indiciado por participação no assassinato do delegado. Jefferson foi condenado a dois anos de prisão em regime semi-aberto por porte ilegal de arma, Márcio na verdade era fugitivo da Justiça e Maximiliano só está preso por ter sido pego num assalto a mão armada em maio, e ainda por ter apresentado identidade falsa.

Nenhum dos suspeitos foi reconhecido pelas testemunhas do crime, pondo em dúvidas a acusação que pesa sobre eles. Para Tico Kuzma, essa dúvida poderia ter sido esclarecida com alguns cuidados simples na montagem do inquérito. As impressões digitais recolhidas na caminhonete do delegado – levada pelos ladrões e largada pouco adiante por causa da trava de segurança – sequer foram anexadas ao processo. Falta grave, já que a caminhonete foi levada ao instituto de criminalística a pedido dos peritos exatamente para esta finalidade.

Outras falhas colocam este inquérito na fila do arquivamento. A polícia não apenas demorou para prender o terceiro suspeito como também deixou de interrogar testemunhas importantes. "Um dos acusados disse que no momento do crime havia saído para levar a mulher para o trabalho, mas cadê o depoimento dela?", reclama o vereador. " Ninguém foi responsabilizado pela morte", queixa-se o vereador. Ele não está sozinho no lamento. Se para um parlamentar é difícil esclarecer a morte do pai, imagine para a família de um rapaz de cidade pequena.

Há mais de uma década os familiares de Rodrigo Rafael Domingues da Silva buscam Justiça. Ele foi morto a tiros por três colegas dia 23 de janeiro de 1995, dentro de um bar de Campo Magro, região metropolitana de Curitiba. A primeira audiência só foi marcada para 12 anos depois. Seria dia 20 de novembro de 2006 no fórum de Almirante Tamandaré, mas um protesto na cidade forçou a transferência para 21 de fevereiro deste ano, justamente num feriado.

O tio da vítima, o porteiro de condomínio Reinaldo Domingues da Silva, não entende o motivo de tanta lentidão. Até agora nada aconteceu. Um dos acusados, João Nunes da Silva, até já morreu num acidente de caminhão. Os outros dois, Ivo Dias e Horácio Nunes da Silva (pai de João) continuam livres. Segundo Reinaldo, chegaram a sugerir para ele colocar um capuz na cabeça fazer o serviço por conta própria. "Não vou fazer isso, eu quero é justiça", diz. Ele só não quer esperar mais 12 anos. (MK)

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